Descrição de chapéu The New York Times

Estudantes treinam como fazer e lançar bombas dentro de universidade em Hong Kong

Campus virou lugar de batalhas entre polícia e manifestantes nos últimos dias

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Hong Kong | The New York Times

Estudantes e seus apoiadores nos campi de universidades em Hong Kong estão fazendo preparativos cada vez mais complexos para confrontos com a polícia: construindo linhas de montagem de coquetéis molotov, erguendo catapultas que utilizam capacetes para lançar projéteis e construindo barreiras de tijolos e argamassa ou de varas de bambu entrelaçadas.

Na terça-feira (12), quando tropas de choque bombardearam a Universidade Chinesa de Hong Kong com gás lacrimogêneo e líquido ardente, um local tranquilo dedicado aos estudos de repente adquiriu ares de campo de batalha.

Estudantes em toda a cidade disseram que estão sendo obrigados a defender-se de maneiras mais radicais.

Manifestante treina como lançar artefatos com catapulta improvisada na PolyU - Philip Fong/AFP

“Eles estão insultando a instituição das universidades. Este é um local sagrado para o estudo. Não é um lugar para eles destruírem”, comentou a universitária Anna Foy, 23.

“Antes eu apenas fazia cartazes. Mas agora virei uma pessoa que vai para a linha de frente.”

Após cinco meses de protestos, as tensões aumentaram na semana passada, primeiro após a morte de um manifestante estudantil que caiu do primeiro andar de um estacionamento e depois quando um policial atirou em um manifestante desarmado.

Nos últimos dias, ativistas provocaram interrupções ao sistema de transporte público da cidade, em um esforço para forçar o governo a atender às suas reivindicações, que incluem cobrar a responsabilidade da polícia.

Diante da repressão policial, estudantes estão se descobrindo em situações antes inimagináveis.

“Nunca pensei que eu estaria misturando estas substâncias químicas com minhas próprias mãos, mas estou aqui para aprender”, disse Jacqueline Kwok, 19, estudante da Universidade Politécnica de Hong Kong, ou PolyU, cercada por funis de plástico, toalhas enroladas e garrafas de vidro.

Odores químicos enchiam o ar enquanto outro manifestante testava uma bomba de gasolina que acabava de ser feita, jogando-a numa piscina sem água. Chamas lamberam os azulejos do fundo da piscina quando a garrafa quebrou.

Outros estudantes disseram que pretendiam construir bombas de fumaça que causariam menos ferimentos, mas cujos odores sulfúricos também poderiam deter o avanço da polícia.

Nas margens dos campi, manifestantes vestidos de preto posicionados sobre telhados e torres de vigia improvisadas ficavam à espreita de policiais à paisana e potenciais delatores.

Visitantes que quisessem passar pelas barreiras tinham que mostrar cartões de estudante ou crachás de imprensa em postos “de alfândega” e apresentar seus pertences para serem examinados.

Manifestantes espalhavam pregos e tijolos empilhados, como Stonehenges em miniatura, para dificultar a passagem de viaturas policiais, caso a polícia tente desobstruir as ruas.

E alguns grupinhos percorriam o espaço munidos de arcos e flechas. Alguns poucos estavam até treinando com chamas.

Ken Chan, 17, é estudante secundarista e pratica tiro com arco como hobby. Ele comentou: “Sei que isto daqui é realmente extremo e arriscado. Eu cogitaria disparar flechas como último recurso, caso pudesse proteger as pessoas da Universidade Politécnica e os moradores de Hong Kong. Isto é realmente extremo.”

Líderes da universidade se disseram alarmados porque os enfrentamentos violentos, além dos preparativos para confrontos futuros, alcançaram áreas do campus intocadas durante os meses de tumultos.

Disseram que estão assustados com o fato de grande número de manifestantes de fora da universidade estarem ocupando os prédios e campos da instituição.

“Nosso campus foi convertido em um cenário de desordem”, disse a PolyU em comunicado, instando estudantes e funcionários a manterem distância da universidade e suplicando aos manifestantes de fora para deixarem o local. As aulas estão sendo dadas online.

Na Universidade Chinesa de Hong Kong, na noite de sexta-feira, manifestantes evacuaram o campus depois de uma van ser incendiada e serem ouvidas explosões.

O superintendente chefe de polícia, John Tse, disse na quarta-feira que a polícia suspeita que a Universidade Chinesa esteja sendo usada como “fábrica de armas”.

Segundo ele, isso justifica o uso de gás lacrimogêneo, balas de borracha e projéteis não letais do tipo conhecido como “bean-bag” contra os estudantes.

Temendo uma nova investida da polícia, muitos apoiadores dos manifestantes, entre eles ex-alunos das universidades, foram aos campi para deixar sacos de alimentos e outras provisões.

“Estamos muito preocupados com os estudantes, então quisemos vir ver como estão”, disse a assistente social Karen Chan, 30, que se formou na PolyU.

No refeitório do campus, o ambiente era de um posto de atendimento em área de desastre, com caixas transbordantes de garrafas de água, máscaras de gás, óculos protetores e toalhas de papel, organizados por categoria.

Na cozinha, voluntários preparavam refeições simples à base de arroz branco, macarrão e carne enlatada.

“Quando a situação ficou mais tranquila, comecei a preparar sanduíches de frango e ovo para os manifestantes, para que eles possam comer algo mais gostoso, não apenas macarrão instantâneo, macarrão instantâneo, macarrão instantâneo”, disse Ryan Fa, 17, paramédico voluntário.

Universidades de elite como a Universidade Chinesa e a Universidade de Hong Kong chegaram a ganhar apelidos, como Riot U (Universidade da Rebelião) e Revolution University.

Coco Wong, estudante da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que o nome Riot U reflete a natureza “selvagem” de seus colegas.

“Aqui na Riot U temos gente com conhecimentos e habilidades de todo tipo”, disse. “Quando nosso território é invadido, só podemos correr para o front e resistir.”

Tradução de Clara Allain  

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