O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou nesta quinta (10) a responder à declaração racista de Alberto Fernández e comparou o líder da Argentina ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
Nesta quarta, o peronista disse, durante encontro com o premiê da Espanha, em Buenos Aires, que "os mexicanos vieram dos indígenas, os brasileiros, da selva, e nós [os argentinos], chegamos em barcos". "Eram barcos que vinham da Europa", afirmou, apontando para Pedro Sánchez.
Bolsonaro, que no mesmo dia da declaração postou uma foto nas redes sociais em que aparece ao lado de indígenas acompanhada da palavra "SELVA!", disse nesta quarta que, para o presidente argentino e o ditador venezuelano, "não tem vacina". A fala dá a entender que, para o líder brasileiro, Fernández e Maduro são irremediáveis.
"Lembro que, logo que o [Hugo] Chávez morreu, assumiu o Maduro [na Venezuela], e ele falava que conversava com os passarinhos que estavam encarnados na figura do Chávez", disse o presidente brasileiro a um grupo de apoiadores. "Acho que o Maduro e o Fernández, para eles não tem vacina."
Em seguida, no entanto, Bolsonaro disse que não há nenhum problema entre o Brasil e o povo argentino. "Troquei mensagem no WhatsApp hoje com o ex-presidente [Mauricio] Macri, da Argentina. Não tem nenhum problema entre nós nem com o povo argentino. Rivalidade com a Argentina é só no futebol."
Auxiliares do ex-presidente argentino disseram à Folha que Macri enviou, na noite de quarta (9), uma mensagem por WhatsApp a Bolsonaro pedindo desculpas pela fala de Fernández.
Macri, que manteve boa relação com Bolsonaro quando estava na Presidência, ressaltou que as palavras usadas por seu sucessor não representam o pensamento do povo argentino. Bolsonaro, ainda de acordo com interlocutores, agradeceu o gesto e respondeu que a relação entre os dois países é positiva.
A fala de Fernández gerou críticas no Brasil e no México, além de reações da oposição argentina.
O deputado Facundo Suárez Lastra, da União Cívica Radical, afirmou que "sempre há um nível mais baixo para que o presidente desça na escada do ridículo e da vergonha". "Ofende países irmãos e aparece como um ignorante. Nem professor nem acadêmico."
Também da UCR, partido que fazia parte da base de apoio do ex-presidente Mauricio Macri, Karina Banfi pediu que Fernández se desculpasse por sua ignorância e discriminação com os povos originários, com os países da região e com todos os argentinos e argentinas".
Após a repercussão da declaração, o presidente argentino publicou uma mensagem no Twitter na qual diz que "nossa diversidade é um orgulho". "Mais de uma vez foi dito que 'os argentinos descendemos dos barcos'. Na primeira metade do século 20 recebemos mais de 5 milhões de imigrantes que conviveram com os nossos povos originários. Nossa diversidade é um orgulho." Na sequência, acrescentou que "não quis ofender ninguém" e pediu desculpas "a quem tenha se sentido ofendido ou invisibilizado".
Ao realizar a declaração na quarta, Fernández acreditava fazer menção a uma frase incorretamente atribuída ao escritor mexicano Octavio Paz (1914-1998), Nobel de literatura em 1990, em que ele teria discorrido sobre a raiz asteca dos mexicanos e a origem inca dos peruanos. Fernández, porém, confundiu-se, e a frase é na verdade parte de uma canção do compositor Litto Nebbia.
A frase foi dita em meio a um dos momentos mais tensos na relação entre Argentina e Brasil. Bolsonaro é um crítico de Fernández e já disse que os argentinos escolheram mal ao elegê-lo como presidente. Os dois países também estão em polos opostos numa delicada negociação sobre reformas no Mercosul.
Assim, a declaração do argentino tem sido utilizada por aliados de Bolsonaro nas redes sociais. Filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez publicações ridicularizando a fala de Fernández e disse que “o barco que está afundando é o da Argentina”.
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