Um juiz dos Estados Unidos rejeitou na segunda-feira (1º) sete das oito acusações de lavagem de dinheiro contra o colombiano Alex Saab, considerado testa de ferro do ditador venezuelano Nicolás Maduro, devido a garantias dadas a Cabo Verde durante o processo de extradição do réu.
O empresário de 49 anos e seu sócio Álvaro Pulido, cujo paradeiro é desconhecido, são acusados nos Estados Unidos de dirigir uma rede que explorava um programa de distribuição de comida na Venezuela.
Eles são suspeitos de transferir cerca de US$ 350 milhões (R$ 1,9 bilhão) para contas que controlavam no território americano e em outros países. Acusado de lavagem de dinheiro em 2019 em Miami, Saab foi preso em junho do ano passado em Cabo Verde, durante a escala de um voo.
Agora, desde 18 de outubro, logo após ter sido extraditado a pedido dos EUA, ele passou a ser julgado na cidade americana. Assim, numa das etapas do processo, a Justiça deixou de lhe imputar sete acusações e manteve apenas uma, a de conspiração para lavagem de dinheiro, punível com até 20 anos de prisão.
A decisão ocorre porque, no dia 7 de setembro de 2020, durante o processo de extradição, os EUA deram garantias a Cabo Verde de que "não processariam ou puniriam o acusado Alex Nain Saab por mais que uma acusação", cumprindo assim uma lei cabo-verdiana relativa à pena máxima de detenção, como explicou o Ministério Público no pedido enviado ao juiz Robert Scola, que assinou a ordem.
Ainda segundo o Ministério Público, a decisão de rejeitar as sete acusações afeta Saab, não Pulido.
A extradição do aliado enfureceu Maduro, que deu ao colombiano a nacionalidade venezuelana e um título de embaixador e lutou, sem êxito, para evitar a transferência dele para os EUA.
Em comunicado, o ditador do país caribenho denunciou o que chamou de "sequestro do diplomata venezuelano Alex Saab pelo governo dos EUA em cumplicidade com autoridades cabo-verdianas", e os advogados do empresário afirmam que as denúncias americanas têm motivações políticas.
De acordo com analistas, o maior receio do regime chavista é o de que Saab dê informações à Justiça sobre rotas de dinheiro e esquemas de suborno. O governo tentou libertar o empresário diversas vezes, afirmando que o colombiano sofria maus tratos e tortura na prisão.
Filho de um empresário libanês radicado em Barranquilla, na Colômbia, Saab começou a trabalhar como vendedor de chaveiros promocionais antes de ingressar no setor têxtil, no qual chegou a ter cem armazéns que exportavam para mais de dez países, de acordo com biografias oficiais.
O primeiro contrato que assinou na Venezuela foi em 2011, no palácio presidencial de Miraflores. À época, Maduro era chanceler do presidente Hugo Chávez, e um jovem Saab fechou o que foi chamado de aliança estratégica para a constituição e instalação de kits para a construção de casas pré-fabricadas. O então presidente colombiano, Juan Manuel Santos, participou do evento.
Foi com a chegada de Maduro à liderança do país que Saab se tornou quase que imediatamente o empreiteiro consentido e, depois, seu ministro plenipotenciário nos bastidores, segundo jornalistas.
Mais tarde, o empresário ganhou um contrato para a construção de ginásios no valor de US$ 100 milhões, pagos antecipadamente, e um de petróleo com uma empresa fantasma sem experiência, que acabou caindo após reclamações de outras companhias do setor.
Em 2016, Maduro criou os Comitês Locais de Abastecimento e Produção, um plano de distribuição de alimentos subsidiados, em um momento de desabastecimento de mais de dois terços dos produtos básicos. Saab então se tornou um dos fornecedores, conseguindo importantes acordos comerciais.
A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega classificou Saab como o "principal testa de ferro da autocracia" de Maduro e de sua família e afirmou que a extradição dele "é uma conquista para aqueles de nós que buscam justiça contra os responsáveis pela tragédia e o caos que os venezuelanos vivem".
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