Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.
Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.
Quarta pessoa mais rica do mundo, Warren Buffett não mora em Nova York, Los Angeles, Londres ou Paris. O bilionário nasceu em Omaha, em Nebraska, há 90 anos e lá ainda mora, em uma casa no bairro de Dundee que ele comprou em 1958.
Sua empresa, a Berkshire Hathaway, também fica na maior cidade do estado, bem no meio dos EUA continentais. A companhia do "oráculo de Omaha" é dona da seguradora Geico e sócia dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, da 3G, na gigante de alimentos Kraft Heinz.
Do alto de seus US$ 80 bilhões (R$ 448 bilhões), Buffett é o raro bilionário que gostaria de pagar mais impostos. Já disse algumas vezes que paga percentualmente menos impostos que sua secretária, o que se explica em parte pelo fato de que ganhos de capital são taxados com alíquota menor do que salários.
Para corrigir a distorção, defende que os ultrarricos —o 1%— sejam alvo de um imposto especial.
A discussão sobre os impostos de bilionários, que de tempos em tempos aflora nos EUA, voltou com força na campanha de Bernie Sanders, que disputou com Joe Biden a candidatura democrata à Presidência.
O senador, tido como de extrema esquerda no espectro político americano, defende um imposto com alíquota que começa em 1% sobre os bens do 0,1% dos mais ricos, o que abarca aqueles que têm mais de US$ 32 milhões (R$ 179 milhões) em ativos.
Os argumentos de Sanders ressoam em parte da população do país. Antes da pandemia, ainda que o desemprego estivesse baixo e a renda crescendo modestamente, os ganhos entre os 5% mais ricos eram maiores que entre as famílias de classe média e baixa. E a riqueza das famílias, que mede os ativos líquidos (bens como casas e investimentos menos dívidas), está estagnada há décadas.
Críticos desse tipo de imposto sobre os superrricos afirmam acreditar que ele pode fazer com que bilionários deixem de investir nos EUA, levando dinheiro para outros países com alíquotas mais baixas.
De volta ao Senado, Sanders propôs em agosto um imposto extraordinário de 60% sobre o que afirma serem US$ 731 bilhões (R$ 4,1 trilhões) acumulados por 467 bilionários durante a pandemia; os valores arrecadados seriam usados para pagar as contas médicas de americanos que tiveram Covid.
O candidato democrata Biden também fez da taxação uma promessa de campanha, com um plano que elevaria os impostos pagos por americanos que ganham mais de US$ 400 mil (R$ 2,2 milhões) por ano, com impacto maior no 1% mais rico.
Já Trump, que cortou impostos em 2017 em uma reforma tributária que beneficiou grandes empresas, promete cortar novamente taxas em um segundo mandato, sem dar detalhes.
Defensores de um Estado menor, os republicanos no geral votam por reduzir impostos com o argumento de que isso estimula a economia e cria empregos. Enquanto isso, em Omaha, já que não pode pagar mais impostos, Buffett doa seus bilhões: já se foram US$ 41 bilhões (R$ 230 bilhões) deles, até agora.
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