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Bolsa e dólar sobem após IPCA-15 reforçar apostas de corte mais agressivo da Selic

Alta das commodities no exterior apoiam Ibovespa, que supera os 122 mil pontos

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São Paulo

A Bolsa brasileira registrou nova alta nesta terça-feira (25) após a divulgação do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de julho, que caiu mais que o esperado pelo mercado e reforçou apostas de um possível corte maior da Selic (taxa básica de juros) na próxima semana. Uma disparada da Vale diante da expectativa de estímulos econômicos na China também apoiou os negócios no Brasil.

Já o dólar começou a sessão em queda, mas passou a operar alta ao longo do dia, com investidores aguardando a próxima decisão sobre juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que será divulgada na quarta (26). As negociações também foram marcadas por um movimento de realização de lucros.

Com isso, o Ibovespa subiu 0,54%, aos 122.007 pontos, enquanto o dólar avançou 0,33%, fechando o dia cotado a R$ 4,749.

O IPCA-15 teve queda de 0,07% em julho, registrando sua primeira baixa desde setembro de 2022, segundo dados divulgados nesta terça pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A baixa foi maior do que a mediana das projeções do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam deflação (baixa) de 0,02%, após o leve avanço de 0,04% registrado pelo índice em junho.

Os dados reforçaram o otimismo do mercado sobre a queda da inflação neste ano, especialmente os resultados dos núcleos —que desconsideram o peso de fatores temporários sobre os índices— e do setor de serviços.

"A avaliação confirma a nossa expectativa de que a desinflação dos núcleos e serviços continua, e deve encerrar o ano em cerca de 5% com intensificação a partir de agosto. O número de hoje volta com o otimismo de que a velocidade de arrefecimento está em linha com a projetada", diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena.

Notas de dólar e de real Envio de recursos para o exterior parece medida incoerente de proteção - Ricardo Moraes/Reuters

Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que o IPCA-15 de julho dá sinais de melhora, mas não permite dizer que a queda da inflação está consolidada.

"Ainda não dá para cravar que o agrupamento de serviços perdeu resiliência e nem que o processo desinflacionário está completo. Mas trata-se de mais uma observação benigna da inflação corrente, ainda que seja apenas um alívio", afirma Sanchez.

Para Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos, os novos dados de inflação reforçam as apostas de um corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que ocorre na próxima semana. A casa manteve, porém, sua projeção de uma redução mais cautelosa de 0,25 ponto.

O diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia, também afirma que um corte de 0,5 ponto ganhou força após a divulgação do IPCA-15.

"O novo dado coloca Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central] num debate desconfortável sobre a redução de 0,5 ponto já na próxima reunião. Esse BC sempre atuou com mais rigor, manteve os juros maiores do que a expectativa do mercado e provavelmente deseja reduzi-los num ritmo mais lento que o esperado", diz Saadia.

O economista aponta, ainda, que um corte de juros mais forte acompanhado de um aumento dos combustíveis —após a retomada da cobrança de impostos federais no início do mês— pode deixar o trabalho do BC mais ruidoso e provocar uma alta nos juros longos pelo mercado.

As curvas de juros futuros, aliás, refletiram o aumento das apostas de um corte de maior magnitude. Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 saíram de 12,70% para 12,63%, enquanto os para 2025 foram de 10,73% para 10,63%.

Nesse cenário, a Bolsa brasileira registrou nova alta e superou os 122 mil pontos, apoiada por subida de ações da Vale (3,09%) e da Petrobras (2,31%), as maiores do Ibovespa, em dia positivo para commodities no exterior.

Nesta terça, a agência estatal chinesa de notícias Xinhua noticiou que a China vai intensificar os estímulos econômicos para se concentrar na demanda doméstica. A informação fez o preço do minério de ferro disparar, já que o país asiático é um grande consumidor de aço, e deu força às ações da Vale no Brasil. Já a Petrobras foi beneficiada pela alta do petróleo no exterior.

Do outro lado, a alta do petróleo —que aumenta o custo das empresas aéreas— pressionou as ações da Gol, que registraram as maiores perdas do dia ao caírem 3,06%. Quedas de Minerva (2,71%) e PetroRio (2,62%) completam a lista de piores resultados da sessão.

Antes da divulgação do IPCA-15, o BC apresentou o relatório Focus desta semana, que mostrou uma redução das expectativas para a inflação de 2023. Agora, a projeção para a alta do IPCA no ano é de 4,90%, ante 4,95% uma semana atrás.

O boletim também mostrou que o dólar passou a ser estimado em R$ 4,97 ao final de 2023, contra R$ 5,00 na semana anterior. Para 2024 a moeda norte-americana segue sendo calculada em R$ 5,05.

Apesar da projeção de queda feita por analistas, o dólar registrou leve alta nesta terça, numa sessão marcada por realização de lucros.

"O mercado rompeu uma região de resistência para o dólar, que era perto dos R$ 4,78. Então, tem um movimento natural de correção. Mas se continuarmos a ver um cenário favorável, o dólar pode chegar nos R$ 4,60, talvez até nos R$ 4,50", avaliou Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Além disso, o foco do mercado segue na próxima decisão de juros do Fed, com divulgação marcada para quarta. O consenso de analistas é que a autoridade monetária americana deve promover um aumento de 0,25 ponto percentual nas taxas do país.

"Esse é o dado mais importante da semana. Se subirem os juros mais que 0,25 ou derem um pronunciamento mais duro, o mercado vai sentir e o dólar deve subir, especialmente porque vai afetar os ativos de risco. Depois da decisão saberemos se vamos manter o dólar nos R$ 4,70 ou subir para R$ 4,80", diz Marcos Weigt, chefe da Tesouraria do Travelex Bank.

As projeções de redução dos juros no Brasil também podem pressionar o desempenho do real ante o dólar, já que o atual nível da Selic, em 13,75% ao ano, é apontado como um dos pontos de apoio para a moeda brasileira ao atrair investimentos para a renda fixa do país.

Economistas dizem, porém, que possíveis perdas na renda fixa brasileira podem ser compensadas pela entrada de recursos na Bolsa, que seria beneficiada por um corte de juros. Assim, ainda haveria espaço para queda do dólar no Brasil nos próximos meses.

Além disso, com a diminuição das expectativas de inflação, a projeção é que o Brasil continue com juro real (que desconta o IPCA) atrativo, o que também beneficiaria a moeda brasileira.

Sob a expectativa do Fed, os principais índices acionários dos EUA também fecharam em alta, ainda esperando que o próximo aumento de juros no país deve ser o último do ano. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq subiram 0,08%, 0,28% e 0,61%, respectivamente.

Com Reuters

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