Yellen critica ações 'punitivas' da China contra empresas dos EUA e pede reformas no mercado

Secretária do Tesouro americano foi a Pequim para tentar reparar relação entre dois países

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Andrea Shalal Joe Cash
Pequim | Reuters

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, pediu nesta sexta-feira (7) reformas de mercado na China e criticou a segunda maior economia do mundo por suas recentes ações duras contra empresas americanas e os novos controles de exportação de alguns minerais críticos.

Yellen chegou a Pequim na quinta (6) para tentar reparar as relações conflituosas entre Estados Unidos e China, mas deixou claro em suas declarações públicas que Washington e seus aliados ocidentais continuarão a rebater o que chamou de "práticas econômicas desiguais" da China.

Yellen falou na AmCham (Câmara Americana de Comércio na China) depois do que um funcionário do Tesouro chamou de conversas "substanciais" com o ex-chefe da economia chinesa, Liu He, um confidente próximo do presidente Xi Jinping, e com o banqueiro central chinês, Yi Gang.

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, à esquerda, em reunião com primeiro-ministro chinês, Li Qiang, em Pequim, China - Mark Schifelbein - 7.jul.2023/Pool via Reuters

Os Estados Unidos estão buscando uma concorrência saudável com a China com base em regras justas que beneficiem ambos os países, não uma abordagem de "o vencedor leva tudo", disse Yellen ao primeiro-ministro chinês, Li Qiang, numa reunião posterior na sexta-feira.

Ela disse esperar que sua visita estimule uma comunicação mais regular entre os dois rivais e que quaisquer ações de Washington direcionadas a proteger a segurança nacional não devem comprometer "desnecessariamente" o relacionamento mais amplo.

"Buscamos uma competição econômica saudável que não seja ‘o vencedor leva tudo’, mas que, com um conjunto justo de regras, possa beneficiar ambos os países ao longo do tempo", disse ela.

Yellen e outras autoridades americanas estão caminhando sobre uma difícil corda bamba para tentar reparar os laços conturbados com a China depois que forças militares americanas derrubaram um balão do governo chinês sobre os Estados Unidos, enquanto continuam a pressionar Pequim para interromper práticas que consideram prejudiciais às empresas americanas e ocidentais.

As autoridades dos EUA minimizaram as perspectivas de grandes avanços, destacando a importância de comunicações mais regulares entre as duas maiores economias do mundo.

A China espera que os EUA tomem "ações concretas" para criar um ambiente favorável para o desenvolvimento saudável dos laços econômicos e comerciais, disse seu ministério das finanças em comunicado nesta sexta.

"Não há vencedor numa guerra comercial ou de dissociação e 'quebra de correntes'", acrescentou o comunicado.

Li disse a Yellen que um arco-íris que apareceu quando seu avião pousou ao chegar de Washington na quinta-feira (6) ofereceu esperança para o futuro dos laços EUA-China.

"Acho que há mais nas relações China-EUA do que apenas vento e chuva. Certamente veremos mais arco-íris", disse ele.

As empresas americanas na China esperam que a visita assegure que as rotas comerciais entre as duas economias permaneçam abertas, independentemente da temperatura das tensões geopolíticas.

O presidente da AmCham, Michael Hart, deu as boas-vindas ao "poder de fogo extra" de Yellen em pressionar por mudanças nas políticas da China, e disse que sua visita pode abrir caminho para mais intercâmbio em níveis mais baixos entre os dois lados.

"Acho que se houvesse mais um ano sem visitas dos principais líderes do governo americano, o mercado ficaria mais frio", acrescentou.

Preparando possível reunião entre Biden e Xi

O impulso diplomático dos EUA vem antes de um possível encontro entre os presidentes Biden e Xi, ainda na Cúpula do Grupo dos 20 em setembro em Nova Délhi ou na reunião de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico agendada para novembro em San Francisco.

O secretário de Estado, Antony Blinken, viajou a Pequim no mês passado e concordou com Xi que a rivalidade mútua não deveria se transformar em conflito, e o enviado climático de Biden, John Kerry, deve visitá-lo ainda este mês.

Yellen disse aos executivos americanos que uma "relação estável e construtiva" entre os dois países beneficiaria as empresas e os trabalhadores americanos, mas Washington também precisa proteger seus interesses de segurança nacional e direitos humanos.

As trocas regulares podem ajudar os dois países a monitorar os riscos econômicos e financeiros num momento em que a economia global enfrenta "ventos contrários como a guerra ilegal da Rússia na Ucrânia e os efeitos prolongados da pandemia", acrescentou Yellen.

Ao mesmo tempo, ela disse que levantaria preocupações junto às autoridades chinesas sobre o uso de subsídios ampliados por Pequim para empresas estatais e empresas domésticas, que barram o acesso de empresas estrangeiras ao mercado, e suas recentes "ações punitivas" contra empresas americanas.

Os novos controles chineses de exportação de gálio e germânio, minerais críticos usados em tecnologias como semicondutores, também são preocupantes, disse ela, acrescentando que a medida ressalta a necessidade de "cadeias de suprimentos resilientes e diversificadas".

Reformas de mercado

Yellen também visou a economia planejada da China, instando Pequim a retornar a práticas mais voltadas para o mercado que sustentaram seu rápido crescimento nos últimos anos.

"Uma mudança em direção a reformas de mercado seria do interesse da China", disse ela no evento da AmCham.

"Uma abordagem baseada no mercado ajudou a estimular o crescimento rápido da China e ajudou a tirar centenas de milhões de pessoas da pobreza. Esta é uma notável história de sucesso econômico."

Yellen observou que a enorme e crescente classe média chinesa forneceu um grande mercado para bens e serviços americanos e enfatizou que as ações direcionadas de Washington contra a China foram baseadas em preocupações de segurança nacional.

"Buscamos diversificar, não dissociar", disse ela. "Uma dissociação das duas maiores economias do mundo seria desestabilizadora para a economia global e seria praticamente impossível de realizar."

Tradução de Luiz Roberto Gonçalves

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