Paralisada pelo coronavírus, a Espanha vê o debate entre governo e oposição esquentar, em um morde e assopra diário que tem incluído chavismo, separatismo e até cortes de cabelo.
"Felicite-o, porque o corte de cabelo que fez está muito bonito. A pena é que o resto de nós, espanhóis, não o podemos fazer", disse o deputado Antonio Terol, do PP (Partido Popular, de direita), sobre a aparência do premiê Pedro Sánchez durante a sessão plenária de quarta-feira (22).
PP, Vox e Cidadãos, as três principais legendas de direita, têm votado a favor das medidas de restrição, mas criticam duramente as ações do governo, como a demora em decretar a paralisação das atividades no país.
Há também muitas fake news sendo disparadas, que acusam os líderes de esconder mortos e de desviar equipamentos médicos para uso pessoal, sem provas.
Como solução para a crise política, Sánchez propôs há alguns dias a criação de uma comissão parlamentar composta por membros do governo, da oposição e de sindicatos e entidades empresariais para definir os rumos da reconstrução econômica após a crise.
Há conversas em andamento com o PP, principal partido opositor, mas a ideia avança devagar.
O premiê pede pressa, mas, ao mesmo tempo, o partido do qual faz parte, o PSOE, vê risco de que a oposição use essa comissão para investigar os erros que o governo tenha cometido no gerenciamento da crise.
Nesta quarta, Pablo Casado, líder do PP, chamou o governo de incompetente. "Podia-se ter impedido muitos falecimentos só por ter implantado o estado de alarme uma semana antes", disse. Também acusou o governo de não saber o número exato de vítimas.
Sánchez respondeu de forma irônica e disse que não se pode culpar o governo por tudo. Pediu também que os partidos esperem pelos dados reais de todos os países para poder comparar seu desempenho. "Um país que não faz testes poderá afirmar que não teve nenhum caso."
Santiago Abascal, líder do Vox (ultradireita), também fez ataques. "A Espanha é uma gigantesca prisão chavista com cadernetas de racionamento", disse em referência ao ex-presidente da Venezuela.
O Vox costuma lembrar de Hugo Chávez (1954-2013) para atacar o Podemos (ultraesquerda), que integra o governo. Líderes do partido demonstraram apoio ao ex-presidente venezuelano.
A relação entre PSOE e Podemos também anda estremecida. Ambos dividem o governo desde janeiro, em uma coalizão que levou meses para ser negociada e que tem maioria frágil.
O Podemos gerou desconfiança no PSOE por tentar capitalizar o anúncio de medidas sociais, como o pagamento de um auxílio emergencial durante a crise.
Outra questão é o recebimento de ajuda financeira da União Europeia. Os aportes de Bruxelas, ainda em negociação, poderão exigir medidas de austeridade como contrapartida, algo que o Podemos sempre foi contra. Oficialmente, os dois partidos dizem que a parceria segue firme.
Já os partidos independentistas da Catalunha e do País Basco, que ajudaram Sánchez a chegar ao poder, também mostram insatisfação e se abstiveram de votar pela extensão do estado de emergência.
O ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) disse que quer voltar a negociar a situação catalã com o governo federal antes de junho, o que pode reacender a questão separatista.
Segundo um levantamento do instituto espanhol GAD3, divulgado na segunda (20), o governo Sánchez tem 27,3% de aprovação. Na última eleição, em novembro, PSOE e Podemos tiveram juntos cerca de 40% dos votos.
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