An�lise
Pacote bilion�rio chin�s tenta redesenhar geografia econ�mica
Ao discutir o ambicioso projeto de infraestrutura Um Cintur�o, Uma Estrada, na semana passada, argumentamos que o resto do planeta deveria v�-lo pelo que �: n�o um simples plano de investimento a ser avaliado em bases econ�micas convencionais, mas sim uma tentativa de dar forma � estrutura geoestrat�gica da economia mundial nas pr�ximas d�cadas.
Para compreender melhor o motivo, � importante perceber como o relacionamento econ�mico criado por uma iniciativa bem sucedida poderia ser maior do que a soma de suas partes. (E determinar se a iniciativa pode mesmo encontrar sucesso � uma quest�o igualmente importante. Christopher Balding argumenta que, at� para a China, o custo de cerca de US$ 1 trilh�o pode ser pesado demais. E o instituto de pesquisa europeu Bruegel concorda.)
Jason Lee - 15.mai.2017/AFP | ||
O presidente chin�s, Xi Jinping, discursa no F�rum Cintur�o e Rota, em Pequim |
Paul Krugman cita seu programa de pesquisa sobre geografia econ�mica para oferecer uma ilustra��o clara e sucinta de como conex�es de infraestrutura tais quais as contempladas pelo Um Cintur�o, Uma Estrada importam.
Se atividades econ�micas s�o mais lucrativas quando realizadas em escala maior, ent�o melhoras (at� mesmo modestas) nos transportes, que aperfei�oem as conex�es entre um lugar e muitos outros, podem criar um polo de atra��o de investimentos e de crescimento econ�mico naquele lugar, tendo por base o custo/benef�cio superior que ele oferecer� (ainda que por pequena margem) no abastecimento de outros mercados.
Como resultado, "pode-se claramente entender Cintur�es e Estradas como uma forma de pol�tica comercial estrat�gica, al�m de como uma pol�tica estrat�gica-estrat�gica pura e simples".
O Bruegel examinou o aspecto "comercial estrat�gico" da pol�tica em detalhe, contemplando os efeitos sobre o com�rcio internacional tanto da redu��o dos custos de transporte quanto da redu��o de barreiras comerciais, caso o aspecto de infraestrutura do Um Cintur�o, Uma Estrada venha a ser acompanhados pela cria��o de uma �rea de livre com�rcio entre os pa�ses participantes.
O interessante � que a Europa se beneficiaria da infraestrutura mas sairia perdendo com o acordo de livre com�rcio, porque parte do com�rcio seria desviado. � f�cil vislumbrar uma situa��o futura na qual a Uni�o Europeia veria uma negocia��o de livre com�rcio com a China como um imperativo mais forte, e portanto teria uma posi��o de negocia��o inferior �quela de que desfruta hoje.
Kadira Pethiyagoda, da Brookings Institution, trata da quest�o "estrat�gica" em si. O "objetivo de pol�tico externa dominante" da China, com a iniciativa Um Cintur�o, Uma Estrada, � "atingir paridade estrat�gica com os Estados Unidos na �sia e reordenar o ambiente de seguran�a do pa�s a fim de garantir que sua ascens�o n�o seja restringida".
A iniciativa Um Cintur�o, Uma Estrada pode contribuir para isso em parte porque "os investimentos em infraestrutura da China s�o realizadas de forma tal que sua influ�ncia sobre o pa�s recebedor � dif�cil de desalojar sem uma viola��o das normas econ�micas mundiais". Pethiyagoda oferece o Sri Lanka como exemplo de pa�s no qual uma mudan�a de regime n�o afetou em nada a posi��o chinesa.
Para perceber at� que ponto vai o lado pol�tico da iniciativa, estude os planos que vazaram sobre o Corredor Econ�mico China-Paquist�o, publicados recentemente pelo jornal paquistan�s "Dawn". Como apontaram meus colegas do "Financial Times" em sua an�lise sobre o corredor econ�mico, esse projeto imensamente ambicioso despertou preocupa��es no Paquist�o (e em outros lugares) em parte por conta do profundo envolvimento planejado para as alas industriais das institui��es militares chinesas.
Nada disso precisa significar que o Um Cintur�o, Uma Estrada seja m� ideia –especialmente n�o para a China–, ou que a iniciativa seja um jogo no qual s� um lado pode ganhar, e que o restante do planeta precisa combater. Mas significa, como argumentamos na semana passada, que o resto do mundo precisa entender a iniciativa como o plano geoestrat�gico que ela �, e que os pa�ses deveriam responder a ela de acordo com suas vis�es geoestrat�gicas.
Isso se aplica acima de tudo � ponta oposta do eixo que a China est� tentando construir: os pa�ses europeus e a Uni�o Europeia.
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis