Influencers esotéricos utilizam as redes sociais para conquistar mais clientes para seus negócios. Alguns optam em fazer das páginas do Instagram e do Youtube, por exemplo, espelhos de seus serviços e transformar seguidores em consumidores. Há também aqueles que chegam a ganhar milhares de reais por conteúdo publicado em seus perfis.
A Folha ouviu depoimentos de seis influencers sobre como lidam com a monetização de seus negócios. Há bruxa, mago, astrólogo, taróloga e condutor de práticas xamânicas. Conheça-os:
‘Rituais não são cura, são orientações’
Tânia Gori, 53, fundadora da Casa de Bruxa [escola de cursos esotéricos], Santo André (SP)
As pessoas me perguntam o que uma bruxa faz. Ela é uma pessoa que se coloca contra os erros da sociedade. É questionadora e rebelde.
Com a modernização, a bruxa se tornou uma terapeuta, conselheira e oraculista. Ser bruxa não é saber o que o outro está pensando e voar de vassoura.
Atendo meus clientes por meio do tarô, da runa ou de um oráculo que fale comigo. Posso também indicar rituais com banhos, ervas e cristais. Isso tudo não é cura, é orientação.
A Casa de Bruxa surgiu em 1996. Na época, sentia um vazio por não fazer o que gostava, profissionalmente —sou bacharel em contabilidade e teologia. Aí decidi criar uma escola que ensinava as pessoas sobre o meio holístico.
Desde então, ensinamos 30 mil alunos a, por exemplo, fazerem rituais. Hoje, a empresa tem 15 funcionários registrados e 50 autônomos.
As redes [ela tem cerca de 72 mil seguidores no Instagram] ajudam a minha imagem e mantêm o negócio. Não ganho dinheiro nelas, mas penso em criar um podcast. Adoro contar histórias.
‘Meu propósito é ajudar os outros pela espiritualidade’
Sue Muniz, 28, taróloga e criadora da página Águas de Março, Itacaré (BA)
Ainda não ganho dinheiro com a minha página de 105 mil seguidores no Instagram por si só.
Uso o alcance, então, para conseguir clientes de tarô. Hoje, tenho entre 10 e 15 por mês e quero chegar aos 30. Cada consulta custa R$ 120. Também trabalho numa loja, mas imagino que no futuro o tarô será minha única fonte de renda.
Há três anos, tive depressão. Na época, morava em São Paulo e trabalhava como publicitária. Fui mandada embora e paguei terapia com o valor da rescisão.
Essa psicóloga também era dirigente de uma casa de ayahuasca e me apresentou à espiritualidade. Comecei a fazer mapa astral, estudei tarologia e voltei para a Bahia. Desde então, minha vida profissional destravou. Descobri que meu propósito é ajudar os outros por meio da espiritualidade.
Foi nessa época que mudei o foco do Águas de Março. Até então, era um perfil, com 40 mil seguidores, sobre música, arte e cultura —daí o nome da página. Quando resolvi escrever sobre autoconhecimento, o número de seguidores começou a crescer.
'Sem monetizar redes, ganho o suficiente para viver bem aos 65’
Léo Artese, 65, fundador do site Xamanismo Universal, São Paulo
No início da minha carreira no xamanismo, na década de 1990, eu divulgava o trabalho em livrarias esotéricas e em lojas de produtos naturais. Já com a internet, criei o site e as redes sociais. Essa é a forma atual de entrar em contato com o público.
Tenho 240 mil seguidores no Facebook e 57,5 mil no Instagram.
Ainda não tenho o intuito de monetizar as redes. Minha equipe de conteúdo comenta que eu deveria virar influencer, mas trazer as práticas de mercado para a nossa área pode fazer com que percamos a essência da espiritualidade.
Trabalhei por vários anos como gerente de marketing numa multinacional.
Em 1994, tive depressão e abandonei o emprego. Desde então, sou mestre de cerimônia e vendo cursos sobre xamanismo. Já trabalhei na Europa, nos EUA e no Caribe.
As entradas custam, em média, R$ 200. Mas ninguém fica sem ir pelo dinheiro. Se a pessoa não tem condições, peço para ela ajudar em algo estrutural do evento.
Ganho o suficiente para, aos 65, ter o meu carro e uma boa qualidade de vida.
‘Já fechei contrato de publicidade de até R$ 40 mil no Instagram'
Tatiane Lisbon, 30, astróloga e criadora da página A Papisa, São Paulo
Minha marca foi criada em 2016. Além do perfil no Instagram [com 70,5 mil seguidores], tenho blog, loja e ofereço consultas online.
A maior remuneração vem da publicidade. Comecei a receber por isso em 2018. Na época os anúncios eram só de moda e beleza, mas a pandemia pulverizou a astrologia para outras áreas.
O preço varia. Se for um story do Instagram, custa entre R$ 8.000 e R$ 10.000. Algo mais elaborado, com posts e vídeos no feed, é mais caro. Já fechei publicidade de até R$ 40 mil.
Grande parte desse dinheiro é investida na própria Papisa. Quero estruturá-la como empresa.
Isso é muito diferente dos últimos anos: formei-me em design de interiores, mas não gostei da área. Em 2015, tentei ganhar dinheiro fazendo o que eu gostava: tarô e astrologia.
Fui contratada em 2017 por um call center esotérico. A empresa cobrava R$14,90 dos clientes por minuto. Eu recebia um salário mínimo.
Na época, conheci a astróloga Madama Brona, e ela compartilhava meu trabalho nas redes dela. Aí minha página estourou.
‘Ainda é bom estar na TV, mas nas redes as coisas viralizam mais'
Edu Scarfon, 36, astrólogo e tarólogo, São Paulo
Hoje considero Instagram e YouTube mais importantes que rádio e TV. Fui projetado por programas de Rede TV, SBT e Gazeta, mas não posso ficar refém delas.
Embora ainda seja bom aparecer na TV, o conteúdo nas redes sociais viraliza mais rápido. Nelas, dá para conversar com seu público diretamente.
Meus perfis ganharam seguidores em 2014, quando venci "Os Paranormais" [quadro do programa Domingo Legal, no SBT]. Na época, porém, as redes sociais eram pouco exploradas comercialmente, e aproveitei só o aumento no número de consultas de tarô e mapa astral.
Nas minhas lives no Instagram e no Youtube, hoje, cobro R$ 25 por resposta. O pagamento é via Pix. Isso ajuda quem não pode pagar uma consulta [cerca de R$ 350].
Também ganho com publicidade. Anuncio produtos naturais, de alimentação saudável e utensílios para pets. Animais são importantes para as energias positivas.
Há um ano, criei a Astral TV, emissora online focada em espiritualidade e bem-estar.
‘O maior desafio é conseguir saber onde está o seu público’
Ricardo Hida, 46, astrólogo, São Paulo
Hoje, o mercado esotérico atende jovens, velhos e pessoas de esquerda e de direita.
O meu público é de pessoas acima dos 45. Converso com eles na rádio Vibe Mundial FM e em textos para revistas. Geralmente, são as pessoas para quem vendo cursos.
As redes sociais são trampolins para o meu trabalho. O objetivo é ter mais visibilidade nelas para que mais pessoas cheguem aos cursos.
O desafio é saber onde está o público. Fiquei surpreso, por exemplo, quando meu vídeo teve cerca de 300 mil visualizações no TikTok.
Minha remuneração é diferente da dos influenciadores de milhões de seguidores, porque foco em cobrar mais por um serviço melhor, e não atiro para todos os lados.
Cobro R$ 600 por um mapa astral, e no mínimo R$ 300 por curso. Esse mercado esotérico é muito fiel e tem taxa de retorno alta. Quando alguém gosta, volta.
Também sou pesquisador do Núcleo de Estudos de Novas Religiões e Novas Espiritualidades da PUC-SP.
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