Ap�s 13 anos, Brasil deixa o Haiti entre paz fr�gil e mis�ria
Ap�s 13 anos, os capacetes azuis com a bandeira do Brasil no ombro j� n�o circulam por Porto Pr�ncipe. Com o fim iminente da miss�o de estabiliza��o da ONU, os haitianos reassumiram o controle da seguran�a p�blica em meio ao aumento da viol�ncia e da mis�ria persistente.
Nos �ltimos dias, a Folha visitou as favelas de Bel Air, onde a base brasileira foi fechada em 2015, e Cit� Soleil, responsabilidade da Pol�cia Nacional Haitiana (PNH) desde o �ltimo dia 15 de junho.
Em ambas as regi�es, que re�nem cerca de 250 mil pessoas, n�o h� muita diferen�a em rela��o � primeira visita deste rep�rter � cidade, em 2005: ruas cobertas de lixo, esgoto a c�u aberto, com�rcio informal de alimentos a p�p� (roupas usadas) e casas aos peda�os. Nas partes mais miser�veis de Cit� Soleil, parecia que o terremoto de 2010 acabara de acontecer.
J� os militares brasileiros, que chegaram a 2.200 ap�s o terremoto, hoje s�o 950. Moradores ouvidos pela reportagem divergem sobre o trabalho dos brasileiros. Para uns, ajudou a proteger a popula��o; para outros, o uso de for�a foi excessivo.
"Quando havia conflitos, era muito perigoso. Essas brigas pararam. Agora, n�o sei o que vai acontecer", diz o morador de Bel Air e fot�grafo Oscar Emmerson, 34, que trabalha na ONG Viva Rio.
Moradora de Cit� Soleil, a ambulante Christela Lafrance, 46, reclamou do uso constante de g�s lacrimog�neo pelos militares. "Uma vez, usaram g�s para acabar com uma festa. O cheiro entrou na minha casa, atingiu o meu beb�, n�s tivemos de fugir no meio da noite e ficar na rua."
Para Clermont Berthony, 42, ativista de direitos humanos em Cit� Soleil, a seguran�a melhorou com a sa�da da Minustah (a sigla em franc�s para a miss�o da ONU, cujo comando militar � do Brasil). "Coletamos 110 casos de v�timas dos soldados brasileiros, mas a maioria tem medo e n�o quer falar sobre isso."
Nenhum dos 37,5 mil brasileiros que passaram pelo Haiti desde 2004 foi formalmente acusado de abuso sexual nem afastado por crime, mas h� casos de soldados de Uruguai, Sri Lanka e Nepal.
Editoria de Arte/Folhapress |
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Haiti - Mapa - Onde Fica |
O Brasil encerra oficialmente suas opera��es nesta sexta (1�). O mandato da Minustah expira em 15 de outubro, quando ser� substitu�do pela Minujusth (Miss�o das Na��es Unidas para o Apoio � Justi�a no Haiti). De escopo e contingente menor, continuar� a treinar policiais e refor�ar� o sistema judici�rio.
MUDAN�A DE TOM
Nos primeiros anos, a Minustah desmantelou mil�cias que amea�avam a estabilidade pol�tica do pa�s e controlavam pequenas partes do territ�rio. Por outro lado, os assassinatos aumentaram.
O Haiti tem uma taxa de homic�dios relativamente baixa para a Am�rica Latina: 9,6 por 100 mil habitantes, inferior aos 28,9/100 mil do Brasil. H� dez anos, por�m, a taxa era a metade, segundo dados da ONG Igarap�.
O problema est� concentrado em Porto Pr�ncipe. Apesar de reunir 21% da popula��o, a capital registra quase 80% dos homic�dios do pa�s.
Em Bel Air, onde o Brasil manteve uma base desde o in�cio, a taxa de homic�dios do ano passado foi de 41 por 100 mil habitantes, segundo a ONG Viva Rio, que tem um programa de pol�cia comunit�ria em Porto Pr�ncipe.
Para o antrop�logo Pedro Braum, coordenador do Viva Rio no pa�s, a Minustah melhorou a estabilidade institucional, mas o avan�o corre o risco de se perder sem a melhoria das condi��es de vida.
"� uma popula��o gigantesca sem acesso a direito social nenhum. Sem resolver isso, � dif�cil criar uma sociedade pol�tica est�vel", diz.
"Se o governo conseguir empregos pra todos na favela, ser� melhor", disse Emmerson, ao ser questionado sobre o futuro de Bel Air. "Sem trabalho, um dia a popula��o far� coisa errada."
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