A retomada gradual das atividades —principalmente no segmento automobilístico— em meio à pandemia da Covid-19 fez a produção industrial do Brasil esboçar recuperação em maio, com alta de 7% na comparação com abril, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mesmo assim, o setor ainda está longe de retomar os 26,3% perdidos em meio à pandemia.
As medidas de isolamento social decretadas em todo o país para conter o avanço do novo coronavírus ainda são sentidas na economia brasileira. Na comparação da produção industrial de maio de 2020 com o mesmo período do ano passado, é possível ver esses impactos, já que o recuo é de 21,9%, o sétimo resultado negativo nessa base de análise.
A recuperação com relação a abril se deve por uma base de comparação muito baixa, ocasionada pela queda generalizada durante a pandemia. Com algum tipo de volta à produção em maio, após um mês praticamente inteiro de paralisação, todas as grandes categorias econômicas registraram crescimento.
Bens de capital cresceu 28,7%, enquanto bens intermediários subiu 5,2% e os bens de consumo aumentaram 14,5% da produção industrial, com destaque para alta de 92,5% nos duráveis.
A influência positiva mais relevante foi em Veículos automotores, reboques e carrocerias, com crescimento de 244,4%, interrompendo dois meses seguidos de queda na produção. Apesar disso, a expansão ficou 72,8% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, último mês antes da Covid-19 começar a causar impactos na economia. Na comparação com maio de 2019, o setor registrou recuo de 74,5%.
Outros destaques foram nos setores de Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, com alta de 16,2%, após perda acumulada de 20% nos três meses anteriores, e também no segmento de Bebidas, com 65,6%, recuperando parte da redução de 49,6% acumulada entre março e abril.
Esses três segmentos - de automóveis, coque e bebidas - representam 25% da indústria nacional e influenciaram no resultado positivo de maio. Segundo André Luiz Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, o crescimento é expressivo, mas pelo patamar que tinha antes das perdas, o recuo ainda é significativo.
"Isso dá uma dimensão do tamanho do rombo, mesmo com esse avanço em maio. Existe um espaço importante a ser percorrido para zerar as perdas ocorridas no período da pandemia da Covid-19", analisou o gerente.
Ele também destacou que é cedo para falar em retomada. "Na medida que as empresas vão retomando e melhorando as atividades, claro que influencia uma melhora, mas temos que ver se crescimento permanece nos meses seguintes", destacou.
A projeção da Bloomberg era de 7% de recuperação com relação a abril de 2020 e 21,8% de recuo na comparação com abril do ano passado.
O registro negativo de abril havia superado até a queda de 11% de maio de 2018, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros. Porém, aquela produção foi reposta no mês seguinte, algo que não aconteceu agora, já que as medidas de isolamento social continuaram em maio.
Macedo apontou que o patamar de produção demonstrado nesse mês é o segundo mais baixo da série histórica, ficando atrás justamente de abril. "Apesar do perfil de expansão, o patamar baixo é fruto das perdas na pandemia, que foram intensas em março e abril", disse Macedo.
O pesquisador ressaltou que, a princípio, o pior momento da indústria ficou em maio, mas não descarta uma piora no futuro, caso a evolução da pandemia exija novas medidas restritivas impostas por cidades e estados brasileiros.
"Uma necessidade de maior isolamento social esbarra nas plantas industriais, que podem interromper a produção e trazer reflexos. Isso também pode acontecer por uma demanda menor no âmbito doméstico, um contingente importante de trabalhadores fora do mercado e também a questão do mercado externo, com as exportações", destacou.
Segundo o IBGE, 20 dos 26 segmentos tiveram registros positivos em maio. Entre aqueles que ficaram no vermelho estão as indústrias de Produtos diversos (-10,9%), Celulose, papel e produtos de papel (-6,4%), Extrativas (-5,6%), Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-3%), Perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-6%) e Outros produtos químicos (-0,6%).
O primeiro óbito conhecido de Covid-19 no país ocorreu no dia 17 de março. A partir daí, com o avanço da doença, o país promoveu o distanciamento social como forma de combater a pandemia.
As medidas restritivas causaram efeitos econômicos e intensificaram o aumento do desemprego no Brasil, que chegou a 12,9% no trimestre encerrado em maio, e contribuiu para que 7,8 milhões de posto de trabalho fossem perdidos. A população ocupada teve uma queda recorde de 8,3% na comparação com o trimestre anterior.
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