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O Dia Livre de Impostos é a solução simples (e errada) para um problema complexo

Sociedade sem tributação teria menos escolas, hospitais, segurança e outros serviços públicos

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Rodrigo Spada

Presidente da Febrafite (Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais)

O jornalista norte-americano H. L. Mencken escreveu que para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada. É nesta categoria que se encaixa a iniciativa Dia Livre de Impostos, que acontece nesta quinta-feira (25), organizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas Jovem (CDL Jovem).

O movimento parte de um problema real e grave: a constatação de que o excesso de tributação e burocracia atrapalha o nosso ambiente de negócios. Compartilhamos o entendimento a respeito do diagnóstico. O problema é que, diante disso, apresenta-se uma solução não apenas ineficaz, como perigosa: a ideia de que é possível viver sem impostos e que a única consequência disso seria termos produtos mais baratos. Isso é falso.

Posto na avenida Sumaré, na zona oeste de São Paulo, vendeu combustível sem impostos e mais barato na 11ª edição do Dia da Liberdade de Impostos em 2015. Carros fizeram fila na posto de Bandeira Ipiranga.
Posto na avenida Sumaré, na zona oeste de São Paulo, vendeu combustível sem impostos e mais barato na 11ª edição do Dia da Liberdade de Impostos em 2015 - Zanone Fraissat/Folhapress

Um dia verdadeiramente livre de impostos, para ser completo, deveria também fechar escolas, hospitais, postos de saúde, tirar polícia e bombeiro das ruas, deixar o lixo espalhado nas calçadas e as ruas sem asfalto, apagar os semáforos e toda a iluminação pública, fechar Procons, Fóruns e equipamentos de assistência social. São os impostos, afinal, que viabilizam a existência do Estado e de toda sua extensa e indispensável rede de serviços.

Ao mostrar só uma parte desse ciclo de tributação e financiamento dos serviços públicos, a iniciativa patrocina uma imagem distorcida que apresenta o Estado como mero empecilho entre consumidores e mercadorias mais acessíveis. Como se a tributação tivesse um fim em si mesma, por capricho ou ganância do Estado.

O momento político pede contribuições maduras e bem elaboradas sobre o sistema tributário nacional. A discussão que acontece no Congresso e no Executivo é ampla e tem sido plural, dando voz a diferentes pontos de vista sobre qual é a reforma tributária ideal. A realização deste irrefletido Dia Livre de Impostos gera ruído e desinformação em um momento de intensa mobilização da inteligência social no debate sobre os impostos.

Temos convicção de que o antídoto para este tipo de pensamento – sedutor, é verdade, mas absolutamente equivocado e perigoso – é a educação fiscal. É fundamental investirmos em iniciativas que difundam a compreensão da função social dos tributos, da qualidade do gasto público e do acompanhamento do retorno dos recursos para a sociedade. Por isso, destacamos a importância da aprovação do PL 1982/2023, que institui o Dia Nacional da Educação Fiscal. É premente a necessidade de trabalharmos o tema da tributação de maneira responsável, fundada no exercício da cidadania, da corresponsabilidade, do fortalecimento do pacto social e da compreensão de que todos temos direitos e também deveres.

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