Descrição de chapéu Financial Times União Europeia Rússia

Crise energética na Europa aumenta risco de desindustrialização

Presidente da BusinessEurope dá o alarme sobre paralisações permanentes

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Valentina Pop
Financial Times

Houve um suspiro coletivo de alívio nesta quarta-feira (16), quando ficou evidente que a Rússia não intensificou sua guerra na Ucrânia e disparou mísseis contra um país da Otan. Mas as consequências do conflito existente às portas da União Europeia –alto custo da energia, aumento da inflação e uma recessão iminente– ainda estão muito presentes. Vamos examinar as implicações menos positivas da tão anunciada redução no consumo de energia industrial.

Em notícias ligeiramente mais positivas, a Comissão Europeia deu nesta quarta um apoio retumbante à adesão da Bulgária, Croácia e Romênia ao espaço Schengen, livre de fronteiras, o mais rapidamente possível. Vou apresentar a vocês as probabilidades de adesão dos três países no próximo ano.

E ouviremos sobre a mais recente redução regulatória quando se trata do uso de pesticidas na União Europeia.

Fábrica de aço no norte da Alemanha - Axel Heimken/AFP

Mal-estar industrial

Enquanto a UE discute se e como limitar os preços do gás para apoiar a economia, ela gosta de apontar para um sucesso –a redução da demanda. Mas, por outro lado, o consumo reduzido de energia também significa menos produção industrial e, em alguns casos, paralisações permanentes, escreve Andy Bounds, em Bruxelas.

O consumo caiu um quarto em outubro em comparação com a média de 2019-21 para o mês, de acordo com o grupo de pensadores Bruegel. Isso "reduz as contas de energia, acaba com a capacidade de Vladimir Putin de usar como arma seus recursos energéticos, reduz as emissões e ajuda a reequilibrar o mercado de energia", disse o vice-presidente executivo Frans Timmermans em setembro.

Alguns líderes empresariais veem a coisa de maneira diferente. Fredrik Persson, presidente da BusinessEurope, diz que grande parte da queda vem de empresas que cortaram a produção ou até mesmo fecharam. Ele indica a Itália, cujo consumo de gás caiu 24% em outubro.

"As pessoas dizem: 'OK, vocês foram muito bons em economizar', mas quando realmente conversamos com nossos amigos italianos eles dizem: 'Não, isso foi porque as pessoas estão reduzindo a produção'."

No entanto, a maioria não anuncia seus temores. "É um pouco como se afogar –você acha que as pessoas gritariam nessa situação. Mas a coisa é feita discretamente."

Outros países tiveram quedas ainda maiores. Em Portugal foi de 48% e na Romênia, 78%. A indústria cerâmica de Portugal, que precisa de gás para alimentar seus fornos, sofreu, disse Persson.

Segundo ele, as empresas da União Europeia enfrentam uma "séria perda de competitividade", já que os preços do gás no atacado estão cinco a sete vezes mais altos na Europa do que na Ásia e nos Estados Unidos.

A empresa química alemã Basf disse recentemente que expandiria a produção na China e "enxugaria permanentemente" na Europa, devido aos altos preços da energia e à queda da demanda.

Na Alemanha, a indústria responde por um quarto da demanda. Os números mostram que a produção nas indústrias intensivas em energia começou a cair em fevereiro e está abaixo do nível da indústria em geral desde maio de 2022.

Em uma pesquisa feita em setembro pela Associação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio, 8% dos entrevistados estavam pensando em transferir a produção para outro lugar devido aos altos preços da energia na Europa.

Persson instou os ministros de energia reunidos em 24 de novembro a apoiar os planos para combater os altos preços, incluindo um mecanismo para impedir que o preço do gás aumente o da eletricidade.

"Ainda dá tempo", disse ele. "Se conseguíssemos controlar o preço da energia... poderíamos restaurar o conforto dos investimentos e dos negócios na Europa. Nossos membros querem estar na Europa."

Por trás da disputa franco-italiana sobre migração e como lidar com os navios de resgate das ONGs está a realidade de um número crescente de pessoas que tentam cruzar o Mediterrâneo para a Europa.

Ampliação de Schengen

A Comissão Europeia pediu ontem aos Estados membros que deixem a Bulgária, a Croácia e a Romênia entrar "sem demora" na zona Schengen sem fronteiras, porque elas têm um "sólido histórico de conquistas". Mas a resposta para isso está com a Holanda e a Suécia, não com Bruxelas.

A Croácia ainda é nova na fila de espera da ampliação do Schengen, onde a Bulgária e a Romênia estão há mais de dez anos. Mas, com Zagreb a caminho de adotar o euro em 1º de janeiro e sua aptidão para Schengen não contaminada por temores de corrupção e questões de Estado de direito (como é o caso de Bucareste e Sófia), pode apenas seguir em frente.

Isto é, se o novo governo da Suécia conseguir convencer os Democratas Suecos de extrema-direita a levantarem sua oposição à entrada de qualquer país em Schengen em breve. Para aumentar a complexidade dos cálculos parlamentares suecos está uma recente reviravolta na oposição de centro-esquerda, que estava no governo até recentemente e apoiava a ampliação de Schengen.

"É hora de dizer bem-vindos", disse a comissária de assuntos internos Ylva Johansson, uma social-democrata sueca. "Esses três países membros merecem se sentir totalmente europeus. A espera tem sido longa."

As complicações suecas se somam às reservas de longa data manifestadas pelo governo e o Parlamento holandeses em relação à Bulgária e à Romênia, por causa de problemas de corrupção e Estado de direito. Aqui também, no entanto, há algum movimento recente. O governo romeno se abriu ao escrutínio extra de uma equipe de inspeção que inclui especialistas holandeses, e a comissão prometeu emitir um relatório sobre o Estado de direito e as reformas anticorrupção nas próximas semanas (ambos eram precondições holandesas).

O ministro das Relações Exteriores da Romênia, Bogdan Aurescu, disse em Bucareste que mantém os esforços diplomáticos com a Holanda e a Suécia, acrescentando que seu homólogo sueco o tranquilizou sobre o apoio de seu governo.

Uma observação do chanceler alemão, Olaf Scholz, em seu discurso em agosto sobre o apoio da Europa às candidaturas dos três países também reavivou as esperanças de algum movimento nessa frente. Mas ainda não está claro se tudo isso os levará à decisão. Esta poderá ser tomada no próximo conselho de Justiça e Assuntos Internos, de 8 a 9 de dezembro.

Broches com o texto "eu amo Schengen" da loja do European Museum Schengen, em Luxemburgo - Wolfgang Rattay/Reuters

Pesticidas, muito vivos

A Comissão Europeia se ofereceu para reverter os planos de proibir o uso de pesticidas em grande parte da Europa, depois que encontraram forte resistência de muitos países, escreve Andy Bounds.

Em vez de proibir seu uso em locais públicos, campos esportivos, áreas de captação de água e áreas protegidas, como reservas naturais, Bruxelas agora está preparada para permitir o controle biológico, substâncias de baixo risco e outras substâncias aprovadas, bem como todos os produtos permitidos na agricultura orgânica.

Funcionários da comissão revelaram um rascunho das mudanças no regulamento de pesticidas na reunião de embaixadores ontem.

"A proposta [original] é vista como muito ambiciosa e afetando uma área desproporcionalmente grande do território dos Estados membros", diz o documento, visto pelo Europe Express.

Cerca de 40% da Eslovênia, por exemplo, são área protegida que inclui muitas terras agrícolas. Em alguns países, todo o território é designado como área de captação de água.

A comissão quer permitir que os governos tenham mais liberdade para definir as áreas mais sensíveis.

Cerca de dez países da Europa Central têm bloqueado o progresso do regulamento proposto, publicado em junho, que visa reduzir o uso de pesticidas pela metade até 2030 e incentivar métodos alternativos de controle de pragas.

As mudanças ainda terão que ser acordadas pelos Estados membros. E restam problemas espinhosos. A comissão propôs uma redução de 50% por país e a proibição total em algumas áreas, mas nações com menor uso de pesticidas, como a Polônia, querem a mesma alocação para todos os 27 membros. Também há reclamações sobre o custo administrativo do sistema.

A comissária de saúde Stella Kyriakides sem dúvida dirá que ouviu os políticos nacionais. Mas os grupos verdes dirão que ela os ignorou, possivelmente estabelecendo um confronto com o Parlamento Europeu, que tende a ser mais ambicioso na legislação ambiental.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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