O novo presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos EUA, Gregory Meeks, pediu nesta terça (5) a revisão da política de Washington para a Venezuela, um enfoque mais multilateral do país sob o comando de Joe Biden e prometeu promover os direitos humanos no Brasil.
Em entrevista à agência de notícias AFP, o democrata diz querer discutir com o presidente Jair Bolsonaro a marginalização das comunidades afro-brasileiras, indígenas e LGBT e buscar se unir a legisladores e ONGs brasileiras neste tema.
"Há um papel que todos devem desempenhar, e se podemos estar de acordo e começar a falar e exercer a mesma pressão sobre os Bolsonaros do mundo, acho que podemos ter um grande impacto", afirmou.
A política de direitos humanos defendida por Meeks é marcada pela divergência com a administração Trump, de quem o presidente brasileiro é próximo ideologicamente.
Em outra posição oposta à do governo em fim de mandato, também disse que buscaria retomar a ajuda humanitária aos palestinos, depois que o presidente, firmemente pró-Israel, cortou-lhes quase todos os fundos. E prometeu usar seu cargo para pressionar o respeito aos direitos humanos em todo o mundo.
Além disso, o democrata se comprometeu a apoiar a retomada dos contatos diplomáticos com o Irã, depois que Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear assinado por seu antecessor, Barack Obama, em 2015, e voltou a impor amplas sanções ao país persa.
"Se olharmos para o que o Trump fez com sua campanha de pressão máxima, a grande pergunta a fazer é se ele tornou os EUA mais seguros. A resposta é um grande 'Não', 'n' maiúsculo", afirmou.
Primeiro afro-americano a presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Meeks sucede Eliot Engel, que perdeu o assento nas primárias para um integrante da ala progressista democrata.
Sobre a Venezuela, Meeks acusou Trump de hipocrisia ao liderar uma campanha de dois anos para tirar do poder Nicolás Maduro, cuja reeleição, em 2018, Washington e boa parte da comunidade internacional não reconhecem por considerá-la "fraudulenta".
"Claramente, esta administração não está no caminho certo. De fato, acho que muitas pessoas na Venezuela estão rindo porque, para mim, o que Trump está fazendo nesta eleição é muito similar ao que Maduro tentou fazer na Venezuela", opinou. "Precisamos de uma política diferente."
Meeks foi várias vezes à Venezuela, onde se reuniu com o antecessor e padrinho político de Maduro, Hugo Chávez, e foi enviado pelo ex-presidente Barack Obama para representar os EUA no funeral do presidente em 2013. Para Meeks, seu país precisa "trabalhar coletivamente de forma multilateral" com os atores regionais e as organizações internacionais. "Não podemos entrar e dizer que este é seu presidente. Esse não é nosso papel; esse é o papel do povo venezuelano", afirmou.
Meeks não chegou a dizer que Biden, que assumirá a Presidência em 20 de janeiro, deveria reverter o reconhecimento de Trump ao líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, e pediu que os Estados Unidos fomentem a unidade no âmbito da oposição venezuelana.
O legislador admitiu as irregularidades eleitorais do regime de Maduro e disse que qualquer solução para a crise deve se concentrar em reparar as instituições, inclusive com a incorporação de membros da oposição no órgão que rege as eleições. "Deve-se assegurar que o clima no terreno seja o adequado para que possam ocorrer eleições livres e justas", disse.
Mais de 50 países, inclusive a maioria das potências latino-americanas e europeias, reconhecem Guaidó como presidente interino, depois de questionamentos à reeleição de Maduro em 2018, e em meio a uma catástrofe econômica. Segundo a ONU, 5,4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos anos.
Guaidó presidia a Assembleia Nacional eleita em 2015, mas nesta terça foi empossado o novo Parlamento eleito nas legislativas organizadas pelo governo Maduro no mês passado e que foram boicotadas pela oposição e não avalizadas por observadores internacionais não alinhados ao regime venezuelano.
O chefe da diplomacia americana em fim de mandato, Mike Pompeo, não reconheceu o novo Congresso e reiterou o apoio a Guaidó como autoridade legítima do país. Apesar da forte campanha de pressão de Washington, que inclui uma bateria de sanções econômicas, Maduro tem se mantido no poder com o apoio do Exército venezuelano, da Rússia, da China, de Cuba e, recentemente, do Irã.
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