Micro, pequenos e médios empresários do setor têxtil e de vestuário investem em coleções hibridas e tecidos inteligentes, com peças que podem ser usadas tanto nos dias mais frios, com sobreposições, como nos dias mais quentes.
A estratégia surgiu para driblar os altos e baixos das temperaturas ocasionados pelas mudanças climáticas. O inverno de 2023 foi um dos mais quentes da história, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Em São Paulo, a fabricante de moda masculina Oriba tem 50% do portfólio permanente, projetado para atender ao que a empresa chama de clima imprevisível durante todo o ano.
Desde que a marca foi fundada, em 2013, as peças são feitas com tecidos naturais, pensadas para durar mais tempo e serem usadas em camadas sobrepostas.
Segundo o fundador, Rodrigo Ootani, a ideia é ter um mix que acompanha o cliente o ano inteiro, seja no verão ou no inverno. Hoje, a empresa tem 70 funcionários.
Outras fabricantes seguem linha similar, para driblar a instabilidade climática.
Desde 2020, as novas coleções de pijamas outono-inverno da Mensageiro dos Sonhos são híbridas e atemporais.
Os modelos atuais são formados por calça, blusa ou regata e, por cima, dependendo da temperatura, um casaquinho de manga longa ou quimono. Os tecidos mais quentes, como plush e flanela, foram substituídos por malha de algodão, microfibra, cetim e malha fria.
O plush representa apenas 20% da coleção de inverno, contra 60% de anos atrás. Os modelos mais quentes foram mantidos, em menor escala, para atender clientes do Sul.
Desde que implementou as adaptações, a empresa passou a vender mais para o Nordeste, com crescimento de 9% a 10% ao ano.
A fábrica, instalada em Brusque (SC), um dos maiores polos de produção têxtil do país, tem hoje cerca de 200 funcionários diretos. A empresa produz entre 500 mil e 600 mil peças por mês, totalizando 5 milhões de unidades por ano. A maior demanda é absorvida pelo mercado interno, mas a empresa já exporta cerca de 10% de sua produção para vizinhos da América do Sul e para países da América Central.
A expectativa é que haja aumento de 15% a 20% neste primeiro semestre, quando é trabalhada a coleção outono-inverno, em relação ao anterior.
A empresária Rita Conti, sócia da Mensageiro dos Sonhos, diz que está sempre está se atualizando. Ela participa de cursos e congressos e diz que isso faz muita diferença na hora de tomar as decisões e de fazer mudanças.
Para ela, no entanto, nem sempre isso é possível para empreendedores. "Às vezes o empresário fica tão envolvido com as questões do dia a dia, que não consegue se atualizar, e isso acaba atrapalhando muito", afirma Conti.
Entre 85% e 90% das empresas setor têxtil e de vestuário no Brasil são micro, pequenas e médias.
De acordo com a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), a coleção de inverno sempre foi de maior risco, porque o Brasil é um país tropical.
Normalmente, no primeiro semestre, o faturamento da indústria têxtil gravita entre 40% e 45% do total anual. A diferença, 55% a 60%, ocorre no segundo semestre, diz o presidente da entidade, Fernando Pimentel. A expectativa para o outono-inverno deste ano é de um crescimento de até 3%, mas por conta de uma base de comparação fraca, em 2023.
De acordo com a consultora de negócios do Sebrae-SP Patrícia Zuccari, o grande empresário tem acesso a softwares de previsão de clima, mas o pequeno não.
"Nós temos dois perfis de empresários. Um sempre está correndo atrás das mudanças. O outro ainda tem muita dificuldade para entender a importância de tentar se adaptar. E nós percebemos que aqueles que conseguem têm melhores resultados nos seus negócios."
Para Zuccari, é preciso ficar atento, por exemplo, se o frio vai ser menos intenso, o que ocorre especialmente no caso de haver o fenômeno El Niño —o aquecimento acima do normal da água do oceano Pacífico, que altera temporariamente a distribuição de umidade e calor no planeta, principalmente na zona tropical.
"Então, não adianta comprar muito. É importante olhar o seu estoque dos anos anteriores e procurar investir de forma versátil, em peças atemporais e de meia-estação", afirma Zuccari.
A indústria de malhas Textilfio, de Jaraguá do Sul (SC), está se adaptando. A marca desenvolveu tecidos mais leves e tecnológicos que podem ser usados em qualquer estação, como o algodão e o linho.
O uso do poliéster, fibra sintética derivada do petróleo usada na composição de alguns tecidos, foi reduzido porque é menos sustentável e torna a peça mais quente.
Ana Paula Gatti, designer têxtil da Textilfio, diz que, antigamente, a proporção chegou a ser 70% poliéster e 30% algodão. Hoje, o uso do segundo material aumentou, chegando a 100% em alguns casos.
A empresa ainda reduziu a produção de moletom peluciado, mais quente, e aumentou a de um tipo de malha com toque aveludado, leve e fresca.
A Textilfio também mudou a estratégia de vendas, diminuindo de 10 para 3 rolos a quantidade mínima que pode ser comprada. Assim, os clientes, especialmente os pequenos, podem levar mais tipos e cores e aumentar a variedade de peças produzidas.
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