Eles distribuíram passaportes russos, números de celular e decodificadores para assistir à televisão russa. Substituíram a moeda ucraniana pelo rublo, redirecionaram a internet por meio de servidores russos e prenderam centenas de pessoas que resistiram à assimilação.
De formas maiores e menores, as autoridades de ocupação do território na Ucrânia conquistado pelas forças de Moscou estão usando o medo e a doutrinação para obrigar os ucranianos a adotar um modo de vida russo. "Somos um só povo", dizem outdoors em azul, branco e vermelho, cores da bandeira russa. "Estamos com a Rússia."
Agora vem o próximo ato da guerra de conquista versão século 21 do presidente Vladimir Putin: o "referendo" de base.
Administradores nomeados pela Rússia em cidades como Kherson, no sul da Ucrânia, estão preparando o terreno para uma votação em setembro que o Kremlin apresentará como um desejo popular de se tornar parte da Rússia. Eles estão recrutando moradores pró-Rússia para novas "comissões eleitorais" e promovendo aos civis ucranianos os supostos benefícios de se unir ao seu país.
Qualquer referendo seria totalmente ilegítimo, dizem autoridades ucranianas e ocidentais, mas traria consequências sinistras.
Analistas na Rússia e na Ucrânia acreditam que ele servirá como prelúdio para Putin declarar oficialmente a área conquistada território russo, protegido por armas nucleares russas —tornando potencialmente muito mais caras as futuras tentativas da Ucrânia de expulsar as forças russas.
Kherson é uma das quatro regiões nas quais as autoridades estão sinalizando planos de referendos, junto com Zaporíjia, no sul, e Lugansk e Donetsk, no leste. Enquanto o Kremlin diz que caberá aos moradores da área "determinar seu próprio futuro", Putin deu a entender no mês passado que pretende anexar as regiões de imediato.
Em consequência, um esforço para mobilizar para um referendo os moradores dos territórios ocupados pela Rússia é cada vez mais visível em campo.
As autoridades nomeadas pela Rússia nas regiões de Zaporíjia e Kherson, por exemplo, anunciaram na semana passada que estavam formando "comissões eleitorais" para se preparar para referendos, que um funcionário disse que poderá acontecer em 11 de setembro —dia previsto para a realização de eleições locais e regionais em toda a Rússia.
"A Rússia está começando a lançar uma versão do que se poderia chamar de manual de anexação", disse John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, neste mês. "A anexação pela força será uma violação grosseira da Carta da ONU, e não permitiremos que ela fique inconteste ou impune."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.