Clima pode ser um fator estrutural para inflação, diz Campos Neto

Presidente do BC afirma que desastre no Rio Grande do Sul é um exemplo, e autarquia precisa olhar para esse aspecto com atenção

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira (6) que os estragos provocados por efeitos climáticos têm se mostrado uma tendência para causar "microrrupturas", com alta nos preços de alimentos e energia.

Para Campos Neto, esse pode ser um fator estrutural na economia. Ele afirmou que a autarquia precisa entender o quanto da missão do BC tem sido impactada por isso.

"A gente vê que o número de anomalias tem crescido bastante, a gente tem duas linhas aí de 2023 e 2024 mais grossas, que mostram que, de fato, não dá para dizer que não tem uma tendência pelo menos olhando desde 1940", disse durante evento sobre mercado de capitais em São Paulo, organizado pela B3 e pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Retrato de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, feito no escritório do BC em São Paulo
Retrato de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, feito no escritório do BC em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

O presidente do BC afirmou que as chuvas no Rio Grande do Sul são um exemplo disso, e voltou a dizer que a tragédia adiciona incertezas sobre os preços de alimentos no Brasil.

Ele disse que há diversas expectativas diferentes sobre a alta da inflação com a reconstrução do estado, e que é necessário apurar os riscos para além do curto prazo. "Precisa entender a capacidade de produção olhando para frente, se teve alguma coisa no solo".

Campos Neto lembrou que o Rio Grande do Sul representa 6,5% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, 12,7% do agronegócio do país, 8,6% da balança comercial nacional e tem impacto de 8,6% no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

O presidente do BC observou que a persistência da inflação de alimentos é um problema global, e que os bancos centrais dos países têm abordado essa questão. Para ele, esse fator é o que mais preocupa neste momento.

Ele voltou a abordar ainda a inflação de serviços, que tem sido acompanhada de perto pela autarquia em meio a um mercado de trabalho aquecido.

Campos Neto afirmou que há um movimento global, em que os preços de manufatura estão desacelerando, enquanto a inflação de serviços segue mais pressionada, e disse que as surpresas positivas em relação ao emprego se traduzem em aceleração dos preços no setor.

Campos Neto disse que há vários economistas tentando dissecar o efeito da mão de obra apertada e que o Banco Central também deve apresentar em breve um relatório com essas expectativas inseridas.

Em relação ao Brasil especificamente, Campos Neto disse que inflação está em processo de convergência, e afirmou que os últimos dados do IPCA foram bons, principalmente em relação a serviços intensivos de mão de obra, que vieram melhor do que o esperado.

"Na parte de inflação corrente há números que apontam para uma convergência", afirmou. Em relação às expectativas de mercado, por outro lado, ele disse que há uma desancoragem, o que o preocupa.

O presidente do BC elencou alguns ruídos que têm impactado nas expectativas, como as dúvidas sobre quando os Estados Unidos vão começar o ciclo de queda dos juros (para ele, pode acontecer já no fim deste ano), a piora dos resultados fiscais no Brasil, a condição para atuação da política monetária e a transição de presidência no BC, além das incertezas sobre o Rio Grande do Sul e a geopolítica.

Sobre a transição no Banco Central com sua saída, a resposta do mercado após a última decisão de juros reflete os receios do mercado de intervenção do governo federal nos trabalhos da autoridade monetária.

Em maio, o BC reduziu o ritmo de queda da taxa básica Selic, mas com racha na decisão entre os diretores indicados pelo atual governo e os da gestão passada.

O mercado leu esse cenário como uma possível mudança de rumo no BC após a saída de Campos Neto no fim deste ano e a entrada de um indicado pelo governo Lula. Como resposta, os contratos de juros futuros de longo prazo subiram.

Campos Neto observou que, diante dessa incerteza, o Banco Central decidiu retirar o forward guidance (previsões sobre decisões de juros) nos últimos comunicados do Copom (Comitê de Política Monetária).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.