A China está intensificando um esforço para ampliar sua influência no Pacífico. Tendo selado um acordo com as Ilhas Salomão, agora está negociando pactos de segurança com outras duas nações insulares, segundo autoridades dos Estados Unidos e países aliados.
De acordo com essas fontes, as discussões de Pequim estão mais adiantadas com Kiribati, nação insular no Pacífico situada a 3.000 quilômetros do Havaí e que sedia o Comando Indo-Pacífico dos EUA.
Uma autoridade de inteligência de um país aliado dos americanos relatou, sob condição de anonimato, que Pequim está em negociações também com pelo menos mais um país insular do Pacífico com vistas a um pacto que cobrirá mais ou menos o mesmo terreno que o acordo fechado com as Ilhas Salomão.
O aviso de que Pequim está tentando ampliar sua influência no Pacífico chega no momento em que o presidente Joe Biden visita a Ásia, num movimento que visa a reafirmar a aliados o compromisso com a segurança regional, em meio à campanha da China para estender sua influência.
O pacto com os salomônicos, para alguns especialistas, deixará Pequim construir uma base naval no país situado a nordeste da Austrália. Segundo um rascunho vazado em março, o acordo permitirá à China enviar até mesmo forças militares às ilhas, o que chocou os EUA e seus aliados no Indo-Pacifico, de Austrália e Nova Zelândia ao Japão.
Um funcionário americano disse que a China está de olho em Kiribati há bastante tempo, com discussões intermitentes não há meses, mas há anos, com o objetivo de criar uma presença estratégica em nações insulares.
Michael Foon, secretário de Relações Exteriores de Kiribati, negou que seu governo esteja envolvido "em discussões com qualquer parceiro sobre um acordo de segurança". A líder da oposição, Tessie Eria Lambourne, afirma que a mudança acelerada da relação de seu país com a China está preocupando a população. "Somos os próximos na fila no plano de Pequim de estabelecer sua presença militar em pontos estratégicos da região."
O pacto com as Ilhas Salomão ajudou a converter as tensões geopolíticas com a China numa questão central na eleição de sábado (22) na Austrália, vencida pela oposição. O ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, deve encabeçar uma delegação grande que visitará as ilhas na próxima semana.
Em mais um sinal de Pequim está intensificando esforços para estender a presença na região, na sexta-feira (20) foi fechado um acordo com Vanuatu para modernizar um aeroporto internacional em Luganville, que foi uma base militar americana chave durante a Segunda Guerra Mundial.
Um funcionário do Departamento de Estado disse sob anonimato que os EUA levam muito a sério as preocupações com pactos de segurança, incluindo com Kiribati e destacou que há receios de que a China também esteja negociando com Tonga e Vanuatu.
Pequim tem acordos de segurança com outros países na região, incluindo Fiji e Papua-Nova Guiné, mas diplomatas e funcionários de segurança disseram que o acordo com as Ilhas Salomão tem alcance muito maior —e que a China pode ter ambições maiores em Kiribati.
Pequim operou no país uma estação de rastreamento espacial até 2003, quando as duas partes romperam após o estabelecimento de relações diplomáticas de Kiribati com Taiwan.
Desde 2019, quando o país reverteu a lealdade, de Taipé para Pequim, diplomatas vêm procurando sinais de que a estação de rastreamento poderia ser reaberta. Especialistas dizem que os avanços grandes nas capacidades militares da China nas duas últimas décadas tornariam ainda mais significativa hoje uma base ou presença da força aérea ou da marinha chinesa perto do Havaí.
A China também está cooperando com Kiribati para modernizar uma pista de pouso na ilha de Kanton.
Tess Newton Cain, especialista em assuntos do Pacífico na Universidade Griffith, na Austrália, disse que o pacto com as Ilhas Salomão e o fortalecimento dos laços com Kiribati refletem a tendência de uma nova fase de engajamento chinês. "São relacionamentos recentes que vêm avançando muito rapidamente", afirma. "É diferente do que vemos em outras partes da região, onde há relações mais maduras."
O Ministério das Relações Exteriores chinês não respondeu a pedidos de comentários.
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