Serviços pensados para humanos e adaptados para pets nas últimas décadas, como babá, hospital e hotel, também estão disponíveis para as plantas.
A paisagista Marisa Carneiro, 65, sempre gostou de recuperar plantas que tinham algum tipo de problema. Ela conta que, durante anos, cuidou das que encontrava abandonadas em caçambas.
Em 2013, transformou o hábito em negócio e abriu o Hospital das Plantas Paraíso do Ipiranga, que fica na zona sul da capital paulista.
Ali, as espécies que precisam de algum reparo ficam "internadas" por no mínimo um mês. O preço depende do tamanho do vaso, mas começa em R$ 30 —valor para um mês de internação de uma orquídea num vaso de 15 cm, considerado por Marisa o serviço mais simples.
Já houve um cliente, conta ela, que deixou 28 vasos para recuperação durante um ano inteiro.
Um dos problemas mais comuns tratados no hospital é a presença de cochonilha, parasita microscópico. Marisa diz que terra de má qualidade contribui para a presença desses micro-organismos.
Durante os meses mais restritivos da pandemia, o serviço foi muito procurado. "Foi quando ganhei mais dinheiro. As pessoas não tinham o que fazer e começaram a observar suas plantas e identificar problemas", diz ela.
O hospital buscava as "pacientes" nos halls e nas portarias dos prédios dos clientes, para evitar o contato. "Muitos deles eu nunca nem vi pessoalmente", afirma.
Naquela época, o faturamento da empresa mais que dobrou. Em um mês normal, a receita fica entre R$ 12 mil e R$ 15 mil, e durante o período chegou a R$ 30 mil.
Marisa chama funcionários de acordo com a necessidade do hospital. Há nove pessoas que a ajudam nos serviços. A empresária conta ter aproximadamente 230 clientes, entre fixos e eventuais, e estima já ter tratado mais de 20 mil plantas desde 2013.
Quando elas são muito grandes e não podem ser transportadas, ela faz uma espécie de home care, se deslocando até o endereço.
Já a paisagista, florista e economista Ligia Rezende, 36, adicionou aos serviços oferecidos em seu ateliê, chamado Aquela Flor, a opção de "plant sitter" (babá de plantas), em 2017. "Percebi que as pessoas iam viajar e não tinham o que fazer com as plantas. Aí vi a oportunidade de fazer esse serviço. E deu certo", conta ela, que trabalha sozinha.
A demanda, porém, é sazonal. Há mais pedidos no fim do ano, quando mais gente costuma viajar.
"Minha visita não é simplesmente regar. Vem com uma espécie de consultoria. Eu sugiro mudança de lugar dentro da casa [por causa da luz], faço podas, adubação e até mando um vídeo para o cliente mostrando o que foi feito."
Lígia cobra a partir de R$ 60 por dia, mais o deslocamento até o local. As visitas duram aproximadamente uma hora.
Durante a fase mais restritiva do distanciamento social, quando as pessoas viajaram menos, mas compraram mais plantas, Lígia deu consultoria online aos clientes.
Ela diz que cuidar dos vasos alheios enquanto seus donos estão fora de São Paulo ainda responde por uma porcentagem pequena de seu faturamento, mas conta que pretende investir mais no serviço, futuramente.
A Bonsai Kai, empresa de Márcio Augusto de Azevedo, 57, oferece serviço de hotelaria para bonsais desde 1997. Começou como favor para clientes, já que o carro-chefe da companhia é a comercialização das miniárvores, mas depois virou negócio. A loja existe há 25 anos.
"Enche no fim do ano. A gente se prepara, porque entram de 300 a 400 plantas nessa época. Durante o resto do ano, o normal é termos cerca de cem", conta Azevedo.
Como os bonsais são plantas duradouras, a maioria dos clientes são recorrentes.
As diárias começam em R$ 5, para vasos de até 25 cm, e vão até R$ 10 para aqueles que têm entre 40 cm e 60 cm. A média de estadia das plantas no hotel é de dez dias.
A Bonsai Kai também tem um hospital para bonsais. Os dois serviços juntos correspondem a cerca de 15% dos R$ 100 mil que a empresa, que tem quatro funcionários, fatura mensalmente.
Para César Ossamu, que é consultor do Sebrae-SP, o crescimento do interesse por plantas antecede e também sucederá o período de pandemia, o que significa que há espaço para quem quer investir neste segmento.
"Pesquisas mostram que plantas no ambiente melhoram a produtividade. A pandemia acelerou o processo, mas já havia o movimento ‘urban jungle’ desde 2014", afirma, se referindo à onda de levar elementos da natureza para a rotina nas cidades.
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