Nem tudo o que é reciclável será, de fato, reciclado. E isso fica muito evidente nos dados oficiais disponíveis sobre o setor de reciclagem no Brasil: o país recicla apenas 4% dos resíduos sólidos urbanos recicláveis.
Ou seja, se o trabalho de separação de materiais recicláveis estiver sendo feito pelos brasileiros em casa, ele encontra uma série de gargalos e obstáculos para ser realmente reciclado, o que leva parte desses materiais para disposições inadequadas e danosas para o ambiente e para a saúde humana.
Isso porque, para que uma garrafa plástica, por exemplo, seja reciclada, ela precisa: 1) ser separada; 2) ser deixada para coleta seletiva ou levada a um ponto de coleta seletiva; 3) passar por centrais de triagem, como cooperativas de catadores; e, finalmente, 4) ser encaminhada para as indústrias recicladoras.
Cada etapa dessa cadeia tem algum grau de dificuldade logística. De cara, só 1 a cada 3 municípios brasileiros têm coleta seletiva de recicláveis, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis). Nas regiões Norte (11,3%) e Nordeste (11,4%), a proporção é de quase 1 a cada 10 municípios com coleta seletiva.
É preciso também estruturar cooperativas para o trabalho de triagem. E também são necessários investimentos para desenvolver indústrias recicladoras nas diferentes regiões do Brasil. Sem isso, como o frete majoritariamente rodoviário do país é muito alto, a conta não fecha porque o transporte dos materiais sai mais caro que a venda dos materiais em si, e o resíduo fica pelo caminho.
A segunda informação importante para entender a reciclagem é que ela um mercado no qual os preços por quilo dos diferentes materiais oscilam devido a diversos fatores.
Por exemplo, a principal matéria-prima do vidro é a areia, algo barato e com grande oferta no Brasil. Então, apesar de ser um material totalmente reciclável, o vidro tem um preço muito baixo no mercado de reciclagem: R$ 0,23 por quilo em média no Brasil.
Um catador precisaria recolher mais de 6 toneladas de vidros por mês para ganhar um salário mínimo de R$ 1.412, ou 200 quilos por dia. Já o quilo de alumínio para reciclagem sai por mais de 7 reais, em média.
Os preços de embalagens recicláveis também variam de acordo com a sua composição física e química.
No Japão, por exemplo, toda garrafa PET, aquela comumente usada para bebidas, precisa ser transparente, por lei, para aumentar a sua reciclabilidade já que garrafas verdes, azuis ou laranjas precisam ser recicladas separadamente por causa dos diferentes químicos usados para dar cor ao material.
Com tantas variáveis e oscilações, e um custo de coleta muito alto, muita gente do setor diz que a conta da reciclagem não fecha. Serão necessárias políticas públicas e investimentos privados da indústria cujos produtos geram resíduos para que a reciclagem realmente decole no Brasil.
Mas não adianta nada disso se você não separar os resíduos em casa. Nas cidades que já têm esse serviço estruturado, ele não é utilizado em todo o seu potencial porque o material simplesmente não chega. Ou seja, separar em casa é essencial.
Mesmo porque novas tecnologias de reciclagem estão surgindo, e tem cada vez mais indústrias e empresas interessadas em criar novas embalagens com maior reciclabilidade. Em lugares como Europa e Japão, a responsabilidade pelo resíduo gerado após o consumo de um produto é de quem colocou esse produto no mercado. Isso se chama logística reversa e é lei no Brasil desde 2010.
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