Em um anúncio marcado por uma disputa política entre o governo federal e a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Toyota confirmou um investimento de R$ 11 bilhões em sua operação no Brasil até 2030.
O aporte vai ampliar a capacidade de produção de veículos e motores da marca com a introdução de novos modelos híbridos flex —capazes de rodar com eletricidade, etanol e gasolina.
Na saída do evento, na fábrica da montadora japonesa em Sorocaba (SP), o governador Tarcísio de Freitas disse que "cada um tenta capitalizar da maneira que pode".
"Nós tivemos uma reunião com a Toyota, e eles nos alertaram que havia a possibilidade de uma linha ir para o México. Era fundamental a nossa presença, o olho no olho, para trazer o convencimento e para mostrar confiança com aquilo que a gente acertou com a Toyota aqui. O que era R$ 1,7 bilhão na primeira conversa que tivemos com a Toyota acabou virando R$ 11 bilhões", disse o governador.
No começo do ano passado, a Toyota já havia anunciado investimento de R$ 1,7 bilhão para produzir veículo híbrido flex compacto no Brasil.
O aporte deste ano foi antecipado pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, e também divulgado no domingo (3) pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que veio ao evento ao lado de Tarcísio.
Como mostrou a coluna Painel, a atitude do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de faturar politicamente o investimento da montadora japonesa desagradou a gestão Tarcísio.
Tarcísio diz ter sido fundamental o papel do secretário de Desenvolvimento Econômico, Jorge Lima, para a decisão da empresa japonesa. Em outubro, ele viajou a Tóquio para garantir o investimento, que vai gerar 2.000 empregos diretos.
Pela manhã, foi Lula quem comemorou nas redes sociais o anúncio da Toyota.
"O companheiro Geraldo Alckmin vai participar do anúncio de investimento desses R$ 11 bilhões da Toyota no Brasil. Mais um passo importante na economia brasileira. As empresas privadas voltaram a investir no futuro do Brasil", escreveu o presidente, que foi retuitado por seu vice.
Ao deixar o evento da Toyota em Sorocaba, Alckmin, que também é ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, disse que não há disputa entre o governo federal e o estadual.
"Aqui não tem disputa, tem somatório. É somar esforços. O governo do estado entrando com a devolução do crédito tributário e o governo federal com a inovação e a mobilidade mesmo", afirmou o vice-presidente.
A montadora realizou evento nesta terça-feira fechado a autoridades. A assessoria de Tarcísio divulgou a agenda, na qual estava confirmada a presença de Alckmin.
Do montante total de investimento da Toyota, R$ 5 bilhões serão investidos até 2026.
Segundo a companhia, haverá a produção de um novo veículo compacto híbrido flex —com início a partir de 2025— e um outro modelo desenvolvido especialmente para o Brasil. A empresa não revelou mais detalhes sobre os automóveis.
A Toyota afirmou também que irá expandir sua fábrica em Sorocaba. No local, serão construídas novas instalações para as quais será transferida a operação produtiva de Indaiatuba (SP). O movimento será feito de forma gradual, a partir de 2025, com conclusão no ano seguinte.
"A Toyota investiu intensivamente no Brasil nos últimos anos e tem planos ambiciosos para acelerar ainda mais suas operações no país. O foco principal é impulsionar a descarbonização por meio de novas tecnologias de eletrificação adaptadas ao contexto local e às necessidades dos clientes", escreveu a montadora em comunicado à imprensa.
A montadora recebeu uma contrapartida do Governo de São Paulo, no ano passado. Até 2027, a empresa terá em torno de R$ 1 bilhão em créditos tributários acumulados.
A Toyota se junta a outras montadoras que anunciaram investimentos bilionários no Brasil neste ano.
No fim de janeiro, a General Motors divulgou seus investimentos no país até 2028 —a quantia é de R$ 7 bilhões. A companhia irá adequar suas fábricas brasileiras para a produção de novos veículos incluindo automóveis híbridos flex, capazes de rodar com eletricidade, etanol e gasolina.
Em 2021, a montadora anunciou que deixaria de produzir veículos com motores a combustão a partir de 2035. No entanto, o plano, que contemplava todos os mercados em que possui fábricas, vem sendo revisto.
Já a Volkswagen, em fevereiro, ampliou seu plano de investimentos no Brasil. O programa, que teve início em 2022 e vai até 2028, terá um aporte de R$ 16 bilhões, no total.
O valor vai cobrir despesas de produção de veículos híbridos produzidos pela montadora no país. Além disso, a marca quer passar a usar biogás fornecido pela Raízen em suas plantas em Anchieta e Taubaté, cidades paulistas.
O foco na eficiência energética garante bonificações sobre o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) que fazem parte do programa Mover (Mobilidade Verde), do governo federal.
Na manhã desta terça-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin citou o programa em entrevista a jornalistas. Segundo ele, neste ano, estão reservados R$ 3,5 bilhões para redução de impostos da indústria com iniciativas de descarbonização e inovação.
"A maioria das montadoras anunciou, está anunciando e vai anunciar investimentos importantes. O estado de São Paulo também participa", disse Alckmin, em evento na Fiesp (Federação da Indústria do Estado de São Paulo).
No fim de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a Hyundai irá investir cerca de R$ 5,4 bilhões no país até 2032. Na ocasião, o governo se encontrou com o presidente-executivo do grupo Hyundai Motor, Eui-Sun Chung.
O valor anunciado será concentrado em tecnologia, em particular a de carros híbridos, elétricos e movidos a hidrogênio verde.
O governo também já se reuniu, neste começo de ano, com a montadora chinesa de carros elétricos BYD. A empresa vai se instalar em Camaçari (BA), na antiga instalação da Ford, que parou de produzir veículos no Brasil. O governo estima investimento de R$ 3 bilhões.
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