Descrição de chapéu Financial Times

Bancos centrais compram ouro em resposta às tensões geopolíticas

Compras dos administradores de reservas aumentaram em 152% no ano passado, e a expectativa é que continuem subindo

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Daria Mosolova
Londres | Financial Times

Os dirigentes de bancos centrais que administram trilhões em reservas cambiais estão adquirindo ouro, num cenário em que as tensões geopolíticas, incluindo a Guerra da Ucrânia, os obrigam a repensar estratégias de investimento.

Um levantamento anual envolvendo 83 bancos centrais, que gerem um total de US$ 7 trilhões em ativos cambiais, revelou que mais de dois terços dos respondentes acreditavam que seus pares aumentariam suas reservas de ouro em 2023.

O ouro tende a se tornar mais atraente em tempos de instabilidade, e a procura disparou ao longo dos últimos 12 meses. A quantidade de ouro comprada pelos bancos centrais aumentou em 152% no ano de 2022, para 1.136 toneladas, de acordo com o Conselho Mundial do Ouro, uma organização setorial.

Pilha de ouro em ilustração - Petr Josek - 31.jan.2011/Reuters

A maioria dos administradores de reservas entrevistados classificou o risco geopolítico como uma das suas preocupações mais importantes –abaixo apenas de uma inflação elevada— de acordo com o HSBC Reserve Management Trends Survey, produzido pela Central Banking Publications.

Mais de 40% dos entrevistados o classificaram como um dos seus principais fatores de risco, em comparação com 23% no levantamento do ano passado.

Cerca de um terço dos entrevistados tinha mudado ou estava planejando mudar os ativos que adquirem, devido a tensões como a invasão russa da Ucrânia e o agravamento das relações entre os Estados Unidos e a China.

Víctor Méndez-Barreira, autor do relatório, disse que a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia tinha criado um "fator que os gestores de reservas agora precisam ter em conta".

A invasão levou a aliança ocidental dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia a impor extensas sanções financeiras a Moscou, entre as quais medidas para congelar cerca de US$ 300 bilhões em ativos do banco central russo. As reservas de ouro do banco central não se enquadram no âmbito direto das sanções, já que estão armazenadas na Rússia.

Os números do Conselho Mundial do Ouro mostram que muitas das compras feitas durante o ano passado foram realizadas por bancos centrais de países que não estão alinhados com o Ocidente.

O Banco Popular da China [banco central chinês] comprou 62 toneladas de ouro em novembro e dezembro de 2022, elevando pela primeira vez as suas reservas totais de ouro para acima de duas mil toneladas. As reservas oficiais de ouro da Turquia aumentaram em 148 toneladas, para 542 toneladas, em 2022. Países do Oriente Médio e da Ásia Central também foram listados pelo conselho como "compradores ativos" de ouro no ano passado.

John Reade, principal estrategista de mercado no Conselho Mundial do Ouro, disse que as sanções contra o banco central russo tinham "levado muitos bancos centrais não alinhados a reconsiderar onde deveriam manter as suas reservas internacionais".

Ele acrescentou: "Os países reconheceram que o ouro que a Rússia detém, porque está fora do controle de qualquer outra entidade, é útil em situações em que não se pode ter acesso a quaisquer outras reservas".

Embora o ouro da Rússia esteja armazenado no país, muitos bancos centrais mantêm suas reservas no exterior, por exemplo no Banco de Inglaterra e no New York Federal Reserve, o que reflete o status de Londres e Nova York como os maiores mercados de negociação de ouro.

O ouro foi também visto como uma proteção eficaz contra a inflação elevada —a preocupação número um de mais de 70% dos entrevistados. O preço do ouro agora está próximo de seu maior valor nominal, depois do aumento da inflação ao longo de 2022.

A maioria dos entrevistados disse que o yuan responderia por uma parte maior das reservas internacionais durante o resto desta década.

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, advertiu em um discurso na semana passada que as desavenças entre os Estados Unidos e a China ameaçavam as posições de liderança do dólar e do euro na administração mundial de reservas.

De acordo com dados do FMI, o dólar respondia por 58% de todas as reservas de bancos centrais durante o quarto trimestre do ano passado O euro representava um pouco mais de 20%, e o yuan apenas 2,7%.

O levantamento aconteceu entre fevereiro e meados de março de 2023.

Tradução de Paulo Migliacci

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