Perseguida em Mianmar, minoria isl�mica foge de viol�ncia militar
Hassina Begun, 35, deu � luz 8 filhos, mas em seu barraco, no campo de refugiados de Kutupalang, em Cox's Bazar, Bangladesh, apenas 4 meninas, sobreviventes, vivem com ela.
Na mais recente ofensiva do Ex�rcito de Mianmar contra a minoria mu�ulmana rohingya, Hassina conta que militares birmaneses invadiram de madrugada seu vilarejo, em Rakhine, no oeste de Mianmar.
"Pegaram os homens, meninos e os levaram para a planta��o de arroz. Eles foram obrigados a colocar a cabe�a na �gua. Amea�avam disparar se algu�m levantasse, mas eles atiraram do mesmo jeito. Quem n�o morreu pelos tiros foi degolado com uma faca", relata a refugiada rohingya, sentada no ch�o de seu barraco feito de bambus e pl�stico.
Entre os assassinados estavam o marido e tr�s filhos de Hassina. O filho mais novo, Hiyazudin, 3, sobreviveu e assistiu ao massacre da fam�lia. "Ele chorava chamando pelo pai", afirma.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Ap�s os disparos, conta a refugiada, os militares ergueram cinco pilhas de corpos. "Numa pilha cheguei a contar 32 corpos. Depois jogaram querosene e atearam fogo", afirma. Hiyazudin continuava chorando, sozinho, enquanto os corpos eram carbonizados.
"Os militares o pegaram e o jogaram na fogueira, vivo. Queimaram meu beb� vivo." Hassina cobre o rosto com seu hijab negro enquanto chora. Seu vilarejo tamb�m foi incendiado.
A "opera��o limpeza" encabe�ada pelo Ex�rcito de Mianmar entre outubro de 2016 e fevereiro deste ano seria uma resposta � morte de 9 policiais birmaneses em consequ�ncia de um ataque de rebeldes em Maungdaw, perto da fronteira com Bangladesh.
De acordo com a ONU, a viol�ncia contra os rohingyas teria deixado mais de mil mortos, incluindo crian�as. A ONU ainda acusa as for�as de seguran�a birmanesas de torturas, estupros em s�rie e desapari��es for�adas que poderiam ser considerados "crimes de lesa humanidade" e "limpeza �tnica".
"Estes fatos foram cometidos com base na identidade das v�timas", afirma � Folha, Adama Dieng, assessor especial para a Preven��o de Genoc�dio da ONU. "Podemos estar frente a uma situa��o de crimes atrozes e h� risco de genoc�dio."
O governo de Mianmar, da l�der de fato e pr�mio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, nega as acusa��es. Em entrevista � BBC, Suu Kyi diz que "limpeza �tnica � muito forte" para definir os crimes cometidos em Rakhine. "Acho que h� muita hostilidade l� —s�o mu�ulmanos matando mu�ulmanos", afirma.
A ONU aprovou, em mar�o, uma resolu��o que determina o envio de uma miss�o internacional a Rakhine para investigar os crimes denunciados pelos rohingyas, "garantindo plena responsabilidade aos perpetradores e justi�a para as v�timas".
Por enquanto, Mianmar rejeita a entrada da comiss�o internacional e a qualifica como "inaceit�vel".
Ap�s a repress�o, mais de 75 mil rohingyas fugiram para Bangladesh, nos campos de refugiados de Kutupalang e BaluKhali. Eles dependem fundamentalmente da ajuda de ONGs. O esgoto corre a c�u aberto enquanto as crian�as brincam, nuas, em meio � sujeira. C�lera, difteria, mal�ria e hepatite j� afetaram mais de mil pessoas s� em Kutupalang, de acordo com o m�dico Nur Al Qalay.
Um homem vestido com uma t�nica branca se aproxima de um terreno baldio —convertido em cemit�rio— carregando um corpo diminuto envolto em um tecido branco. "Disseram que ele n�o tinha for�as", disse o refugiado Abul Kalan enquanto arrastava um pouco de terra para fechar o t�mulo do filho, nascido havia dois dias. Nos �ltimos 3 meses, morreram 27 beb�s rec�m-nascidos, filhos de m�es refugiadas.
ESTUPROS
Taiaba Begun, 30, cruzou a fronteira h� um m�s. Era madrugada quando seu marido fugiu pouco antes da chegada dos militares. Gr�vida de 8 meses, ela gritou para acordar o filho de 7, pegou a pequena de 2 anos no colo e correu. "Quando olhei pra tr�s para ver se meu filho vinha, vi um militar cortando o pesco�o dele com uma faca", relata.
Taiaba n�o p�de parar para lamentar. Fugiu para outro povoado. L�, 12 dias ap�s ter dado � luz, seria atacada novamente. "Os militares jogaram minha beb� no ch�o e me estupraram."
O m�dico rohingya Nu Al Qalay afirma ter registrado mais de cem casos de viol�ncia sexual no �ltimo m�s. O n�mero total, no entanto, � indeterminado. O vice-diretor para �sia da ONG Human Rights Watch, Phil Robertson, diz que os estupros s�o uma "arma de guerra" usada pelo Ex�rcito birman�s. "Estamos diante de uma cat�strofe humanit�ria. � preciso det�-la."
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