O presidente do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, disse que um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa de juros estará "na mesa" quando o Federal Reserve se reunir em 3 e 4 de maio para aprovar a próxima alta deste ano. Powell também sinalizou que poderá ser necessária uma série de aumentos de meio ponto, num conjunto agressivo de ações do Fed.
Em março, a autoridade monetária americana elevou os juros pela primeira vez desde 2018, em 0,25 ponto percentual, para um intervalo entre 0,25% e 0,50% ao ano.
O movimento, contudo, está longe de ser suficiente. Dirigentes da autoridade monetária defendem uma taxa ao redor de 3,5% até o final do ano, para tentar conter a inflação alta para os padrões do país —o índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos atingiu a marca de 8,5% em março, a maior desde 1981.
Com a inflação bem acima da meta de 2% do Fed, "é apropriado avançar um pouco mais rapidamente", disse Powell em uma discussão sobre a economia global nas reuniões do FMI (Fundo Monetário Internacional). "Cinquenta pontos básicos estarão na mesa para a reunião de maio."
O presidente do Fed também disse sentir que os investidores que atualmente antecipam uma série de aumentos de meio ponto estão "reagindo adequadamente, em geral" à luta emergente do Fed contra o aumento dos preços.
Os agentes de mercado que operam contratos vinculados aos juros americanos esperam que o Fed aumente a taxa de juros para um intervalo entre 2,75% e 3% até o final do ano, um ritmo que envolveria aumentos de 0,50 ponto percentual nas três próximas reuniões e aumentos de 0,25 ponto nas três outras sessões do ano.
"Realmente estamos comprometidos em usar nossas ferramentas para recuperar a inflação", disse Powell, reconhecendo que a esperança do Fed de que a inflação diminuiria durante a reabertura da pandemia foi equivocada até agora —a ponto de o Fed não contar mais com a ajuda da melhora das cadeias de suprimentos globais, por exemplo.
"Tínhamos uma expectativa de que a inflação atingiria o pico por volta dessa época e cairia ao longo do resto do ano e depois mais", disse Powell. "Essas expectativas foram decepcionadas no passado. Queremos ver o progresso real. Não vamos contar com a ajuda da cura do lado da oferta. Vamos aumentar as taxas e chegar rapidamente a níveis mais neutros, e depois mais altos, se necessário."
As sinalizações do Fed de uma postura mais dura contra a inflação transmitidas ao mercado fizeram as ações operarem em queda nas Bolsas dos Estados Unidos nesta quinta-feira (21), à medida que juros maiores tendem a provocar um desaquecimento no ritmo da atividade econômica.
O índice Nasdaq, com maior presença de empresas de tecnologia, teve desvalorização de 2,07%, enquanto o S&P 500 cedeu 1,48% e o Dow Jones caiu 1,05%.
Ações de tecnologia acabam sendo as mais penalizadas pelos investidores, em um ambiente de juros mais altos esperados à frente que tende a reduzir os lucros projetados pelos analistas para os negócios digitais no longo prazo.
A Bolsa no Brasil permanece fechada nesta quinta por conta do feriado de Tiradentes, retomando as operações na sexta-feira (22).
Impacto para o Brasil
O foco Banco Central dos Estados Unidos é a inflação doméstica americana. Já os efeitos colaterais afetam investimentos de pessoas e empresas em todo o mundo. E isso não mexe apenas com a vida de investidores e empresários. Empregos, salários e o valor da conta do supermercado de trabalhadores, inclusive os brasileiros, estão em jogo.
Em tempos de dinheiro abundante e barato, grandes investidores ficam mais dispostos a comprar ações de empresas de países de economia emergente, como é o caso do Brasil, um tipo de aplicação considerada arriscada devido à instabilidade desses mercados. Os recursos permitem o crescimento de negócios e a geração de trabalho e renda.
O aperto da política monetária nos Estados Unidos reduz as chances de ações de empresas listadas na Bolsa brasileira serem compradas porque, simplesmente, há menos capital disponível. Mas não é só isso.
Ao aumentar os juros, o Fed eleva a recompensa para quem aplica no Tesouro americano, cujo risco de perdas devido a um calote é considerado inexistente. Com uma opção segura pagando mais, os investidores ficam mais seletivos. Muitos desistem das ações de empresas, principalmente as mais arriscadas.
A alta dos juros americanos também afeta o câmbio. Os investimentos de estrangeiros no Brasil, sejam eles no mercado de renda variável ou na renda fixa, trazem dólares para dentro do país. Se a moeda entra em menor quantidade, ela fica mais escassa e o seu valor frente ao real tende a subir.
O dólar valorizado é um potencial gerador de inflação no Brasil porque torna mais cara a importação de maquinário e componentes utilizados na indústria local, além de diversos itens de consumo.
Materiais básicos exportados por companhias brasileiras pelo exterior também são precificados em dólares. O petróleo produzido pela Petrobras é o exemplo mais conhecido. O preço mais alto pago em dólares pelas commodities no exterior também torna esses produtos mais caros para o consumo aqui no Brasil.
O crescimento das exportações pode, eventualmente, favorecer a entrada de dólares no país. Isso depende de onde os exportadores decidem investir os ganhos com as vendas no mercado externo. É nesse ponto que a política ganha importância.
Um cenário político conturbado, com ameaças ao funcionamento de instituições democráticas e de interferência agressiva do governo no mercado financeiro, afugenta investidores.
Há consenso entre analistas de que o temor desse tipo de instabilidade afastou investimentos do Brasil no ano passado, mesmo com um contexto favorável no exterior devido à política expansionista dos Estados Unidos e de outras das principais economias globais.
Em 2022, ano de eleições no Brasil, investidores estão especialmente atentos a medidas que podem aumentar os gastos públicos.
Despesas elevadas dificultam a execução do Orçamento, como investimentos em infraestrutura, pagamento das dívidas da União e outras ações planejadas pelo governo no ano anterior. É o chamado risco fiscal.
Mais risco significa menos disposição de investidores para investir no Brasil e nas empresas brasileiras, pois eles avaliam que as condições ficam desfavoráveis para o crescimento do mercado interno.
A escassez de liquidez no exterior dificulta o jogo para o Brasil porque, com menos capital, investidores querem mais segurança e lucros maiores ao decidir onde aplicar.
Com Reuters
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