O presidente da Somália anunciou nesta segunda-feira (27) que suspendeu o primeiro-ministro do país por suspeita de corrupção, em uma escalada na disputa de poder entre os dois líderes. A medida foi chamada de "tentativa de golpe" pelo premiê e gerou temores de confronto entre aliados de cada um deles nas forças de segurança.
O presidente, Mohamed Abdullahi Farmajo, acusa o primeiro-ministro, Mohammed Hussein Roble, de apropriação de terras pertencentes ao Exército e de interferência em uma investigação do Ministério da Defesa.
Em resposta, Roble afirmou que o ato é inconstitucional e que não vai deixar o cargo. Ele disse ainda ter ordenado às forças de segurança que recebam ordens diretamente dele, referindo-se a Farmajo como "ex-presidente".
"Quero dizer aos somalis que os passos tomados pelo ex-presidente Mohamed Abdullahi Farmajo foram uma tentativa aberta de golpe contra o governo e a Constituição nacional", declarou, na conta do Facebook da agência de notícias estatal Sonna.
Segundo o premiê, o presidente quer boicotar as eleições que vêm sendo realizadas desde 1º de novembro —o processo deveria se completar em 24 de dezembro, mas até agora poucos dos 275 representantes do Parlamento foram eleitos. Farmajo, em tese, deve deixar o poder em fevereiro.
A embaixada dos Estados Unidos pediu a redução da escalada de ambos os lados no país africano em uma publicação no Twitter. "Pedimos fortemente aos líderes da Somália que tomem medidas imediatas para diminuir as tensões em Mogadício, evitem ações provocativas e evitem a violência."
Esta é a mais recente rodada em uma disputa de longa data entre os dois líderes. Em abril, combatentes pró-governo e da oposição foram mortos a tiros nas ruas da capital depois que Farmajo estendeu seu mandato de quatro para seis anos, sem realizar eleições.
A crise foi aplacada quando o presidente reverteu a decisão e Roble negociou um calendário eleitoral. Nos meses seguintes, porém, a rivalidade entre os políticos atrapalhou novamente a votação e gerou tensões com os aliados ocidentais.
A Somália, que desde a guerra civil iniciada em 1991 só teve governos centrais limitados, tenta se reconstruir com a ajuda da ONU (Organização das Nações Unidas) e realiza suas primeiras eleições diretas em mais de três décadas.
No domingo (26), Farmajo e Roble acusaram um ao outro de atrasar as eleições parlamentares em um país dividido por ataques de militantes radicais islâmicos e rivalidades entre clãs.
Roble acusou o presidente de sabotar o processo eleitoral depois que ele decidiu retirar do premiê a tarefa de organizar o pleito e pediu a criação de uma nova comissão para "corrigir" os problemas. O primeiro-ministro afirma que o presidente não tem a intenção de realizar "uma eleição confiável no país".
Moradores de Mogadício disseram às agências de notícias que as ruas amanheceram com forte presença de tropas do Exército, e muitos temem que a crise política desemboque em violência.
Nesta segunda-feira (27), além de suspender os poderes do premiê, o presidente também anunciou que retirou do cargo o comandante da Marinha, general Abdihamid Mohamed Dirir.
Foi Dirir que acusou publicamente o primeiro-ministro de planejar se apropriar de terras públicas pertencentes à Guarda Costeira, perto do porto da capital.
Em um comunicado, o presidente acusou Roble não só dessa apropriação indevida, mas também de exercer pressão sobre o Ministério da Defesa para encerrar as investigações.
Até a conclusão do inquérito, "os poderes do primeiro-ministro permanecem suspensos", disse Farmajo.
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