Muita gente viu no cancelamento das quermesses uma oportunidade para empreender.
"Dois meses atrás, uma amiga reclamou comigo de que não haveria festa junina neste ano. Então eu falei: 'Por que a gente não leva a festa até as pessoas?'", conta o cabeleireiro Henrique Oliveira, 30, que começaria em um novo emprego, como assistente de gerência em um hostel, quando a quarentena começou.
Há duas semanas, ele lançou uma conta no Instagram para divulgar o seu projeto: o Festa Junina Drive, um drive-thru para vender kits de quitutes típicos, caso de milho verde, bolos, paçoca e quentão, em um posto de combustíveis na zona sul de São Paulo.
No último fim de semana, quando estreou o serviço, Henrique conseguiu arrecadar R$ 5.000. “No fim da tarde de sexta, nós montamos nossa barraca na entrada do lava-rápido e quem já tinha encomendado pelo telefone passou lá para retirar os pedidos”, conta.
Os clientes que chegaram pelo Instagram são apenas uma parte do público que o idealizador do negócio pretende atender.
“Quem parou para abastecer ficou curioso por causa da decoração e da música. Muitos acabaram indo até a gente e escolhendo de dentro do carro o que desejavam levar”, diz.
São seis opções de kits. O mais simples, que leva o nome de Cardin pá Isquentá, tem duas porções de caldo verde e custa R$ 25. O mais completo, chamado de Família Buscapé, inclui 40 itens, entre pamonha, curau, canjica, cachorro-quente, bolos, maçã do amor e outros, por R$ 175. E também são vendidos produtos avulsos.
A rotina do primeiro dia se repetiu no sábado e no domingo e será retomada a cada sexta-feira, até o final de julho. Ao longo desses dois meses, o cabeleireiro e suas parceiras na empreitada, Débora Bonette, 31, e Patricia Gonçalves, 49, esperam faturar entre R$ 60 mil e R$ 75 mil.
“A gente quer tirar uns 30% desse total. O restante é para cobrir os custos”, afirma Henrique, elencando os gastos com ingredientes, embalagens, alguns docinhos industrializados e as cozinheiras, que são sua mãe e suas duas irmãs.
Por serem seus amigos, os donos do posto permitiram o uso gratuito do espaço. “É bom para todos, porque atrai mais consumidores para as bombas e para a loja de conveniência”, diz.
Ele já recebeu convites para montar o serviço em outros bairros de São Paulo e até na região do ABC paulista. “Para isso, vamos precisar de mais gente.”
Enquanto as festas juninas significam um novo negócio para Henrique, para a nutricionista Laura Tuyama e o chef Matheus Freiha, ambos de 30 anos, elas são um novo produto. Os dois já atuam no setor de gastronomia há oito anos.
Antes de a pandemia iniciar, eles tinham acabado de abrir a segunda unidade do restaurante Forneria Urbana, na Vila Leopoldina (zona oeste de São Paulo). Decidiram parar tudo por dois meses. Dispensaram os funcionários em experiência, suspenderam os contratos dos demais e fecharam o endereço original, que tinha um bar anexo, no Butantã.
“Voltamos a trabalhar na semana passada, chamando cinco pessoas da equipe e mantendo os demais em férias. Vamos focar na nossa cozinha de produção, preparando pratos para delivery e kits de festa junina com opções elaboradas, todas feitas aqui”, diz Laura.
Para vender o cardápio temático, o casal preferiu criar uma página no Instagram com o nome Festa Junina em Casa SP. O cliente acessa por ali mesmo a plataforma Goomer Go, faz o pedido e escolhe como pagar —transferência bancária ou link de whatsapp para pagamento com cartão de crédito.
Cada item é vendido separadamente. Entre os quitutes oferecidos, estão pinhões assados (R$ 8), sanduíches de pernil e de carne louca (R$12 cada um), bolo de milho (R$ 7 a fatia), arroz doce (R$ 10) e vinho quente (R$ 12 por 300 ml)
Nesta quinta (11), o casal está despachando as primeiras encomendas., que podem ser retiradas ou entregues pela Loggi na capital paulista, de quinta a domingo.
“Exceto pelos pães e bolos, tudo é embalado a vácuo, o que facilita a higienização dos pacotinhos quando chegam à casa do cliente. Ele pode consumir os alimentos quando quiser, porque, no vácuo, duram uma semana”, explica a nutricionista.
Para levar à clientela uma experiência mais real de festa junina, Laura e Matheus montaram uma playlist com músicas típicas no Instagram e também fornecem bandeirinhas coloridas, um pano xadrez que pode ser usado como toalha e até cartinhas personalizadas, pensadas para quem quer presentear amigos e familiares com o kit.
O cardápio junino ficará disponível até o fim de junho. Dependendo da receptividade, o casal pode mantê-lo em julho. “Esperamos faturar uns R$ 50 mil dessa forma, o que não chega a 30% da receita pré-quarenta. Mas também diminuímos bastante os nossos custos fixos e vamos continuar criando produtos para diferentes ocasiões”, diz Matheus.
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