O dólar fechou em queda de 0,64% nesta segunda-feira (22), cotado a R$ 5,569, com os investidores reagindo à decisão de Joe Biden de desistir da corrida pela reeleição nos Estados Unidos e ao Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, publicado no final da tarde pelo governo federal.
Já a Bolsa subiu 0,19%, aos 127.859 pontos, com pressão da Petrobras na ponta negativa em dia de queda do barril de petróleo no exterior.
O presidente dos EUA anunciou, no domingo, que não será mais candidato nas eleições que acontecem em novembro.
Ele não resistiu à intensa pressão interna do Partido Democrata pela sua saída, que começou após o desastroso desempenho no debate realizado no fim de junho e não arrefeceu mesmo depois de várias tentativas do presidente de assegurar apoiadores e eleitores de que tinha condições de derrotar Donald Trump.
O anúncio foi feito por meio de uma carta publicada nas redes sociais do presidente, e Biden disse que vai explicar melhor sua decisão em um pronunciamento nesta semana. O presidente, em seguida, endossou sua vice, Kamala Harris, para ser a candidata democrata na eleição de novembro.
A perspectiva de um novo mandato de Trump na presidência dos EUA havia afetado o apetite por risco em mercados emergentes. Temores de uma política comercial restritiva e uma política externa isolacionista geraram pressão em uma série de moedas, incluindo o real, à medida que se elevava os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano, os Treasuries.
Nesta sessão, na esteira do anúncio de Biden, as moedas emergentes retomavam os ganhos frente ao dólar, com a divisa norte-americana apresentando quedas contra o peso mexicano e o rand sul-africano.
"A decisão de Biden mexe com o cenário da moeda porque a chance de Trump ganhar diminui, então isso 'enfraquece' a chance da política ficar mais protecionista, o que enfraquece o dólar", afirma Hemelin Mendonça, educadora financeira e sócia da AVG Capital.
Na cena doméstica, o foco estava no Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que trouxe detalhes sobre o contigenciamento de R$ 15 bilhões no Orçamento anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) na semana passada.
O chefe da ala econômica do governo anunciou bloqueio de R$ 11,2 bilhões e contingenciamento de R$ 3,8 bilhões no Orçamento deste ano, após reunião entre ministros que integram a JEO (Junta de Execução Orçamentária) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De acordo com o documento, os R$ 11,2 bilhões serão bloqueados para compensar o crescimento das despesas obrigatórias, que incluem a Previdência e o BPC (Benefício de Prestação Continuada). Na avaliação do próprio governo, é pouco provável que essas despesas recuem até o fim do ano, o que torna baixa a probabilidade de reversão do bloqueio.
Os outros R$ 3,8 bilhões serão contingenciados devido à frustração na estimativa de receitas. Neste caso, o gasto é contido para permitir o cumprimento da meta fiscal, cujo alvo central é um déficit zero, mas permite um resultado negativo de até 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto).
A projeção do governo é que, com o contingenciamento, o resultado ficará exatamente no limite permitido pela margem de tolerância, que é um déficit de R$ 28,8 bilhões. No segundo bimestre, a previsão era um desempenho menos negativo, de R$ 14,5 bilhões.
A queda de R$ 13,2 bilhões na arrecadação líquida do governo contribuiu para essa deterioração.
Mais cedo nesta segunda, Lula disse que o governo congelará despesas sempre que necessário e afirmou que traz a questão da responsabilidade fiscal nas "entranhas".
"Sempre que precisar bloquear nós vamos bloquear", disse Lula em entrevista a jornalistas de agências internacionais no Palácio da Alvorada. O presidente foi questionado se poderia fazer novos bloqueios orçamentários, para além dos R$ 15 bilhões anunciados.
O dólar, que tinha queda firme de 1% até a publicação do relatório, às 15h30, passou a desacelerar as perdas conforme os investidores analisavam os detalhes do contigenciamento de gastos.
Já na cena corporativa, a Petrobras freou maiores ganhos do Ibovespa com os papéis preferenciais e ordinários em queda de 1,99% e 1,53%, respectivamente, em linha com o recuo do preço do barril de petróleo tipo Brent no exterior.
Embraer liderou a ponta negativa com tombo de 7,03%, em movimento de realização de lucros e na esteira de dados sobre entregas da companhia. A empresa oficializou, nesta segunda, a venda de nove cargueiros militares C-390 Millennium para a Holanda e a Áustria.
Na positiva, Sabesp subiu 2,47%, ainda na esteira da oferta de ações que privatizou a empresa de saneamento básico paulista. Papéis de empresas sensíveis a juros, como Lojas Renner e Azul, também subiram, diante do alívio na curva de juros futuros.
Vale perdeu 0,11%, após os preços futuros de minério de ferro caírem na China.
Os investidores, além disso, tinham no radar a temporada de balanços do segundo trimestre, que terá início nesta segunda-feira à noite com os resultados do Carrefour. A agenda da semana inclui dados de Santander Brasil, Vale, entre outros.
O Ibovespa respondeu, também, ao desempenho das Bolsas norte-americanas, segundo Jennie Li, estrategista de ações de Research da XP. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,32%, 1,08% e 1,58%.
"É uma reversão da reversão que vimos na semana passada, quando os investidores estavam indo para fora de empresas de tecnologia. Agora eles estão voltando, tendo como catalizador a saída de Biden das eleições e o apoio à Kamala Harris como candidata democrata", afima.
"O segundo catalizador é a expectativa pelo corte dos juros do Federal Reserve em setembro, uma narrativa que tem ganhado cada vez mais força à medida que os dados econômicos dos EUA demonstram moderação."
Na sexta-feira (19), o dólar fechou em alta de 0,30%, cotado a R$ 5,604, em sessão marcada pelo apagão cibernético que afetou operações de diversos setores ao redor do mundo, como bancos, companhias aéreas, emissoras de TV, entre outros.
Na Bolsa brasileira, o movimento foi semelhante: após começar a sexta-feira no positivo, o Ibovespa fechou com queda marginal de 0,03%, aos 127.616 pontos.
Na semana, o dólar acumulou alta de 3,18%; a Bolsa, perda de 0,96%.
Com Reuters
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