Mu�ulmanos denunciam persegui��o de governo hindu na �ndia
Isabel Fleck/Folhapress | ||
Pessoas caminham pelo bairro de Jamia Nagar, que concentra muitos mu�ulmanos, em Nova D�li |
Em outubro, a comiss�o criada pelo governo indiano para discutir mudan�as nas leis do pa�s divulgou um question�rio sobre o estabelecimento de um c�digo civil �nico. A ideia � consultar a popula��o, at� dezembro, sobre a op��o de uniformizar as leis em temas como casamento, ado��o e heran�a, hoje determinadas por cada religi�o.
Para os mu�ulmanos, no entanto, essa � a mais recente tentativa do primeiro-ministro Narendra Modi de marginalizar a minoria –que representa 14,2% dos indianos, mas, com 172,2 milh�es, � a terceira maior popula��o mu�ulmana do mundo, s� atr�s da Indon�sia e do Paquist�o.
Desde que Modi, do partido nacionalista hindu BJP (Bharatiya Janata Party), assumiu o poder, em 2014, os mu�ulmanos do pa�s se dizem perseguidos e enumeram decis�es do premi� ou de governos estaduais do BJP que teriam, segundo eles, por objetivo atingir o grupo.
Entre elas, est�o a criminaliza��o, em diferentes Estados, de quem abate vacas, comercializa ou come carne bovina –uma parte importante da dieta de indianos mu�ulmanos. Com o projeto de um c�digo civil �nico, o que se discute � o fim da poligamia –permitida pela lei isl�mica– e da pr�tica mu�ulmana do "talaq triplo" (quando o marido pode se divorciar da mulher apenas pronunciando a palavra "talaq" tr�s vezes).
"Estamos preocupados com as inten��es do atual governo, que tem sistematicamente perseguido minorias religiosas e estabelecido sua agenda de tornar a �ndia uma na��o hindu", diz Abdul Matin, presidente do YFDA, organiza��o de universit�rios mu�ulmanos em Nova D�li.
Para Ishtiaq Shauq, 24, mestrando em Filosofia pela Universidade Jawaharlal Nehru, a situa��o da minoria foi "de mal a pior" quando Modi e o BJP chegaram ao poder.
Chandan Khanna/AFP | ||
Mu�ulmanos indianos rezam na mesquita Jama Masjid, em Nova D�li, em julho |
Ele, por�m, � dos mu�ulmanos que culpam o premi� mais por n�o controlar os extremistas de seu partido e grupos nacionalistas do que por ter uma atitude negativa em rela��o ao grupo. Recentemente, a tens�o entre hindus e mu�ulmanos cresceu em universidades do sul do pa�s –em uma delas, o uso de burqas e hijabs foi proibida, assim como de barbas longas por homens.
"O sil�ncio criminoso de um primeiro-ministro t�o veemente � o reflexo do tipo de mudan�as pelas quais estamos passando desde que ele assumiu", disse.
Hilal Ahmed, professor no Centro para o Estudo de Sociedades em Desenvolvimento, em D�li, concorda: "Modi n�o fez nada que possa ser descrito como antimu�ulmano, mas abriu o caminho para um discurso antimu�ulmano."
Em Jamia Nagar, bairro que, por concentrar boa parte da popula��o mu�ulmana de D�li, � chamada de "Pequena Paquist�o", � praticamente imposs�vel encontrar algu�m que apoie Modi.
Nas ruas estreitas, o vendedor Mohamed Sufiyan, 21, resume o sentimento da comunidade: "nada do que Modi decida � bom para os mu�ulmanos –nem ele, nem o BJP".
O bairro �, na verdade, um gueto, para onde os mu�ulmanos come�aram a se mudar depois de n�o conseguirem se estabelecer em outros locais de D�li –e onde dizem se sentir seguros. "Os mu�ulmanos enfrentam problemas em alugar uma casa em determinados locais por causa da percep��o negativa que os outros indianos t�m", diz Matin.
Sufiyan diz ter medo de circular por outros bairros da cidade � noite. "Al�m do que certamente serei parado por um policial perguntando o que estou fazendo ali."
A estudante de Engenharia Mec�nica Tahera Saman, 20, � um exemplo do isolamento ao qual mu�ulmanos optam por seguran�a: ao se mudar de uma cidade de maioria mu�ulmana no interior para D�li, decidiu estudar numa universidade mu�ulmana e morar em Jamia Nagar. "� mais seguro ficar no ambiente onde somos maioria", disse.
PAQUIST�O
O acirramento do conflito na fronteira com o Paquist�o deve colocar ainda mais press�o sobre os mu�ulmanos. "Muitos indianos nos veem como potenciais terroristas e o conflito com o Paquist�o piora isso", diz Sufiyan.
Na divis�o do territ�rio controlado pelos brit�nicos at� 1947, foi o vizinho que abra�ou a maioria da popula��o mu�ulmana. "Desde os anos 60, o governo da �ndia usa o Paquist�o para intimidar os mu�ulmanos", diz Ahmed. "Agora n�o ser� diferente."
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Parcela mu�ulmana Maior concentra��o do grupo � na Caxemira |
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