Descrição de chapéu The New York Times

Teoria da conspiração QAnon encontra abrigo em rede social de Trump

Ex-presidente engaja mensagens de grupo banido de outras plataformas e que está ligado a invasão do Capitólio

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Tiffany Hsu
Nova York | The New York Times

Dezenas de contas que promovem a QAnon correram para a Truth Social neste ano depois de serem banidas por outras redes sociais e encontrarem apoio do criador da plataforma, o ex-presidente Donald Trump, segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira (29).

A NewsGuard, órgão de vigilância da mídia que analisa a credibilidade dos meios de comunicação, encontrou 88 usuários promovendo a teoria da conspiração na Truth Social —um para cada mais de 10 mil seguidores. Dessas contas, 32 tinham sido banidas do Twitter.

A plataforma bloqueou Trump por temer que ele pudesse voltar a incitar a violência após a invasão do Capitólio por seus apoiadores em 6 de janeiro de 2021, e o ex-presidente criou a Truth Social como alternativa em fevereiro de 2022. Na nova rede, ampliou o conteúdo de 30 contas da QAnon para seus mais de 3,9 milhões de seguidores, repostando mensagens 65 vezes desde abril, segundo o relatório.

Homem discursa em manifestação do grupo de teoria conspiratória QAnon em Washington - Tom Brenner - 11.set.19/The New York Times

"Aqui ele não é simplesmente o líder político Trump —é o proprietário da plataforma", diz Steven Brill, diretor da NewsGuard e fundador da revista The American Lawyer. "Seria o equivalente a Mark Zuckerberg republicar conteúdo conspiratório."

Milhões de seguidores da QAnon acreditam que um grupo imaginário de traficantes sexuais e liberais adoradores do diabo está controlando o governo e que Trump lidera a luta contra ele. As ideias estapafúrdias criaram raízes em alas do Partido Republicano, e o movimento do grupo foi visto pela polícia como potencial ameaça terrorista doméstica, ligada ao motim no Capitólio.

Empresas de tecnologia como Twitter, Facebook, YouTube e Twitch reprimiram o conteúdo da QAnon. "As outras plataformas tomaram medidas para lidar com esse e outros tipos de desinformação, mas na Truth Social está bem claro que não foi o caso", afirma Brill.

O Truth Social não é bem-vindo na loja de aplicativos do Google até que cumpra as regras sobre moderação de conteúdo, incluindo ameaças violentas, disse a empresa na quarta-feira (31).

A plataforma de Trump não respondeu a perguntas sobre o relatório da NewsGuard. Em um comunicado, se resumiu a dizer que "reabriu a internet e deu novamente voz ao povo americano".

Antes de ser banido do Twitter, o ex-presidente chegou a republicar mais de uma dúzia de postagens de contas que promovem a QAnon em uma única tarde em 2020. Logo depois, falando sobre os teóricos da conspiração, afirmou ter ouvido dizer que "essas são pessoas que amam nosso país".

Na Truth Social, um usuário com mais de 31 mil seguidores e três Qs em seu nome de perfil postou em maio uma imagem de Trump sentado num trono com uma coroa e um emblema Q atrás dele. O ex-presidente republicou a imagem.

Trump também amplificou mensagens que incluíam o slogan da QAnon WWG1WGA (onde vamos um, vamos todos) e que se referiam a uma "tempestade" —descrição das prisões em massa que os fiéis da QAnon acreditam que serão usadas para destruir o Estado profundo. Outras, segundo o relatório, incluíam um apelo à "guerra civil" e afirmações de que a eleição presidencial de 2020 foi um golpe —tese defendida até hoje por Trump, sempre sem provas, e já refutada pela Justiça.

O republicano também compartilhou mensagens pelo menos uma dúzia de vezes de uma conta que postou sobre a "tempestade" e sobre "uma guerra contra traficantes sexuais e pedófilos" para seus mais de 36 mil seguidores. Ricky Shiffer, um homem morto pela polícia neste mês depois de tentar invadir o escritório do FBI em Cincinnati, se envolveu com a mesma conta.

Das contas QAnon identificadas na Truth Social pela NewsGuard, 47 têm selos de verificação vermelhos, que a plataforma diz reservar para VIPs, por serem de "interesse público". O app da rede foi baixado 3 milhões de vezes nos EUA em sistemas iOS até o último dia 26 de agosto.

Executivos e apoiadores da Truth Social também interagiram com os apoiadores da QAnon na plataforma. Devin Nunes, republicano da Califórnia que renunciou ao Congresso após 19 anos para se tornar CEO da rede, regularmente marcou o perfil @Q e se engajou com ele. A conta, que tem mais de 218 mil seguidores, usou frases associadas à teoria da conspiração, como "confie no plano".

Trump se uniu à Digital World Acquisition para iniciar a Truth Social. O CEO da empresa, Patrick Orlando, também republicou bordões da QAnon para seus quase 10 mil seguidores, de acordo com o relatório —que um representante de Orlando descreveu como acusação falsa e difamatória.

"Orlando não segue nem dá atenção à QAnon", disse Adam L. Schwartz, por email. "E ele não tem ideia do que constitui os chamados ‘slogans comuns da QAnon’."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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