Micro e pequenas empresas exportaram US$ 80 milhões ( R$ 409 milhões) para a Argentina em 2023, queda de 27% em relação aos US$ 110 milhões (R$ 562,6 milhões) de 2022. O número de companhias desse porte que venderam para o país vizinho caiu de 1.034 para 812 no mesmo período.
Os dados são do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e foram divulgados neste mês. O valor exportado por pequenas empresas —que hoje representa 0,5% do total— vinha crescendo nos últimos anos, mas tombou em 2023.
Entraves burocráticos implementados na gestão Alberto Fernández (2019-2023), falta de dólares e erosão do poder aquisitivo da população argentina são fatores elencados por empresários e especialistas para explicar a queda.
Empossado no fim do ano passado, Javier Milei derrubou grande parte das medidas anti-importação herdadas da gestão anterior.
"Eram 180 dias entre a entrega do produto e o pagamento", diz Israel Reis, gerente de exportações do grupo gaúcho Mould, que produz os calçados Boaonda e tem clientes na Argentina desde 1992.
Ele se refere às restrições para o pagamento das encomendas, tentativa do governo Fernández de segurar dólares no país.
Reis calcula em 40% a redução nas vendas do grupo Mould para o país em 2024, na comparação com o primeiro trimestre de 2023 —o país responde por mais de um terço das exportações da marca.
"Comparada a outros países, a situação é muito mais difícil", afirma Tamiris Kuhnen, diretora executiva da confecção de lingeries 2Rios, baseada em Joinville (SC).
A cliente da 2Rios na Argentina, uma rede de lojas de roupas, interrompeu a importação de peças em função das barreiras burocráticas e da falta de dólares.
A DM Beachwear, uma pequena confecção de moda de praia sediada em Araguaína (TO), registrou queda de 50% nas encomendas do país vizinho.
"Em 2023, vendíamos em média 30 pacotes por mês", diz Daniel Marinho, fundador da empresa. "Agora, são 10 a 15 encomendas mensais."
Com faturamento de R$ 50 mil mensais, a marca recebe encomendas pelo Instagram e por meio de site.
"As importações argentinas vivem um momento de queda significativa", diz Federico Servideo, empresário e membro da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira. "A inflação deteriorou o poder de compra da população."
Entre as mais altas do mundo, a inflação argentina bateu 211% em 2023. Ao mesmo tempo, metade da população vive em situação de pobreza.
A importância do Brasil na economia local também diminuiu na última década.
O estoque de capital brasileiro caiu 19,8% entre 2012 e 2021, enquanto a participação do Brasil nas importações argentinas caiu cinco pontos percentuais no mesmo período.
"Ainda assim, é um parceiro prioritário e estratégico", diz Igor Celeste, gerente de inteligência de mercado da Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Ele destaca que o Brasil é o principal parceiro comercial do vizinho e que o mercado é relevante para micro, pequenas e médias exportadoras.
Além das dificuldades econômicas vividas na Argentina, diz Celeste, pequenas empresas exportadoras encontram gargalos no financiamento e no valor dos fretes, "embora o ecommerce tenha facilitado, permitindo exportar em pequenas quantidades", afirma.
O governo Milei derrubou barreiras à importação. A necessidade de autorização prévia caiu para a maior parte dos produtos, e os prazos de pagamento foram enxugados.
"Eram 30 dias entre fechar negócio e receber autorização para a exportação", diz Hamilton Pedromonico, executivo de contas da W3SAT, uma fabricante de antenas parabólicas beneficiada pelas novas regras. "Isso acabou."
A mudança deve facilitar a vida de exportadores brasileiros. "Nossa expectativa é de que será um ano difícil [pelos ajustes, que têm aumentado níveis de pobreza na Argentina], mas depois as coisas vão melhorar", afirma Reis, do grupo Mould.
"É um mercado com muito potencial", afirma Kuhnen, da 2Rios. "Não perdemos a esperança."
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