Fugido da guerra, abrigado em Uganda vira tradutor de ONG m�dica
Todos os dias, Banga Victor, 37, veste seu uniforme, sua sand�lia rasgada e chega pontualmente �s 8h no posto de sa�de da zona 3 de Bidi Bidi. Passa o dia se revezando entre as seis l�nguas que domina para ajudar na triagem dos pacientes que aguardam em filas.
Alguns poucos s�o ugandenses, enquanto a maioria tem a mesma origem dele: o Sud�o do Sul. "Fico feliz em poder ajudar a minha gente. E o trabalho facilita esquecer tudo o que passei at� chegar aqui", desabafa.
Ele, um dos 62 refugiados entre os 225 funcion�rios da Real Medicine Foundation no assentamento, deixou Yei, sua cidade natal, em 5 de outubro de 2016 ap�s passar dez dias preso para averigua��o.
Viajou tr�s dias com os pais, a mulher e o filho de dois anos, alimentando-se apenas das mandiocas que havia colhido na horta de casa, at� chegarem � Uganda.
Na recep��o do assentamento, conseguiu falar com o irm�o que ficou, e soube que homens do governo haviam invadido sua casa um dia ap�s sua partida.
"Eles desconfiaram que eu apoiava os rebeldes porque trabalhava com internet e impress�o de fotos. Na verdade n�o � preciso fazer nada para que pensem assim."
Quando decidiu deixar o pa�s, Victor p�s numa mala um computador, uma c�mera e uma impressora. A ideia era come�ar um pequeno neg�cio de fotografia em Bidi Bidi e refazer a vida. A bagagem, por�m, foi roubada ainda no centro de recep��o.
A vaga de int�rprete ele conseguiu um m�s depois. O emprego lhe rende 200 mil shillings ugandenses por m�s (US$ 55), gastos para complementar a alimenta��o da fam�lia, ajudar os pais e um irm�o diab�tico que tamb�m mora em Bidi Bidi com duas esposas e nove filhos.
Para economizar, Victor n�o almo�a. Sai de casa pela manh� com uma x�cara de ch� preto no est�mago e s� come ao voltar, �s 18h. Tamb�m come�ou a plantar sementes de vegetais em sacos doados pela C�ritas, uma alternativa ao solo pouco f�rtil.
Ele ainda quer juntar dinheiro para trazer a irm� que ficou em Juba. Depois, seu objetivo � conseguir comprar um pequeno terreno em Uganda. "Desde pequeno eu vivo num ambiente de guerra. N�o quero que meus filhos sofram o que eu sofri."
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