A retomada do setor de serviços no Brasil segue influenciada pelo avanço de negócios relacionados à digitalização de empresas. Em novembro de 2021, o quadro não foi diferente, indicam dados divulgados nesta quinta-feira (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na comparação com outubro, o volume do setor cresceu 2,4%, puxado pela atividade de serviços de informação e comunicação, que inclui a área de tecnologia da informação.
A alta do setor de serviços veio após dois meses consecutivos de queda. Com o avanço em novembro, o segmento recuperou a perda de 2,2% que havia sido acumulada em setembro e outubro, afirma o IBGE.
O crescimento veio bem acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam leve avanço de 0,2% no mês.
A alta de 2,4% é a maior desde fevereiro de 2021 (4%). Assim, o setor ficou 4,5% acima do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020.
A prestação de serviços, contudo, ainda opera 7,3% abaixo do recorde da série histórica, alcançado em novembro de 2014.
O setor envolve uma grande variedade de negócios, de bares, restaurantes, hotéis, salões de beleza e academias de ginástica a instituições financeiras, de tecnologia e de ensino. Também é o principal empregador no país.
Em relação a novembro de 2020, o segmento cresceu 10%, apontou o IBGE. Analistas consultados pela Bloomberg estimavam alta de 6,9% nesse recorte.
No ano de 2021, o setor acumulou avanço de 10,9% até novembro. Em período maior, de 12 meses, o crescimento foi de 9,5%.
Informação e comunicação têm destaque no mês
De acordo com o IBGE, quatro das cinco atividades pesquisadas dentro de serviços avançaram em novembro, frente a outubro. No entanto, apenas duas delas estão acima do pré-pandemia, o que sinaliza uma recuperação ainda desigual.
Em novembro, o destaque veio de serviços de informação e comunicação (5,4%), que recuperaram a perda de 2,9% verificada nos dois meses anteriores.
A atividade está em patamar 13,7% acima do verificado em fevereiro de 2020. Dentro de informação e comunicação, os serviços de tecnologia da informação subiram 10,7%, maior taxa desde janeiro de 2018 (11,8%), ficando 47,4% acima do pré-pandemia.
Esse desempenho chamou atenção no mês, apontou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE. Segundo ele, o avanço da área de TI indica que parte das empresas segue em busca de digitalização, uma tendência acelerada na pandemia.
O segundo impacto positivo entre as atividades, em novembro, veio de transportes, que subiram 1,8% e praticamente recuperaram a perda de 1,9% entre setembro e outubro. O ramo, beneficiado pelo transporte de cargas, opera 7,2% acima de fevereiro de 2020.
Já os serviços prestados às famílias subiram 2,8%. Foi o oitavo avanço consecutivo. Essa atividade reúne empresas bastante impactadas pelas restrições à circulação na pandemia, como bares, restaurantes, hotéis, academias de ginástica e salões de beleza. Os serviços prestados às famílias, contudo, ainda estão 11,8% abaixo de fevereiro de 2020.
A atividade de outros serviços, por sua vez, cresceu 2,9% em novembro, recuperando apenas uma parte da queda de 12,6% entre setembro e outubro. O ramo está 2,5% abaixo do pré-crise.
Os serviços profissionais, administrativos e complementares amargaram a quarta taxa negativa seguida, de 0,3%. A atividade, que está 4,2% abaixo de fevereiro de 2020, funciona como uma espécie de termômetro da atividade econômica, disse Lobo.
Isso ocorre porque o ramo profissional, administrativo e complementar envolve serviços presenciais prestados a outros negócios, em áreas como segurança e limpeza.
"Serviços de caráter presencial, como os prestados às famílias, foram mais impactados pela pandemia e estão mostrando taxas positivas e significativas. Mas ainda não operam em nível igual ou superior a fevereiro de 2020", pontuou Lobo.
"O que traz o setor de serviços para nível 4,5% acima de fevereiro de 2020 são atividades mais voltadas a empresas e que se aproveitaram de oportunidades na pandemia", completou.
Ameaças no radar
No segundo semestre de 2021, as atividades de caráter presencial passaram a apostar em uma melhora dos negócios devido ao impulso da vacinação contra a Covid-19 e da reabertura da economia.
Porém, a recuperação entre o final de 2021 e o começo de 2022 é ameaçada pelo cenário de escalada da inflação, juros mais altos e renda fragilizada. Em conjunto, esses fatores diminuem o poder de compra dos consumidores.
Outro risco vem da variante ômicron, apontada como responsável pelo novo salto da Covid-19 no Brasil.
Restaurantes e bares, por exemplo, tiveram de afastar funcionários em razão dos casos de coronavírus e gripe nas últimas semanas.
A contaminação de trabalhadores também fez com que companhias aéreas cancelassem uma série de voos na largada de 2022.
Lobo disse que é preciso aguardar para saber se a ômicron vai reduzir o crescimento ou até gerar queda na prestação de serviços no país. O pesquisador do IBGE, contudo, reconheceu que a variante pode provocar "reflexo negativo" nas atividades.
"O cancelamento de voos pode implicar em desistência de viagens pelas famílias."
A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) projeta alta de 10,2% para o setor de serviços em 2021, após queda de 7,8% em 2020. O avanço, se confirmado, será o maior da série histórica, com dados a partir de 2011.
Para 2022, a projeção da entidade é de recuo de 0,5%, em um contexto de perda de fôlego da economia brasileira.
Segundo a CNC, após o mês de novembro ter superado expectativas, a variante ômicron "tende a frear a retomada dos serviços".
"A combinação entre nova variante e inflação persistente deve frear a retomada no primeiro trimestre", diz o economista Fabio Bentes, da CNC.
Ele vê espaço para novos avanços de atividades ligadas à área de tecnologia nos próximos meses, com a demanda aquecida de empresas e a possibilidade de queda na circulação de pessoas em razão da ômicron.
Antes de divulgar o desempenho de serviços, o instituto apresentou outro indicador setorial referente a novembro de 2021: a produção industrial, que recuou 0,2%. Foi a sexta baixa consecutiva das fábricas.
Nesta sexta-feira (14), será a vez de o IBGE divulgar o balanço das vendas do comércio varejista em novembro.
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