Franquias têm fase de recuperação marcada por repasse da alta de custos

Primeiro trimestre do ano teve crescimento de 8,8%, mas maioria dos empresários reajustou preços

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São Paulo

O setor de franquias segue em retomada. De acordo com a ABF (Associação Brasileira de Franchising), o faturamento em 2021 chegou a R$ 185,07 bilhões, uma alta de 10,7% sobre 2020. O resultado carrega as distorções geradas pela crise sanitária, mas uma análise sobre os dados de janeiro a março mostra que, de fato, há recuperação.

O primeiro trimestre de 2022 terminou com um crescimento de 8,8% em relação ao mesmo período de 2021.

Retrato de Ellen Fernandes, fundadora da academia Red Fitness com o sócio Ronaldo Godoi.
Ellen Fernandes e Ronaldo Godoi, sócios da academia Red Fitness, empresa que adaptou o negócio para o modelo de franquias - Jardiel Carvalho/Folhapress

Os destaques foram os segmentos de moda (alta de 13,5%) e de saúde e bem estar (13,4%). Ambos foram muito impactados pelos períodos de fechamento das lojas devido à necessidade de distanciamento social.

"Acho que o setor atravessou a pandemia de cabeça erguida, foi um momento para as redes repensarem seus negócios, se encontrarem com seus fornecedores e fortalecerem o relacionamento entre franqueador e franqueado", diz André Friedheim, presidente da ABF.

A retomada, contudo, tem o aumento dos custos como entrave. Um estudo feito pela associação em 2021 mostrou que 67% das marcas afirmaram ter repassado o impacto da inflação aos clientes por meio de reajustes.

"Parte dessa alta no faturamento foi aumento de preços, mas o principal fator que influenciou foi que o franchising passou a chegar ao consumidor de outras formas, com maior uso dos recursos digitais", diz Friedheim.

Ainda há um resquício de medo de investimento, algumas tratativas estão paralisadas

Flávia Nunes

consultora de varejo e franquias da Complement

Para empresas em que o ambiente virtual não poderia substituir o presencial, foram tempos de reorganização e novos planos.

"Durante o período em que estivemos fechados, negociamos os aluguéis, suspendemos os contratos dos funcionários, renegociamos fornecedores de curto prazo e controlamos o caixa que a empresa tinha", diz Cezar Miquelof, sócio e diretor financeiro da rede de academias C4 Gym, que tem unidades em São Paulo.

O empresário explica que, quando foi autorizada a reabertura por três horas ao dia, a proximidade entre os estabelecimentos da rede permitiu fazer um rodízio de horários.

"Abrimos uma unidade pela manhã e outra à tarde, conseguindo atender os alunos por mais tempo que as demais academias da região. Nesse momento entendemos o poder de uma rede."

Miquelof diz que a retomada está superando as expectativas. "Estamos com 30% mais alunos do que antes da pandemia, já recuperamos todas as perdas que tivemos durante esse período. A população entendeu que o exercício físico é importante para saúde."

A rede está entrando para o franchising com expectativa de faturamento de R$ 8 milhões neste ano, com abertura de oito unidades até o final de 2023.

A Red Fitness também decidiu acelerar a expansão em meio à pandemia. "Ficamos confiantes na demanda reprimida, que após esse período as pessoas estariam priorizando ainda mais a saúde", afirma Ellen Fernandes, cofundadora da rede de academias.

O processo teve início em 2021, com dois novos estabelecimentos próprios em São Paulo. Neste ano, o modelo de negócio foi adaptado para o franchising, com o objetivo de se espalhar pelo território nacional. "Para 2026, o objetivo é somar um total de 70 academias e atender cerca de 140 mil alunos", afirma Ellen.

Apesar de os números serem positivos, Flávia Nunes, consultora de varejo e franquias da Complement, diz que esperava um pouco mais de agilidade no processo de retomada. "Ainda há um resquício de medo de investimento, algumas tratativas estão paralisadas", afirma ela.

"Tenho visto um crescimento, sim, mas nas franquias menores. As pessoas estão tentando se enquadrar em áreas de menor investimento, mais ‘pocket’, como beleza e estética", diz a especialista.

"Temos empresas empenhadas em sair dos grandes centros, que estão saturados, e ir para o interior." A busca por esses mercados fez Paulo Zarh, fundador e presidente da rede de clínicas OdontoCompany apostar em opções para cidades pequenas. "Já tínhamos modelos de negócios para cidades com até 30 mil habitantes mesmo antes da pandemia, hoje estamos presentes em todos os estados."

A expansão da rede de serviços odontológicos foi acelerada durante a pandemia. Segundo Zarh, a marca saltou de 997 unidades em 2020 para 1.631 em 2021, e hoje está entre as 15 maiores franqueadoras do Brasil, de acordo com o ranking da ABF.

A área de turismo está voltando com força, mas cresce sob uma base menor. Mas há, sim, uma demanda por turismo, todos querem passar um fim de semana fora

Ana Virgínia Falcão

presidente-executiva da agência Clube Turismo

Enquanto novas oportunidades surgiram no setor de saúde e bem estar, a área de hotelaria e turismo, a mais afetada pela crise sanitária, busca se recompor. Segundo a ABF, esse foi o segmento que mais cresceu em 2021: alta de 51,5% no faturamento sobre o ano anterior.

O resultado se deve principalmente à forte retração gerada pela crise sanitária ao longo de 2020, com interrupção da malha aérea e fechamento de hotéis mundo afora.

"A área de turismo está voltando com força, mas cresce sob uma base menor. Mas há, sim, uma demanda por turismo, todos querem passar um fim de semana fora", afirma Friedheim.

Quem conseguiu suportar as perdas ao longo da pandemia acelera a retomada.

"Ainda não recuperamos todo o prejuízo da pandemia, mas estamos muito próximos a isso", afirma Ana Virgínia Falcão, presidente-executiva da agência de viagens Clube Turismo. "Em alguns meses de 2022, já foi possível atingir faturamento superior ao alcançado no mesmo período de 2019." A empresária diz que buscou preservar o caixa no período de baixa receita e criou novos produtos.

"Intensificamos as capacitações dos nossos franqueados sobre os direitos dos nossos passageiros para situações de cancelamento e remarcação de serviços e protocolos de segurança para viagens."

Segundo Ana, há muitos agentes de viagem entre os novos franqueados. São profissionais que perderam o emprego no setor de turismo e optaram por empreender. Nesse cenário, foi preciso criar condições facilitadas para pagamento das taxas.

A consultora Flávia Nunes explica que um dos grandes desafios das empresas em um momento de retomada é preservar a qualidade no atendimento, o que depende dessa capacitação constante.

"No caso de novos negócios, o que vai fazer diferença é o investimento em treinamento. Os pequenos têm mais esse desafio para se manter no mercado", afirma ela.

A recuperação do setor coincide com a volta da ABF Franchising Expo ao formato presencial neste ano.
Entre 22 e 25 de junho, a feira vai reunir 400 marcas, de setores como alimentação, cosméticos, decoração e lazer, no Expo Center Norte, na zona norte da capital paulista.

O evento terá um setor dedicado às microfranquias, com investimento inicial de até R$ 120 mil. O segmento vem crescendo nos últimos anos, impulsionado por um cenário de incerteza econômica.

Os ingressos custam R$ 80 (compra online) ou R$ 100 (na bilheteria). A lista completa de expositores está disponível no site oficial do evento, abfexpo.com.br.

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