Menopausa é a próxima fronteira dos benefícios corporativos

Depois do congelamento de óvulos e da licença parental estendida, empresas interessadas em atrair e reter talentos apoiam trabalhadoras na menopausa

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Alisha Haridasani Gupta
The New York Times

Quando já passava dos 40 anos, aproximando-se dos 50, Celia Chen começou a apresentar sintomas para os quais não encontrava explicação. Eram coisas como ansiedade, uma elevação de sua taxa glicêmica, acne e uma dor crônica no ombro, todas as quais ela atribuiu a seu trabalho de alta pressão como executiva de marketing de uma startup, que envolvia longos voos noturnos e muitas horas de trabalho por dia.

Aos 48 anos, depois de mudar de ginecologista, ela soube que essas alterações eram relacionadas à transição para a menopausa, conhecida como a perimenopausa. E que o estresse de seu trabalho só estava agravando os sintomas. Chen conta que a médica lhe disse: "Seu corpo está gritando para você dar um tempo".

"Eu não consegui continuar", ela disse.

Ela acabou modificando seu estilo de vida. Depois de alguns meses, mudou de trabalho, tornando-se consultora, de modo que podia controlar seus horários de trabalho e níveis de estresse.

Os sintomas associados à transição para a menopausa, que podem durar uma década, frequentemente dificultam a vida profissional das mulheres e surgem justamente em um momento da vida em que elas podem estar assumindo papéis executivos maiores.

Mulher asiática de preto
Celia Chen achou que seus sintomas estavam relacionados ao estresse no trabalho. Mas era a perimenopausa. - Bethany Mollenkof/The New York Times

Um estudo da Clínica Mayo publicado este ano concluiu que 15% das mulheres faltaram ao trabalho ou reduziram seus horários de trabalho devido aos sintomas da menopausa –e que essa perda de produtividade custa às mulheres cerca de US$ 1,8 bilhão por ano (R$ 8,9 bilhões). Pesquisadores no Reino Unido também constataram que mulheres que aos 50 anos informam sofrer de pelo menos um sintoma da menopausa que complica suas vidas têm 43% mais chances de deixarem seus empregos até os 55.

Da mesma forma que muitas empresas interessadas em atrair e reter talentos ampliaram seus pacotes de benefícios para abranger tratamentos de fertilidade, programas de licença maternidade ou paternidade paga e pagamento de creche para os filhos de funcionários, algumas agora estão incluindo atendimento específico para a menopausa.

Esses benefícios podem incluir acesso virtual ao grupo pequeno de cerca de mil especialistas certificados em menopausa nos EUA, profissionais que podem ser difíceis de se encontrar localmente, além da cobertura de tratamentos hormonais frequentemente caros, que podem não estar incluídos em alguns planos de convênios médicos.

Para a empresa de assistência médica Sanofi, a inclusão de benefícios voltados à menopausa foi muito natural, diz Nathalie Grenache, vice-presidente sênior de pessoas e cultura.

"Se você se sente verdadeiramente apoiada em todo seu ciclo de vida, quer seja maternidade ou menopausa, ficará mais engajada com a empresa", ela disse. "Tenho certeza que a nova geração é mais exigente em relação a esse ponto."

Os provedores de serviços de apoio corporativo à menopausa dizem que as companhias estão aderindo rapidamente. A Peppy, empresa de telessaúde de gênero inclusivo fundada no Reino Unido em 2018, oferece apoio à menopausa em locais de trabalho e começou a prestar serviços nos EUA em janeiro. Ebay, Nvidia, Wiley e Capgemini são todas clientes dela.

Em outubro, a provedora de benefícios à saúde Maven lançou um produto ligado à menopausa que oferece acesso através de aplicativo a especialistas e terapeutas, além de salas de chat para a troca de experiências e dicas. Segundo Kate Ruder, CEO e fundadora da Maven, em nove meses, mais de 150 empresas passaram a usar o serviço que, "de todos os produtos da Maven, é o de venda mais rápida".

Mais de 40% das mulheres trabalhadoras têm pelo menos 45 anos, idade na qual as mulheres tipicamente iniciam a transição para a menopausa (se bem que alguns estudos sugiram que esse processo pode se iniciar mais cedo entre mulheres não brancas). Essa mudança, que assinala o fim dos anos reprodutivos da mulher, é caracterizada por uma gama de sintomas, incluindo insônia, ondas de calor e confusão mental.

Os sintomas podem ser debilitantes, porque existem poucas opções de tratamento eficaz e muito poucas pesquisas sobre por que e como a menopausa altera o corpo.

Apesar do alto custo da menopausa e de ela ser uma experiência comum a todas as mulheres, esta fase tem sido em grande medida ignorada nos locais de trabalho. Uma pesquisa de 2023 do Bank of America constatou que 58% das mulheres se sentem constrangidas em falar sobre menopausa no trabalho, porque o assunto parece muito pessoal e porque temem a possibilidade de serem julgadas por seus colegas.

Mas isso está mudando à medida em que mais mulheres ocupam posições de liderança, disse Max Landry, co-CEO da Peppy. "As mulheres que vão passar pela menopausa nos próximos cinco a dez anos não vão aceitar isso como normal do modo como fez a geração de minha mãe", disse.

Alguns especialistas legais afirmam que as leis existentes podem obrigar empresas a fazerem adaptações para a menopausa que podem extrapolar os benefícios de saúde específicos, para incluir a flexibilidade de horários ou a criação de espaços de esfriamento.

Essas leis incluem a nova Lei de Justiça para Trabalhadoras Grávidas, que entrou em vigor em junho, disse Liz Morris, vice-diretora do Center for WorkLife Law, da Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia. A lei obriga as empresas a oferecerem espaços de descanso para trabalhadores grávidas, em fase de recuperação pós-parto e "condições médicas relacionadas" que, argumentou Morris, podem incluir a fase do fim da fertilidade.

Independentemente de esse argumento ainda não testado se sustentar nos tribunais, os benefícios corporativos não serão o bastante, afirma Jennifer Weiss-Wolf, diretora executiva do Centro Birnbaum de Liderança Feminina da Escola de Direito da Universidade de Nova York. Ela diz que são necessárias mais pesquisas que possam ajudar a evitar os sintomas e leis que proíbam especificamente a discriminação.

Na melhor das hipóteses, disse Weiss-Wolf, os benefícios corporativos não fazem mais que "arranhar a superfície".

Tradução de Clara Allain

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