Em meio à escalada de repressão na Rússia e a menos de dois meses das eleições legislativas, aliados de Alexei Navalni, principal opositor do presidente Vladimir Putin, acusam o governo de ter bloqueado o acesso a 49 sites ligados a organizações de oposição.
Segundo denúncias feitas em redes sociais, já não é possível acessar esses portais do território russo —a agência de notícias AFP confirmou a impossibilidade de acesso ao site de Navalni.
A proibição teria vindo do serviço russo de regulação da internet e dos meios de comunicação (Roskomnadzor), órgão que, em março, determinou a redução na velocidade de acesso ao Twitter como retaliação por supostas falhas na remoção de publicações que convocavam a população a ir às ruas protestar contra o governo.
Um dos que teve seu site bloqueado no país foi Leonid Volkov, aliado de Navalni que está exilado na Lituânia. Para ele, as medidas têm como objetivo asfixiar ainda mais a oposição antes das eleições legislativas de 19 de setembro, em especial devido ao fato de que o partido de Putin, o Rússia Unida, está crescendo em impopularidade. "Em breve contaremos como vamos contornar essa situação", disse Volkov em uma rede social.
Em abril, a Justiça russa, sob influência do Kremlin, ordenou a suspensão das atividades dessas mesmas organizações, sob acusação de extremismo. Meses depois, em junho, baniu efetivamente as duas principais organizações ligadas a Navalni: o Fundo Anticorrupção e uma entidade associada, a Organização de Proteção dos Direitos dos Cidadãos.
O fundo já vinha operando sob a classificação de "agente estrangeiro" desde 2019. Assim, suas contas eram fortemente auditadas, e os movimentos de seus integrantes, monitorados legalmente. Conhecida por investigações sobre atos corruptos cometidos pela elite russa, a organização era a principal responsável por convocar manifestações e organizar campanhas eleitorais.
O novo passo fecha ainda mais o cerco para a oposição, que já tem sua principal figura-chave afastada das atividades. Alexei Navalni está preso desde janeiro, quando retornou ao país 150 dias depois de ser envenenado na Sibéria e levado para tratamento na Alemanha —ele acusa presidente Putin diretamente pela tentativa de assassinato, algo que o líder russo nega.
O ativista e blogueiro está em uma colônia penal, com esquema ostensivo de vigilância, e já denunciou que funcionários lhe negaram acesso a tratamento médico adequado e adotam prática que ele comparou à tortura.
Ele é acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional ao deixar o país, ainda que a saída tenha ocorrido sob justificativa médica —ele estava em coma. O opositor teve uma sentença de prisão por fraude comutada em 2014, em uma ação que classifica como perseguição judicial.
A Justiça do país confirmou em fevereiro a sentença do ativista. No total, ele foi condenado a três anos e meio de prisão, dos quais cumpriu dez meses em regime domiciliar.
Diferentes países do Ocidente, além da Corte Europeia de Direitos Humanos, pediram que a Rússia liberte Navalni, reação que Moscou disse ser uma interferência inaceitável em seus assuntos internos.
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