Transferência obrigatória de Amazonas Energia para Âmbar é equívoco, dizem consumidores

Na segunda-feira (23), Justiça obrigou Aneel a aprovar em 48 horas mudança de controle da distribuidora; agência diz esperar notificação

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Letícia Fucuchima
São Paulo | Reuters

Consumidores de energia consideraram "equivocada e estranha" a decisão liminar da Justiça do Amazonas que obrigou a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a aprovar, em 48 horas, a transferência do controle da distribuidora de energia amazonense para a Âmbar, empresa da holding J&F, dos irmãos Batista.

"Nosso entendimento é que é um equivoco da Justiça. Apesar de reconhecermos a situação crítica pela qual passam os consumidores do Amazonas, a solução proposta é ruim, porque mais uma vez resolve-se um problema criando outros", afirmou Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, ressaltando os custos bilionários que irão recair sobre a conta de luz.

A imagem mostra várias torres de transmissão de energia elétrica, com fios e isoladores visíveis. O céu ao fundo está nublado, criando um contraste com as estruturas metálicas das torres.
Aneel afirma que aguarda notificação para cumprir decisão de entregar concessionária - Danilo Verpa - 11.nov.2009/Folhapress

A Âmbar, empresa de energia da família Batista, está negociando com o governo as condições para assumir o controle da Amazonas Energia, distribuidora com uma dívida que supera R$ 10 bilhões e um longo histórico de graves problemas operacionais e financeiros, correndo o risco de caducidade da concessão.

Na segunda-feira (23), a juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Amazonas, concedeu liminar determinando que a Aneel aprove o plano de transferência societária da distribuidora nos termos propostos pela Âmbar —o que, segundo análise técnica da agência reguladora, iria onerar os consumidores de energia de todo o país em valores bilionários e muito maiores do que o necessário.

Na decisão, a juíza considerou que a Aneel está atrasando deliberações relacionadas ao tema e descumprindo prazos da medida provisória 1.232, editada pelo governo federal em junho para resolver a situação da concessionária. A MP, ainda não apreciada pelo Congresso, perde validade em 12 de outubro.

"O que efetivamente existe nos autos é a existência de um diploma legal com data de expiração próxima, qual seja 12 de outubro de 2024, sobre o qual a agência reguladora se encontra em mora de cumprimento. O risco de dano irreversível é inegável...", diz parte da decisão.

Procurada, a Aneel disse que "aguarda a notificação para dar cumprimento à decisão judicial".

Para Barata, o melhor caminho para resolver a situação da Amazonas Energia seria uma intervenção da agência reguladora, em processo que destituiria a administração atual da distribuidora e a prepararia para um futuro leilão de venda, a fim de atrair companhias com experiência no ramo de distribuição de energia.

"Se a concessionária está passando por uma crise gravíssima, nós vamos colocar para prestar serviço uma empresa que não tem experiência nenhuma?", questionou Barata, lembrando do diagnóstico feito pela área técnica da Aneel que apontou falta de capacidade técnica da Âmbar no segmento.

Ele também defende que os custos de todo esse processo deveriam ser arcados pelo Tesouro, e não pelos consumidores de energia, que já são onerados com uma série de outras políticas públicas e subsídios do setor elétrico.

A Aneel fez uma análise técnica da proposta apresentada pela Âmbar para assumir a concessionária amazonense, concluindo que ela teria um custo de R$ 15,8 bilhões para a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) —encargo pago na conta de luz—, o dobro dos R$ 8 bilhões que seriam suficientes para reequilibrar a concessão.

A proposta da Âmbar e aperfeiçoamentos apontados pela área técnica da Aneel foram colocados em consulta pública neste mês. O regulador ainda não indicou, porém, quando pretende pautar o processo para uma decisão final.

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