Trump atropela previs�es e � eleito o 45� presidente dos Estados Unidos
Donald Trump, 70, se elegeu nesta quarta (9) o 45� presidente dos Estados Unidos, ap�s derrotar a ex-secret�ria de Estado Hillary Clinton e derrubar a maioria das pesquisas que, at� a linha de chegada, o pintavam como uma zebra.
O empres�rio ser� o primeiro presidente dos EUA sem uma carreira pol�tica e o presidente mais velho eleito pela primeira vez.
A confirma��o da vit�ria veio com as proje��es de vit�ria do republicano nos Estados da Pensilv�nia e de Wisconsin, por volta das 5h30 (hor�rio de Bras�lia). �s 11h15, Trump tinha 279 votos no Col�gio Eleitoral, segundo proje��o da Associated Press, contra 218 de Hillary. A vota��o nos EUA � indireta; entenda aqui como funciona.
A proje��o da Associated Press apontava �s 11h15 os dois candidatos quase empatados no voto popular, com a democrata registrando 47,6% e o republicano, 47,5%. O candidato derrotado no Col�gio Eleitoral pode acabar vencendo no voto popular.
A virada de Trump come�ou com a apura��o dos votos em alguns dos Estados-chave da costa leste do pa�s, que apareciam como mais disputados nas pesquisas, ainda que com alguma vantagem para Hillary.
A surpresa come�ou com Trump � frente na Fl�rida e na Carolina do Norte, dois dos Estados em que os candidatos fizeram campanha mais intensamente nas �ltimas semanas.
Logo depois, o republicano abriu vantagem sobre a democrata em Ohio, Estado essencial para que ele abrisse caminho para a vit�ria.
O mercado financeiro reage negativamente � vit�ria de Trump, com Bolsas em queda e d�lar em alta ante boa parte das moedas. O peso mexicano � o que tem a maior desvaloriza��o, de 7%. Na �sia, os �ndices fecharam em queda. Na Europa, as Bolsas tamb�m recuam. Nos Estados Unidos e no M�xico, os �ndices s� abrem �s 12h30 (de Bras�lia). O Ibovespa acompanha o mau humor global.
DO VEL�RIO � FESTA
Jeff Kowalsky/AFP | ||
O republicano Donald Trump participa de ato final de campanha em Michigan, nesta segunda-feira (7) |
No hotel em Nova York onde foi preparada a festa da vit�ria republicana, a poucas quadras do Trump Tower, o clima era de vel�rio no in�cio da noite, quando as primeiras proje��es negativas sugeriam vit�ria de Hillary.
Aos poucos, por�m, a euforia foi tomando conta do ambiente, � medida que a contagem dos votos em Estados importantes como Fl�rida e Ohio indicava que o bilion�rio estava no caminho da vit�ria.
Um dos convidados da festa, o produtor de TV Alan Sands, 54, era um dos que se agarravam a cada n�mero positivo. "Vamos ganhar com o voto de americanos que jamais foram �s urnas e se sentiram inspirados por Trump", disse. A uma poss�vel vit�ria de Hillary Clinton, ele reagiu com uma careta: "Jamais a chamaria de presidente".
O primeiro sinal mais forte de que a confian�a havia tomado conta do campo trumpista surgiu com a chegada ao evento do ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, que apareceu com um sorriso triunfante quando a apura��o ainda estava indefinida. "� uma grande noite", disse Giuliani, que foi um dos mais ferozes defensores de Trump e est� cotado para ser ministro da Justi�a no pr�ximo governo.
Diferentemente do ato de encerramento da campanha de Hillary, que foi aberto a seus eleitores, a festa da vit�ria de Trump foi fechada para convidados. "� um evento �ntimo para amigos", explicou � Folha um assessor da campanha no in�cio da noite, dando a impress�o de que n�o havia no lado de Trump confian�a suficiente na vit�ria que justificasse algo maior.
AGRESSIVIDADE
Em junho do ano passado, o empres�rio e ex-apresentador desceu a escada rolante da Trump Tower (seu QG em Nova York) para anunciar que estava entrando na corrida � Casa Branca; na ocasi�o, poucos o levaram a s�rio.
Trump derrotou praticamente todo o establishment americano, a come�ar por caciques do seu pr�prio partido. Prevaleceu sobre uma rara uni�o entre empres�rios, artistas e intelectuais renomados, al�m de grandes ve�culos de m�dia, que deram apoio � democrata Hillary Clinton.
O desfecho das elei��es premia uma das campanhas mais agressivas e n�o convencionais da hist�ria, e a ambi��o de um empres�rio que nasceu em ber�o de ouro, multiplicou sua fortuna entre v�rios neg�cios controversos e venceu na pol�tica explorando ao m�ximo a frustra��o do p�blico com a pol�tica tradicional.
Mais velho candidato j� eleito para a Casa Branca –Ronald Reagan tinha 69 anos quando assumiu, um a menos que ele–, Donald Trump venceu prometendo mudan�a e vendendo-se como o forasteiro pol�tico capaz de desafiar um sistema corrupto que tem na veterana Hillary Clinton seu maior s�mbolo de decad�ncia.
"Hillary trapaceira" foi o apelido com que se referiu � ex-secret�ria de Estado durante toda a disputa, encontrando resson�ncia num p�blico que a via como a imagem da desonestidade.
Sua ascens�o improv�vel desafiou o consenso entre os analistas de que n�o chegaria longe devido � inexperi�ncia na pol�tica, �s promessas vagas e ao linguajar vulgar. Mas ele foi h�bil em usar o rep�dio a seu favor, afirmando que era mais uma prova de que incomodava um establishment temeroso de mudan�as.
Carlo Allegri/Reuters | ||
Donald Trump vota com a mulher, Melania, em Nova York, nesta ter�a-feira (8) |
Nem a guerra civil gerada em seu partido, que gerou o movimento "Nunca Trump" deteve o empres�rio, que derrotou 16 pr�-candidatos para se tornar o candidato republicano mais votado na hist�ria das pr�vias da legenda.
Na reta final, sua campanha parecia ter afundado, depois da divulga��o de um v�deo de 2005 em que usava linguagem vulgar para se referir �s mulheres e sugerir que podia fazer o que quisesse com elas por ser famoso.
"Pegue-as pela xoxota", disse ele na grava��o, causando indigna��o e choque em boa parte do p�blico.
O naufr�gio de sua candidatura continuou depois que uma d�zia de mulheres o acusaram de ass�dio sexual, o que o bilion�rio negou, afirmando que elas eram trapaceiras a servi�o de Hillary.
Mas o empres�rio que baseou sua campanha no slogan "Fa�a a Am�rica grande novamente" deu a volta por cima, contando com o apoio de uma legi�o fiel de seguidores e de eleitores ocultos que passaram a perna nas pesquisas.
No fim, ainda contou com o impulso inesperado do FBI (pol�cia federal), que a 11 dias da elei��o reabriu a investiga��o sobre o uso, por Hillary, de um servidor privado de e-mail quando era secret�ria de Estado (2009-2013).
�s v�speras da elei��o o FBI reiterou a decis�o anterior, de que n�o havia motivo para indici�-la, mas o estrago estava feito.
Trump ganha a Casa Branca mesmo depois de ter insultado imigrantes mexicanos, mu�ulmanos, mulheres e pessoas com defici�ncia, num pr�mio a sua ret�rica contra o politicamente correto e uma vit�ria contra uma rival que ele demonizou por meses.
RUPTURA
Foi um duelo de vis�es de mundo bem diferentes em quase todos os temas, mas acima de tudo entre a continuidade das pol�ticas de Barack Obama, com Hillary Clinton, e a ruptura radical proposta por Donald Trump.
Vendo seu legado em risco, Obama entrou na campanha como nenhum de seus antecessores na hist�ria recente, tornando-se um cabo eleitoral de luxo para Hillary. Do outro lado, Trump prometia reverter medidas centrais do governo Obama, como a reforma do sistema de sa�de e o plano para evitar a deporta��o de imigrantes.
Joe Burbank/Orlando Sentinel | ||
Hillary brinca com uma imagem gigante de Obama dada a ela por um apoiador na Fl�rida |
A economia em recupera��o na reta final do governo Obama serviu de impulso para Hillary, mas n�o escapou da guerra de narrativas entre os candidatos.
Trump atraiu principalmente eleitores de classe m�dia baixa, que foram afetados no bolso pela desindustrializa��o em algumas partes do pa�s e sentem que perderam espa�o econ�mico e pol�tico nas �ltimas d�cadas com o crescimento das minorias que mudou o perfil demogr�fico dos EUA.
Os n�meros comprovam a retomada da economia ap�s a recess�o de 2008. A mais recente taxa de desemprego, divulgada em outubro, caiu para 4,9%, depois de bater na casa dos 10% em 2009.
Mas a ret�rica contra o sistema pol�tico que moveu a campanha de Trump tamb�m alvejou a credibilidade das estat�sticas do governo, com o bilion�rio afirmando que a taxa real de desemprego � de pelo menos 10%, algo que n�o p�de comprovar.
Trump tamb�m bombardeou o presidente Obama por comandar a recupera��o mais lenta desde a Segunda Guerra Mundial (a previs�o do Fundo Monet�rio Internacional de crescimento da economia americana � de 1,6% neste ano), desta vez com base em fatos.
Para a maioria dos economistas, por�m, os planos do candidato republicano, com grandes cortes de impostos e restri��es � imigra��o, poderiam causar s�rios danos ao pa�s, levando-o de volta � recess�o.
Trump conquistou uma parcela da popula��o que ficou para tr�s na retomada econ�mica, principalmente homens brancos sem n�vel superior. Mas a atra��o desse eleitorado por Trump n�o pode ser medida apenas pelo estado da economia, j� que seus eleitores t�m renda acima da m�dia nacional, segundo c�lculo do site FiveThirtyEight, do estat�stico Nate Silver.
Nas �reas do pa�s em que ele obteve mais apoio h� alta concentra��o de popula��o branca e de baixa instru��o, que valoriza princ�pios associados ao conservadorismo como a rejei��o ao direito ao aborto e a defesa intransigente da posse de armas.
ALTA VOLTAGEM
As diferen�as entre os dois lados da campanha resultaram numa das elei��es com maior polariza��o pol�tica e tens�o racial da hist�ria, despertando temores de que a divis�o ser� mantida depois que a disputa chegar ao fim.
Mark Ralston/AFP | ||
Donald Trump e Hillary Clinton se enfrentam no �ltimo debate presidencial, em Las Vegas |
Em retrospecto hist�rico, por�m, campanhas com alta voltagem pol�tica est�o longe de ser novidade nos EUA. Em 1912 o ex-presidente Theodore Roosevelt levou um tiro no peito durante um com�cio, e mesmo assim terminou seu discurso.
No exemplo mais recente, em 2000, o republicano George W. Bush s� foi declarado vencedor cinco semanas ap�s a elei��o, em meio a uma pol�mica recontagem de votos na Fl�rida. Al Gore venceu a disputa nacional com 543 mil votos a mais, e ainda assim n�o chegou � Presid�ncia.
A campanha de 2016, por�m, ser� lembrada como uma das mais sujas da hist�ria, com v�rias empreitadas pol�micas, a maioria protagonizada por Donald Trump.
Ap�s 14 temporadas � frente do programa de TV "O Aprendiz", o bilion�rio introduziu o estilo "reality show" na campanha presidencial, capitalizou a "raiva" de grande parte do p�blico contra o governo e derrotou seus muitos concorrentes na disputa republicana para se tornar o candidato presidencial do partido.
Sem um plano de governo claro, concentrou-se em insultos contra os rivais, colando neles apelidos pejorativos, como o de Hillary. Experiente e mais comedida, a democrata tamb�m acabou entrando na campanha negativa, explorando as declara��es de Trump contra latinos, mu�ulmanos e mulheres para enfatizar que ele n�o tinha temperamento para ser presidente.
Com isso, a corrida presidencial foi dominada por acusa��es m�tuas, com menos tempo dedicado a propostas e mais �s personalidades de dois dos candidatos mais impopulares da hist�ria.
Passada a disputa, a grande quest�o � como o vencedor ser� capaz de unir um pa�s rachado entre eleitorados que, em grande medida, foram movidos pelo �dio ao candidato rival.
A vit�ria de Trump tamb�m n�o dever� ser facilmente absorvida pelas lideran�as internacionais, j� que o republicano disparou contra mu�ulmanos, mexicanos, chineses, japoneses e coreanos, entre outros, gerando incertezas sobre suas posi��es e propostas.
Kena Betancur/AFP | ||
Presidente Barack Obama aparece em evento de Hillary na Filad�lfia, nesta segunda-feira (7) |
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis