O que segundo mandato de Donald Trump pode significar para o Fed?

Campanha ainda não tem planos para Fed, mas conselheiros externos fazem sugestões, algumas menores, outras extremas

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Jeanna Smialek
The New York Times

O ex-presidente Donald Trump criticou implacavelmente o Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) e Jerome Powell, presidente da instituição, durante seu mandato.

Enquanto compete com Joe Biden por um segundo mandato presidencial, essa história tem deixado muitos em Wall Street se perguntando: o que uma vitória de Trump significaria para o banco central do EUA?

A campanha de Trump ainda não tem planos detalhados para o Fed, disseram pessoas próximas, mas conselheiros externos têm se concentrado mais no banco central e têm feito sugestões —algumas menores, outras extremas.

Trump e Powell em um púlpito
Donald Trump, ex-presidente dos EUA, e Jerome Powell, presidente do Fed, juntos em 2017 - Tom Brenner/The New York Times

Enquanto alguns nos círculos de Trump veicularam a ideia de tentar limitar a capacidade do Fed de definir taxas de juros independente da Casa Branca, outros a rejeitaram, e pessoas próximas à campanha disseram que achavam improvável um esforço tão drástico.

Restringir a capacidade do Fed de definir taxas de juros sem influência direta da Casa Branca seria política e legalmente complicado. Mexer com o banco central de forma tão evidente poderia perturbar os próprios mercados de ações, que Trump frequentemente usou como medida de seu sucesso.

Mas outros aspectos da política do Fed poderiam acabar no radar de Trump, indicaram ex-funcionários do governo anterior e pensadores políticos conservadores.

Trump está pronto para usar mais uma vez as críticas públicas para pressionar o Fed. Se eleito, ele também teria a chance de nomear um novo presidente do Fed em 2026, e ele já deixou explícito que planeja substituir Powell, indicado por Trump ao cargo antes de Biden o reconfirmar.

"Haverá muitos dispositivos retóricos lançados contra o Fed", previu Joseph A. LaVorgna, economista-chefe da SMBC Nikko Securities America, que também é conselheiro informal da campanha do republicano e economista-chefe do Conselho Econômico Nacional durante a administração de Trump.

Alguns nos círculos de Trump estão incitando a campanha a considerar mudanças mais substanciais —até mesmo alterações institucionais— no banco central. O Fed regula os maiores bancos dos EUA, e Trump poderia tomar medidas que lhe dariam mais controle sobre esse processo, tornando as regras menos onerosas para as instituições financeiras, por exemplo.

Jerome Powell; fundo amarelo com colunas brancas
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, o banco central americano - Getty Images via AFP

O Fed é independente da Casa Branca

O Fed é responsável por manter a inflação sob controle, usando taxas de juros mais altas para desacelerar a demanda e aliviar a pressão sobre os preços. Os presidentes em exercício sempre preferem taxas de juros baixas, que incentivam as pessoas a tomar empréstimos e ajudam a fortalecer a economia, mas não têm voz na política do Fed.

A independência existe por um motivo importante: taxas de juros altas podem machucar a econômica no curto prazo e já custaram a reeleição de presidentes estadunidenses. Mas às vezes são necessárias para garantir que a inflação permaneça sob controle.

Pesquisas sugerem que permitir que os banqueiros centrais definam políticas com base nas necessidades econômicas do país, em vez das necessidades eleitorais de um político, permite que os formuladores de políticas façam escolhas melhores.

Desde a década de 1990, as administrações da Casa Branca evitaram falar sobre a política do Fed, sinal de respeito à independência da autarquia. Mas Trump mudou isso enquanto estava no cargo, criticando regularmente o Fed por manter as taxas de juros muito altas —sugerindo que Powell era um "inimigo" e que ele e seus colegas eram "cabeças duras".

Isso deve continuar se Trump for eleito. Ele já sugeriu que qualquer tentativa de baixar as taxas de juros antes da eleição seria uma manobra política para ajudar os democratas em exercício. Ele fez comentários semelhantes na corrida eleitoral de 2016, depois passou a pedir taxas de juros mais baixas, uma vez no cargo.

Esforços diretos para controlar as taxas de juros podem ser difíceis

Como presidente, Trump aprendeu que criticar o Fed pouco mudava a política —os funcionários se incomodavam privadamente com seus comentários, mas os ignoravam publicamente, reduzindo menos as taxas do que Trump queria.

A grande questão é se Trump poderia ir mais longe desta vez e tentar controlar diretamente a política monetária dos EUA. Em seu site de campanha, ele fala sobre colocar agências independentes sob controle presidencial, prometendo colocar "burocratas não eleitos em seus lugares", mas não menciona se isso inclui o Fed.

Especialistas legais disseram que poderia ser difícil para a Casa Branca colocar a política de taxas de juros do Fed sob controle da presidência sem passar legislação pelo Congresso. Essa foi uma realidade à qual Russell T. Vought, que dirigiu o Escritório de Orçamento e Gestão na Casa Branca de Trump, aludiu durante uma entrevista ao The New York Times em julho.

Demitir Powell também poderia ser complicado

Uma Casa Branca pode influenciar a política monetária sem fazê-lo de forma tão direta, no entanto —inclusive por meio de nomeações de liderança. O presidente tem a chance de nomear diretores para o conselho do Fed, com sede em Washington, à medida que os atuais saem por vontade própria ou seus mandatos expiram.

Esses funcionários compõem sete dos doze votos sobre a política de taxa de juros, e o presidente do Fed, o vice-presidente e o vice-presidente de supervisão bancária são todos nomeados pela Casa Branca.

Esses cargos estão todos preenchidos, por enquanto, com apenas dois mandatos expirando antes do final de 2028. E o mandato de Powell como presidente só termina em 2026. Mas Trump já contemplou anteriormente demitir o presidente do Fed, levantando a questão se ele poderia fazer isso novamente.

No início de 2018, Trump se viu descontente com a falta de lealdade de Powell e investigou a possibilidade de demitir o presidente antes de determinar que seria legalmente complicado. Em 2020, ele sugeriu a ideia de remover Powell como presidente e simplesmente deixá-lo como um dos sete governadores do Fed, mas nunca tentou de fato.

Enquanto algumas pessoas próximas à campanha acham que demitir Powell poderia estar em pauta novamente, outros alertaram que fazê-lo seria legalmente inédito e passível de contestação judicial. Além disso, LaVorgna observou que Trump poderia atribuir a culpa ao presidente do Fed se a inflação permanecesse persistente.

"Além das questões legais, não há incentivo para substituir o presidente", disse LaVorgna.

Trump, de terno e gravata amarela
Donald Trump, ex-presidente dos EUA e provável candidato às eleições de 2024 pelo Partido Republicano - AFP

Trump ainda poderia usar nomeações para influenciar o Fed

Mas Trump deixou claro que não tem intenção de reindicar Powell quando seu mandato terminar. Ele não poderia simplesmente nomear qualquer pessoa como substituto de Powell: os indicados para presidência do Fed e cargos de liderança devem passar pela confirmação do Senado estadunidense.

Trump tentou —ou considerou— nomear diretores do Fed que haviam expressado lealdade a ele durante seu primeiro mandato, incluindo Judy Shelton, Herman Cain e Stephen Moore. Nenhum deles chegou ao Fed, em parte porque alguns senadores defendiam a ideia de que Fed deveria ser independente.

Os possíveis nomes para presidente do Fed que circulam desta vez são, em grande, parte escolhas convencionais com formação econômica e experiência governamental.

Kevin Warsh, professor de Stanford e ex-diretor do Fed; Kevin Hassett, ex-presidente do Conselho de Consultores Econômicos; e Christopher Waller, atualmente um dos diretores do Fed, são mencionados como possíveis candidatos.

Mas ainda é cedo, as decisões estão longe e várias pessoas apontaram que a campanha não está prestando muita atenção ao Fed neste momento.

Mudanças na regulação bancária podem estar em pauta

Vought, em entrevista ao The New York Times no ano passado, disse que "no mínimo" as funções regulatórias do Fed deveriam estar sujeitas a revisão da Casa Branca. E os republicanos estão cada vez mais levantando a possibilidade de que a independência do Fed não deva se estender à regulação bancária —ou à pessoa que a lidera.

Christina Parajon Skinner, especialista em direito bancário central na Universidade da Pensilvânia, começou recentemente a argumentar que o vice-presidente do Fed para supervisão poderia ser legalmente removido por um presidente porque o cargo é estruturado de forma diferente do presidente do Fed.

Michael Barr, vice-presidente do Fed para supervisão bancária, verá seu mandato expirar em 2026. Se Skinner estiver certa, seria possível substituí-lo mais cedo.

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