EUA de hoje t�m tra�os do macartismo, diz filho do casal Rosenberg
Robert Meeropol, nascido Rosenberg, tinha 6 anos quando seus pais, o engenheiro Julius e a sindicalista Ethel, foram executados nos EUA em 1953, no auge do macartismo -a ca�a �s bruxas anticomunista que marcou o in�cio da Guerra Fria.
Divulga��o | ||
Robert Meeropol, filho dos americanos Julius e Ethel Rosenberg, executados nos anos 50 pelos EUA |
Hoje, o antrop�logo e advogado Meeropol -- sobrenome adotado do casal que o criou e ao seu irm�o, Michael, depois da morte dos pais - acha que h� tra�os do macartismo no p�nico antiterrorista que tomou os EUA depois dos atentados do 11 de Setembro.
"Voc� justifica tudo pelo medo. As pessoas v�o abrir m�o da liberdade pela seguran�a", diz ele, que est� no Brasil a convite do Centro Cultural Midrash, do Rio, dirigido pelo rabino Nilton Bonder.
Meeropol, autor de "Uma Execu��o na Fam�lia" (editora Casa Amarela), fez ontem e faz hoje, quinta, palestras em S�o Paulo, na Livraria da Vila. Ele diz que, embora de fato Julius Rosenberg tenha espionado para a Uni�o Sovi�tica durante a Segunda Guerra, nem ele nem Ethel passaram segredos da bomba at�mica, crime pelo qual foram condenados.
" Eles eram jovens idealistas que queriam um mundo melhor. Cometeram alguns erros e pagaram um pre�o alto."
Folha - Em 2008, Morton Sobell, que foi r�u junto com o casal Rosenberg, admitiu que ele e Julius de fato espionavam para a URSS. Isso mudou alguma coisa para voc�?
Meeropol - Confirmou o que suspeit�vamos. O importante de entender � que eles foram executados por terem roubado o segredo da bomba at�mica, e Sobell disse que eles n�o tiveram nada a ver com a bomba at�mica, mas que Julius teve envolvimento com outras atividades de espionagem menos importantes. N�o se podia dizer que meu pai era inocente, mas ele n�o fez aquilo pelo qual foi morto. Morgan tamb�m disse que Ethel n�o estava envolvida.
O julgamento foi um dos marcos do macartismo. O sr. ainda identifica na sociedade americana elementos da ca�a �s bruxas da �poca?
A base do macartismo � que havia uma conspira��o comunista internacional que destruiria nosso modo de vida. Portanto, a seguran�a nacional tinha que se transformar na maior preocupa��o. Quest�es de direitos constitucionais, civis e humanos ficavam em segundo lugar.
Nos dias de hoje, voc� s� tem que trocar a palavra terrorista por comunista e ter� a mesma equa��o. O governo diz que, porque a conspira��o terrorista vai destruir nosso modo de vida, a seguran�a nacional tem que ser n�mero um. Isso � a justificativa para tortura, para Guant�namo, para ataques de avi�es n�o tripulados. N�o � igual, mas � bem parecido. O paralelo mais impactante � o medo. Voc� justifica tudo pelo medo. As pessoas v�o abrir m�o da liberdade pela seguran�a.
Quando se fala no caso hoje, muitos esquecem que, na 2� Guerra, a esquerda americana era mais forte e a rela��o dos EUA com a URSS era amistosa, n�o �?
Havia na �poca um Partido Comunista relativamente grande nos EUA, com cerca de 100 mil integrantes. Os EUA e a URSS eram aliados. A esquerda era participante do processo pol�tico. O que o macartismo foi alijar a esquerda de participa��o leg�tima no processo pol�tico.
As pessoas de centro-esquerda, chamadas liberais nos EUA, deveriam escolher. Se apoiassem os Rosenberg, fossem contra a Guerra da Coreia, seriam acusados de ser comunistas, iam perder o trabalho. A op��o era ser um liberal anticomunista, apoiar a Guerra Fria e o crescimento do aparato de defesa, e a� ser parte do processo pol�tico. Antes do macartismo havia interc�mbio entre a esquerda e a centro-esquerda. Depois, um segmento do corpo pol�tico foi empurrado para fora do discurso aceit�vel. Hoje achamos que sempre foi assim, mas n�o era. Foi uma mudan�a muito grande, e que tem impacto at� hoje.
Por isso era inevit�vel que Barack Obama fosse uma decep��o nesse aspecto da guerra ao terror?
Se Obama n�o mantivesse o que Bush fez, ele seria percebido como fraco. Hoje ele pode reivindicar a morte de Bin Laden, a destrui��o da Al Qaeda. Mas n�o � s� uma quest�o de ele manter as pol�ticas do governo Bush, � pior.
Quando era s� Bush, pod�amos dizer que era uma aberra��o, n�o a norma. Mas quando vem um presidente democrata que tem como slogan a mudan�a e faz o mesmo, � muito mais perigoso. Em certo sentido, � uma prova de fraqueza, porque se voc� � de fato forte n�o precisa provar.
O sr. tem uma associa��o, o Rosenburg Fund for Children, para proteger filhos de pais progressistas que s�o perseguidos. H� muitas casos desse tipo?
Os casos s�o pouco relatados, e � de fato um n�mero relativamente pequeno. Isso cria duas situa��es para n�s. Se o n�mero n�o � grande, o projeto � administr�vel. No lado negativo, se voc� � um dos poucos perseguidos, � mais dif�cil para sua fam�lia enfrentar isso porque voc� est� mais isolado. N�s temos casos como o de um pai processado por levar os filhos a um protesto e que pode perder a guarda deles, uma m�e ativista demitida. Ajudamos de 200 a 300 crian�as por ano agora.
O qu�o importante o antissemitismo foi para condena��o de seus pais e como a comunidade judaica dos EUA mudou desde ent�o?
A maneira como o antissemitismo funcionou no caso dos meus pais n�o � simples. O juiz era judeu, o promotor e os advogados eram judeus. O juiz tinha que demonstrar sua lealdade ao pa�s com uma senten�a dura. O antissemitismo funcionou ao contr�rio.
Quando houve um grande movimento para impedir a execu��o dos meus pais, a comunidade judaica estava dividida. Muitas pessoas do movimento eram judeus, mas tendiam a ser relativamente pobres e com pouco poder. Quanto mais poderoso voc� era na comunidade judaica, maior era a possibilidade de voc� apoiar o governo, porque voc� queria provar sua lealdade. O julgamento ocorreu apenas cinco, seis anos depois do Holocausto, e temia-se que ele se repetisse nos EUA. Ent�o o setor mais poderoso da comunidade judaica tendeu a apoiar o governo, e continuou sendo assim at� a queda do Muro de Berlim.
Nos anos 1970, eu e meu irm�o come�amos um esfor�o para limpar os nomes de meus pais, e o setor mais poderoso da comunidade judaica n�o nos apoiou, temendo ser visto como pr�-sovi�tico. Quando a URSS acabou, a comunidade come�ou a repensar a situa��o. Mas isso foi compensado pelo fato de que nos �ltimos 20 anos a comunidade judaica se tornou em geral mais conservadora. Agora temos pessoas mais abertas a explorar o antissemitismo e a injusti�a do caso. Ao mesmo tempo, temos uma atitude mais conservadora que levar� outros a dizer que n�o se importam com isso.
O senhor e seu irm�o avaliam que conseguiu limpar o nome dos seus pais?
Desde o come�o, e tenho muito orgulho disso, nossa primeira atitude foi entrar com um processado baseado na Lei de Liberdade de Informa��o. Perguntavam: e se as informa��es desclassificadas mostrarem que eles eram culpados? Nossa resposta era, n�o queremos isso, mas a coisa mais importante � que a verdade venha � tona.
Se ela provar que estamos total ou parcialmente errados, isso � melhor do que manter tudo em segredo. Nosso sucesso em obter a desclassifica��o de cada vez mais material conseguiu mostrar o que de fato aconteceu.
Como resume o caso 60 anos depois?
Para mim, apesar de Julius Rosenberg ter estado envolvido em ajudar a URSS nos anos 1940, durante a 2� Guerra, o governo manufaturou este caso contra eles baseado no segredo da bomba at�mica, para seu proveito pol�tico, e acabou executando duas pessoas por algo que n�o fizeram.
No caso da minha m�e, acredito que ela sabia o que meu pai estava fazendo, que dava apoio a ele, mas n�o que estivesse diretamente envolvida. A prenderam para coagir o meu pai, como uma ref�m. Quando meu pai se recusou a capitular, eles a mataram.
Queriam que seu pai delatasse outras pessoas, n�o?
Meu pai era importante para eles porque recrutou outras pessoas. Ele n�o era um grande cientista. Era formado em engenharia. Trouxe outras pessoas com treinamento t�cnico para o grupo, e por isso conhecia muita gente. Representava quantidade, n�o qualidade.
Era um espi�o amador. Eram pessoas que apoiavam ideologicamente a Uni�o Sovi�tica e que acreditavam que esse era o caminho de trazer progresso ao mundo e combater os nazistas. Eles eram jovens idealistas que queriam um mundo melhor. Cometeram alguns erros e pagaram um pre�o alto.
Como o sr. v� o movimento Ocupe Wall Street?
Acho que o que eles fizeram de brilhante foi divulgar esse conceito de que h� os 99% e h� o 1%, que aqueles no topo do poder e da riqueza governam todo mundo. Acho que muita gente entendeu isso.
Eu n�o posso mais, na minha idade, acampar numa pra�a. N�o quero ser aquele velho dizendo aos jovens o que fazer. Lembro que nos anos 1960, quando eu era jovem, todos da gera��o de 1930 nos diziam o que fazer. Eu pensava que eles deviam escutar mais e falar menos. N�o quero repetir isso.
Ent�o aprecio o movimento, mas n�o sei para onde vai. Tenho esperan�a de que continue a se expandir, porque nossa sociedade tem s�rios problemas econ�micos, ecol�gicos, e eles devem ser combatidos. A atual ordem social os est� tornando pior.
SERVI�O
Robert Meeropol
Local: Livraria da Vila no Shopping Cidade Jardim
Quando: 20/6 e 21/6
Hora: 19h30
Inscri��o: R$ 115 um dia e R$ 190 dois dias, no site
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