Ao menos três pessoas morreram em novos confrontos entre manifestantes e forças antimotim nos protestos contra o governo da Nicarágua, enquanto aumentavam os bloqueios nas estradas em quase todo o país.
Os choques ocorreram neste sábado em Masaya, 30 km ao sul da capital, Manágua, onde um homem de 60 anos morreu ao ser atingido por "uma bala de franco-atirador", disse a um meio local o representante da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (CPDH), Alvaro Leiva.
"A situação em Masaya é de crise, é um SOS de direitos humanos que estamos" fazendo, disse Leiva.
"Por toda a cidade se ouviam explosões e rajadas de armas de fogo", disse um líder do Movimento Estudantil 19 de Abril da cidade, Yubrank Suazo.
O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) contabilizava até este sábado (9) 137 pessoas mortas desde o início dos protestos, em 18 de abril, sem incluir ainda uma das vítimas em Masaya.
O relatório do Cenidh inclui dois jovens mortos na noite de sexta-feira (8), um na cidade de Jinotega e outro em Manágua.
Em Jinotega, na noite de sexta-feira desconhecidos comandaram um ataque armado contra manifestantes que estavam fazendo a segurança de uma barricada sobre uma via, causando a morte de um jovem e vários feridos.
Segundo um comunicado divulgado nas redes pelo Movimento Estudantil 19 de Abril de Jinotega, "paramilitares afins ao governo crivaram jovens que estavam nas ruas lutando pela liberdade e democracia".
Foi "uma noite de terror", denunciou o grupo estudantil de Jinotega, onde os confrontos continuavam neste sábado.
Em Manágua, um jovem motociclista foi perseguido e assassinado também na noite de sexta-feira com um disparo na nunca por homens armados em duas motocicletas, segundo relatos da imprensa e nas redes sociais.
Os distúrbios na Nicarágua começaram em abril, quando, convocados inicialmente por estudantes universitários, cidadãos saíram às ruas em centenas de milhares para rebelar-se contra um ajuste no sistema previdenciário e um aumento de impostos que o governo havia decidido.
Nos últimos tempos, as medidas do governo de Daniel Ortega são automaticamente aprovadas pelo Congresso, uma vez que a oposição foi impedida de participar das últimas eleições.
Ortega ficou conhecido por ter participado da revolução que retirou do poder a dinastia do direitista Anastasio Somoza, na Revolução Sandinista de 1979. Até 1990, primeiro como coordenador da Junta de Reconstrução Nacional e depois como presidente, Ortega governou a Nicarágua.
Perdeu, então, as eleições seguintes para uma ex-apoiadora do sandinismo, Violeta Chamorro, mas voltou mais tarde ao poder, através das urnas, em 2007.
Ortega é o presidente desde então, tendo-se transformado de ícone marxista latino-americano num autocrata, que avançou sobre a Justiça e as Forças Armadas, eliminou as restrições para reeleições e proibiu os partidos opositores de competir em eleições.
Até pouco tempo atrás, mantinha-se firme no poder, devido ao apoio da Igreja Católica, do Exército, do empresariado e de uma vultosa ajuda financeira e por meio de petróleo que vinha da Venezuela. O país crescia 4,5% ao ano.
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