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Bolsa fecha em alta e registra melhor desempenho mensal em três anos

Índice de preços favorito do Fed desacelera e reforça expectativa de que alta de juros chegou ao fim

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São Paulo

A Bolsa brasileira subiu e garantiu seu melhor mês em três anos nesta quinta-feira (30). O Ibovespa encerrou o dia em alta de 0,92%, aos 127.331 pontos, acumulando avanço de 12,53% no mês. Foi o melhor desempenho mensal do índice desde novembro de 2020, quando teve alta de 15,90%.

Como pano de fundo, dados fracos de inflação nos Estados Unidos reforçaram apostas de que a alta de juros no país já chegou ao fim e animaram investidores sobre uma possível antecipação do ciclo de cortes nas taxas americanas.

O Departamento de Comércio dos EUA divulgou nesta quinta que o índice de preços PCE, acompanhado de perto pelo Fed para decisões sobre juros, acumulou alta de 3,0% nos 12 meses até outubro, em sua taxa anual mais fraca desde março de 2021, após avanço de 3,4% em setembro.

"Os números do PCE de outubro sugerem que a economia dos EUA começa a mostrar sinais mais evidentes de desaquecimento", afirma Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

O economista aponta, ainda, que os novos dados indicam que a probabilidade de manutenção do atual patamar de juros nos EUA em dezembro aumentou e que a antecipação do início do ciclo de cortes nas taxas para o primeiro semestre do ano que vem entrou no radar de investidores.

"Nesta semana, pela primeira vez, a tese de juros mais altos por mais tempo começa a ser enfraquecida, e os mercados passarão a levar essa nova possibilidade em consideração."

Painel eletrônico de índices de mercado na B3, a Bolsa brasileira, em São Paulo - Paulo Whitaker - 7.jan.2016/Reuters

Apesar das apostas de queda de juros, o dólar registrou alta no Brasil e no exterior nesta terça após a divulgação dos novos dados de inflação, refletindo a maior demanda pela moeda norte-americana comum no final do ano, período em que empresas e fundos se preparam para enviar remessas de recursos para o exterior.

Além disso, a sessão foi de volatilidade nas negociações locais devido à disputa pelo fechamento da Ptax de fim de mês, uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.

Com isso, o dólar subiu 0,58%, terminando o dia cotado a R$ 4,915. No mês, no entanto, a moeda americana acumula queda de 2,48%.

No exterior, o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes avançava 0,79% no fim da tarde, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro americano se recuperavam de mínimas recentes. No acumulado do mês, porém, o índice cedeu 2,93%.

Num geral, a perspectiva de juros mais baixos nos Estados Unidos costuma levar a um redirecionamento de recursos para países mais rentáveis, ainda que mais arriscados, como o Brasil.

No cenário doméstico, falas do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, também animaram os negócios. Ele afirmou que, diante de um cenário mais benigno, vem sentindo maior pressão do mercado para aceleração dos cortes de juros no Brasil.

Galípolo destacou, no entanto, a postura de cautela da autoridade monetária em situações de incerteza.

Após as falas do diretor, as curvas de juros futuros locais mais curtas caíram, apoiando os negócios. Às 18h, os contratos com vencimento em janeiro de 2025 iam de 10,42% para 10,32%, enquanto os para 2027 caíam de 10,10% para 10,09%.

"O Ibovespa ganhou força justamente com um novo impulso sobre o principal driver [motivador] do mês, a partir da queda dos juros futuros, que naturalmente beneficia os ativos de renda variável", afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

As taxas mais longas, no entanto, subiram, acompanhando os títulos americanos.

A forte alta do Ibovespa no mês de novembro foi impulsionada justamente pelas perspectivas de quedas de juros nos Estados Unidos, que deu alívio a ativos de renda variável globalmente.

"O mês foi marcado por uma expressiva entrada de capital estrangeiro na bolsa e um notável aumento no apetite por risco. Ações cíclicas domésticas figuraram entre as maiores altas, em um cenário favorecido pela diminuição das taxas de juros, tanto no Brasil quanto no exterior", Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos.

Com a perspectiva de cortes de juros próximos, os índices americanos também registraram um mês positivo. O S&P 500 acumulou ganho de 8,92% em novembro, enquanto o Dow Jones subiu 8,77% e o Nasdaq, 10,70%. O índice de ações mundiais do MSCI, que acompanha 47 países, saltou quase 9% no mês.

Sene aponta, ainda, que a alta do minério de ferro no mês —que beneficiou ações da Vale, a maior empresa do Ibovespa— e resultados positivos de empresas locais deram impulso adicional à Bolsa brasileira. No âmbito interno, o índice também se beneficiou da redução do risco fiscal, com membros do governo afirmando que a meta de superávit primário para 2024 será mantida, diz a analista.

Ibovespa tem maior rentabilidade dentre investimentos em novembro

Com a alta acumulada de 12,54% no mês, o Ibovespa superou com folga os ganhos nas aplicações mais tradicionais. O CDI rendeu 0,9% no mesmo intervalo, e a poupança, 0,55%. Apesar de relativamente baixas, as rentabilidades superam a inflação prevista para o período, de 0,28% segundo o Focus.

O segundo e o terceiro lugar no pódio de aplicações mais rentáveis em novembro também são índices da Bolsa de Valores de São Paulo: o Small Caps e o Idiv, com ganhos de 12,46% e 10,70%, respectivamente.

O Small Caps é o índice da B3 que reúne companhias de menor capitalização. São os que ficam de fora de 85% do valor de mercado quando se classifica as empresas em ordem decrescente de capitalização, mas que ainda têm negociação relevante. Já o Idiv reúne as que empresas que se destacam pelo pagamento constante de dividendos.

O BDRX, que reúne os principais BDRs (recibos de ações listadas no exterior), acompanhou parcialmente o movimento, com alta de 6,46% no mês. A valorização não foi maior pela queda de quase 3% do dólar no período.

O Ifix (Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários), por sua vez, não conseguiu capturar a onda da renda variável e terminou novembro com leve alta de 0,66%.

"Construção civil tende a ser o último setor a se recuperar, mas a queda dos juros e a possível volta da confiança do consumidor pode trazer um movimento positivo para o setor", diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, que recomenda, inclusive, a compra das ações do setor.

Já entre as commodities, o petróleo Brent (referência internacional) caiu 5,24% em novembro, a US$ 82,83 por barril, com o arrefecimento das tensões em torno do conflito em Gaza. O minério de ferro, por sua vez, teve alta de 8,57%, a US$ 132 a tonelada. Segundo Serra, da Toro, há espaço para a commodity subir mais, impulsionando as ações da Vale, para as quais ele recomenda compra.

No período, a rentabilidade dos treasuries (títulos do tesouro americano), que haviam assombrado a renda variável nos últimos meses, passou a ceder com a perspectiva de taxas de juros menores nos EUA.

O rendimento do Treasury de dez anos —referência global para decisões de investimento— caiu de 4,77% para 4,37%. A taxa do Treasury de dois anos —que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo— foi de 4,95% a 4,73%.

A curva de juros brasileira acompanhou o movimento americano. A taxa para janeiro de 2025 terminou novembro em 10,32%, ante 11,09% ao fim de outubro. A taxa para janeiro de 2027 foi de 11,24% para 10,09% e a para janeiro de 2031 ficou em 10,767%, de 11,77% no mês passado.

A queda nos juros futuros afetou a rentabilidade dos títulos do Tesouro Direto, cujo desempenho é medido pelo índice Ima Geral, que rendeu 1,75% no período.

O Ihfa, índice de fundos multimercados, que combinam renda fixa e variável, teve um desempenho positivo de 2,21% no mês.

Para Serra da Toro, ambas as modalidades oferecem boas oportunidades de investimento. Na renda fixa, ele destaca os títulos prefixados e os atrelados a inflação. No Tesouro Direto, o título para 2026 está com uma rentabilidade anual de 10,05% e o IPCA + 2029, com inflação mais 5,46% ao ano. "O pós-fixado [que acompanha a Selic] não deixa de ficar interessante, mas vai ficar menos atrativo", diz o analista.

Economistas preveem que a Selic, atualmente em 12,25%, deve cair para 11,75% em dezembro e para 9,25% ao fim de 2024, reduzindo a rentabilidade da renta fixa no geral.

Petrobras e Embraer são destaques do dia

As principais altas da sessão desta quinta foram de Vale e Petrobras, as maiores empresas da Bolsa, que foram as mais negociadas da sessão.

A mineradora terminou o dia em alta de 0,54%, acompanhando a subida do minério de ferro no exterior.

Já a Petrobras teve os ganhos limitados pela queda do petróleo, mas garantiu forte alta após sua assembleia de acionistas ter aprovado uma mudança no estatuto da companhia que abre a possibilidade de indicações de políticos para membros da alta cúpula. A empresa terminou o pregão avançando 1,93%.

Após receber um pedido de 25 jatos da canadense Porter Airlines, a Embraer ficou entre as empresas com melhor desempenho do dia, registrando alta de 5,44%. A companhia também foi beneficiada por uma recomendação de compra do Bradesco.

Foram Cielo e Magazine Luiza, no entanto, que lideraram os ganhos do pregão, com altas de 7,77% e 7,44%, respectivamente.

Com Reuters

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