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PIB juros

PIBinho bom do início do ano tem sintoma de vírus que ameaça PIB do final de 2022 e 2023

Investimento caiu e avanço da economia no 1º trimestre foi salvo por exportações e volta de serviços

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Vinicius Torres Freire

Colunista da Folha

São Paulo

O PIB cresceu mais do que se esperava no final do ano passado ou mesmo faz um par de meses. No conjunto, os números do desempenho da economia no primeiro trimestre não contaram novidades sobre o que tem acontecido no país depois da epidemia, mas são meio desanimadores quanto aos meses à frente.

O número mais relevante, para quem quer olhar um pouquinho mais adiante, foi a queda do investimento (em novas instalações produtivas, residências, máquinas, equipamentos, softwares etc.). Quando se soma esse tombo às perspectivas para o consumo privado de agora em diante, parece que as previsões dos economistas para o segundo semestre devem se confirmar. Isto é, economia crescendo menos, talvez encolhendo, para fechar o ano com alta do PIB um tico maior do que 1,5%. É mais ou menos o ritmo do país de 2017 a 2019, entre a Grande Recessão e a epidemia, menos do que medíocre.

Pessoas caminham em rua do centro de São Paulo
Pessoas caminham em rua do centro de São Paulo - Nelson Almeida/AFP

Se o crescimento nos próximos três trimestres for zero, ainda assim a economia, o PIB, terá crescido 1,47% sobre a média de 2021.

Ainda quando se mede o PIB pela perspectiva das despesas (no que se gastou), o maior destaque foi a alta de exportações (vendas de bens e serviços para o exterior) e a queda de importações. Ou seja, a demanda doméstica (o gasto dos residentes do país em consumo ou investimento) foi fraca —na verdade caiu, no primeiro trimestre. O número do investimento indica que as empresas estão indo para a retranca (por causa juros altos, perspectivas medíocres, mundo crescendo menos, incerteza política, baderna administrativa e legal). Ou também por dificuldades de importar, dada a desordem na produção mundial de insumos, por causa de epidemia e guerra.

Quando se trata do PIB pelo lado da produção, o mais notável, mas esperado, é a alta contínua do setor de serviços. É o efeito da reabertura ou a reconstrução do setor que foi mais arrasado pelas restrições causadas pela Covid. Pode ser também que a irrigação da renda das exportações (commodities caras) e o avanço do comércio eletrônico tenha dado ajudado extra (em especial em transportes). O país jamais consumiu tanto diesel nos últimos 20 anos.

O ramo dos serviços que mais cresceu e que deu maior contribuição ao avanço geral do PIB no trimestre, porém, foi "outros serviços": hotéis, restaurantes e assemelhados, serviços de profissionais, educação e saúde privadas, artes, esporte e entretenimento, manutenção, serviços domésticos etc. A recuperação do emprego até agora, neste ano, relevante, também deve ter contribuído, além de medidas do governo (FGTS, aumentos salariais nos estados).

Se o "consumo das famílias" (despesa privada de consumo) vai mesmo apanhar a partir do terceiro trimestre e o investimento vai continuar desanimado ou em queda, difícil ver como o ritmo até bom desta primeira metade do ano possa se manter.

A alta da taxa de juros vai pesar mais, no consumo e na construção civil. A inflação vai continuar acima de 10% ao ano até setembro, pelo menos. Talvez o IPCA feche o ano em 8%. A carestia ajuda a reduzir os salários, os menores da década, na média e em termos reais. As rendas transferidas pelo governo (Auxílio Brasil) vão ter menos efeito, comidas pela inflação. Alguns aumentos transitórios da renda disponível vão perder efeito (saque do FGTS, 13º do INSS antecipado). Pode ser que a redução de impostos faça alguma coceira. A economia mundial deve crescer menos.

Afora desastres e surpresas positivas, esse é o quadro. Há incógnitas, coisas que o PIB e a maioria dos indicadores não contam. Há algo mais nessa recuperação de serviços? Isto é, o setor reconstruído seria mais eficiente ou inovador? Alguns anos de reformas liberais teriam causado alguma mudança de fundo, ainda invisível? Houve mesmo investimento em automação, como dizem evidências anedóticas? São chutes especulativos, apenas.

No mais, até agora, ainda que melhor do que o esperado até o início deste ano, o crescimento da economia parece cronicamente encalacrado naquele ritmo de 1,5% ao ano, quando não leva uma paulada dos juros, como ocorre agora. As perspectivas para 2023 são de estagnação, crescimento zero (isto é, queda do PIB per capita).

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