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O suicídio de um jovem de 17 anos causou comoção na China nesta semana e estimulou um debate sobre bullying online e os efeitos de coberturas midiáticas na saúde mental de adolescentes.
O menino, identificado como L. X., tornou-se conhecido nacionalmente quando era criança. Vendido pelos pais biológicos aos três meses, ele ficou órfão aos quatro anos, quando seus pais adotivos morreram em um acidente.
A polícia então iniciou uma busca em bancos de dados genéticos para identificar a família biológica do garoto, e o reencontro foi objeto de intensa cobertura midiática à época.
A alegria, porém, durou pouco: anos depois, L. falou com a imprensa dizendo que os pais biológicos tinham cortado contato com ele e que estava vivendo com os avós adotivos. O casal se defendeu dizendo que o adolescente exigiu que os pais comprassem um apartamento para ele.
Desde então, L. passou a receber milhares de mensagens de ódio nas redes sociais.
Nesta semana, viajando com a família biológica para a ilha de Hainan --popular destino de férias no sul da China–, o jovem escreveu uma longa carta no Weibo (espécie de Twitter chinês) dizendo estar "cansado de viver".
Ele foi encontrado morto na segunda-feira (24), gerando comoção nas redes sociais.
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Usuários escreveram sobre o bullying que o garoto sofreu e a pouca preocupação da imprensa ao reportar a vida dele, transformando a história em um espetáculo.
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A revista que publicou acusações contra L. recebeu ataques. O volume de menções ao veículo foi tão grande que o perfil precisou bloquear as funções nas redes sociais.
Por que importa: saúde mental continua sendo um grande tabu na China, e a imprensa estatal ainda engatinha nas discussões sobre como tratar o caso. O episódio motivou debates sobre como reportar histórias envolvendo menores de idade, frequentemente ativos nas redes sociais, mas sem preparo emocional para lidar com o volume de opiniões (muitas vezes críticas) que recebem após a repercussão online.
O que também importa
Um ex-oficial de alta patente foi expulso do Partido Comunista acusado de corrupção. Zhou Jiangyong era chefe do centro de comércio eletrônico em Hangzhou, na região costeira do país.
Ele teria participado de conluio com empresas privadas para promover "expansão desordenada" de negócios escusos. Aos 54 anos, Jiangyong foi acusado de "deslealdade ao partido". O órgão de fiscalização disciplinar afirmou que o oficial manipulou licitações em troca de propinas para ele e familiares.
O processo foi encaminhado a promotores do país. Com a expulsão, ele perde todos os títulos que tinha e não terá acesso a pensão. Zhou também pode ser preso, embora o inquérito penal ainda vá demorar.
Relatório do governo do Canadá acusa Pequim de espionar chineses expatriados. De acordo com o portal Global News, que teve acesso ao documento, o Escritório de Assuntos Chineses no Exterior (OCAO, na sigla em chinês) tem usado "táticas coercitivas" contra dissidentes e minorias étnicas chinesas vivendo no Canadá.
O OCAO funciona como órgão de apoio a chineses no exterior. O Canadá agora acusa o escritório de promover espionagem, "trabalhando para minar indivíduos identificados como ameaça ao Partido Comunista", além de "monitorar estudantes, eventos culturais, midiáticos e políticos no exterior".
O relatório é parte do processo de um ex-funcionário do OCAO que teve o pedido de imigração negado por autoridades canadenses. A embaixada chinesa no país não comentou as acusações até o momento.
A Marinha dos Estados Unidos iniciou na quinta (27) uma operação para recuperar um avião que caiu no Mar do Sul da China. Avaliado em mais de US$ 100 milhões, o caça F-35C despencou de um porta-aviões por acidente e submergiu nas águas que Pequim reivindica como suas.
Os EUA não confirmaram em qual ponto do mar o avião submergiu. A tarefa é delicada porque, ao afirmar soberania sobre a região, a China pode pedir os direitos de resgate e ter acesso a tecnologia militar sensível.
A China ainda não fez comentários oficiais sobre o acidente. Por aqui, a mídia controlada pelo governo tem reportado o assunto apenas citando agências internacionais e declarações de militares americanos.
fique de olho
O Ministério da Agricultura da China divulgou um novo conjunto de diretrizes para cultivo de grãos por edição genética. De acordo com o documento, os produtores interessados precisarão fazer testes-piloto e obter um certificado de qualidade antes de colocar o produto no mercado.
Ao contrário da modificação genética --que introduz genes no DNA da planta--, a edição ajusta os genes já existentes para tornar plantações mais resistentes e lucrativas.
Por que importa: até recentemente, Pequim mantinha uma política estrita contra o uso de milho e soja geneticamente alterados para consumo humano. As dificuldades nas cadeias de suprimento trazidas pela pandemia fizeram do tema uma prioridade no governo. Embora a disponibilidade de terras aráveis ainda permaneça baixa, o aprimoramento de técnicas de cultivo pode diminuir a demanda chinesa por grãos importados, impactando as trocas comerciais com o Brasil.
para ir a fundo
- Começou nesta semana na China o maior fenômeno de migração humana anual: as viagens para o Festival de Primavera, quando cerca de 350 milhões de pessoas devem se deslocar para celebrar a data com as famílias. O Sixth Tone mostra imagens dos principais pontos do país no terceiro festival pandêmico. (gratuito, em inglês)
- Xi Jinping anunciou na COP 15 (Conferência de Biodiversidade da ONU) um fundo bilionário para investimentos em biodiversidade e iniciativas sustentáveis. Neste artigo, o Diálogo Chino discute quais podem ser os impactos e benefícios de tanto dinheiro na América Latina. (gratuito, em português)
- Em 2018, os Estados Unidos iniciaram uma grande campanha para tentar identificar possíveis espiões em pesquisas e empresas consideradas de interesse nacional dos EUA. O South China Morning Post explica por que a estratégia não só deu errado como levou vários cientistas de ponta a voltarem para a China. (paywall poroso, em inglês)
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