Descrição de chapéu Venezuela

Sob censura, Venezuela vive apagão informativo

Sites também sofrem com restrições à mídia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Operador de rotativa do jornal El Nacional deixa sala após última edição impressa do diário, em 14 de dezembro do ano passado - Manaure Quintero - 14.dez.18/Reuters
Caracas

​"Cada vez sabemos menos sobre o que acontece em muitos estados, porque não existem mais jornais e os meios digitais têm dificuldades para se manter, por censura ou por falta de patrocínio", conta à Folha Luisa Amelia Maracara, editora do site Crónica Uno, dedicado a temas políticos, mas principalmente aos relacionados à liberdade de expressão.

Ex-repórter de economia do tradicional jornal El Nacional —que deixou de circular em papel por conta de pressão econômica da ditadura, ao limitar a compra de dólares para a operação — , Maracara diz que nem os meios digitais têm tido mais facilidades.

"Nós não temos problemas de patrocínio porque recebemos ajuda de ONGs internacionais ligadas à liberdade de expressão, mas na Venezuela, hoje, a conectividade da população está diminuindo."
Com a crise econômica e a hiperinflação, "cada vez se compram menos smartphones, se usa menos internet; estamos retrocedendo nisso também."

O público de seu site é definido como de classe média. Porém, no último mês, conta que a audiência tem crescido dentro e fora da Venezuela, por conta do interesse pelos últimos acontecimentos políticos.

Ela considera grave a situação de "apagão informativo" tanto nos bairros populares de Caracas como no interior do país. "Os meios de Caracas sempre tiveram correspondentes regionais ou colaboradores. Isso foi sumindo, a censura regional é intensa." 

Para tentar driblar o problema, conta que tem feito oficinas para formar colaboradores que possam informar a partir de zonas mais afastadas, onde há conflitos e enfrentamentos de grupos de resistência com as forças de segurança do governo.

"Mas não é o ideal, não podemos pagar muito, e essas pessoas têm outro trabalho."


E acrescenta: "Aqui em Caracas as pessoas têm sede de informação, criam grupos de WhatsApp, compartilham notícias de sites e jornais confiáveis. Mas no interior, a população está muito mal informada. Esse é outro direito humano que está sendo violado, condenando-as à ignorância sobre os rumos políticos de seu país".

As condições desta entrevista à Folha também foram um pouco insólitas. 

Num café de Caracas próximo à casa de uma irmã do ditador Nicolás Maduro, ela teve de ser feita em parte em voz baixa, quando um grande número de oficiais armados cercaram o local, entraram no café armados para ver quem estava e se assegurar de que a irmã do ditador podia sair de casa tranquila.

A saída da irmã ocorreu uns 20 minutos depois, com o carro escoltado por duas motos com dois oficiais com escopetas em cada uma.

"Assim vivemos aqui", diz Maracara. "Eu só espero o dia em que vou poder titular a 'home' do meu site com a saída de Maduro."

Durante os 20 anos de chavismo, as TVs foram expropriadas, e muitos jornais não aguentaram a pressão e as ameaças da ditadura.

Nesse sentido, são meios digitais, hoje, que cumprem um papel importante, como o Crónica Uno, o Efecto Cocuyo ou o La Patilla.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.