Em meio à severa crise do coronavírus, que paralisou a aviação global, a Airbus desenvolveu uma solução para permitir que aviões de passageiros, hoje em solo, tenham a cabine adaptada para transportar cargas como suprimentos médicos, cuja demanda está aquecida devido à pandemia.
A fabricante anunciou a medida nesta quinta-feira (30), um dia após divulgar um prejuízo líquido de US$ 515 milhões (R$ 2,8 bilhões), além de cortes de empregos e na produção de aviões. O presidente-executivo da Airbus, Guillaume Faury, classificou o atual momento como "a maior crise do mercado de aviação da história".
Com a modificação, aeronaves das famílias A330, A340 e A350 —que transportam de 210 a 410 passageiros— poderão ter os assentos de classe econômica retirados para a instalação de pallets de carga que se prendem ao chão da cabine com correias.
Atualmente, quase 2.000 aviões desses modelos integram frotas de companhias em todo o mundo. No Brasil, a Azul conta com dez aeronaves A330. Já a Latam possui oito A350.
De acordo com dados divulgados nesta semana pela Iata (Associação Internacional de Transportes Aéreos), o volume de medicamentos transportados por via aérea dobrou em relação ao início de janeiro.
Companhias como Lufthansa, Air Canada, Air New Zealand, entre outras, já vinham adaptando alguns de seus aviões de passageiros para transportar equipamentos médicos como máscaras e respiradores, itens de primeira necessidade no combate ao novo coronavírus.
Outras empresas transportavam cargas na cabine usando apenas os compartimentos de bagagem ou posicionando pacotes nas próprias poltronas. Esse cenário, porém, oferece menos capacidade de carga e efeitos colaterais indesejáveis, como possíveis estragos nos assentos.
A instalação dos pallets, cada um podendo transportar até 260 quilos de carga, permitirá um ganho de capacidade de 7,3 toneladas em um A330, por exemplo, atingindo um total de 52,5 toneladas ao se combinar a carga na cabine, nos compartimentos superiores e no porão da aeronave.
"Oferecemos total flexibilidade para o operador remover todos os assentos ou parte deles, mas de acordo com a regulação vigente não é possível fazer um transporte de passageiros e de carga na cabine. Então deve-se optar por uma operação completa de carga", afirmou à Folha o vice-presidente da Airbus para suporte de operações de voo, Yann Lardet.
Segundo Lardet, 20 companhias aéreas já estão em processo de obter a aprovação para iniciar as operações com os aviões convertidos.
A modificação permite uma solução unificada e certificada pela Easa (agência reguladora europeia), bem como a americana FAA e outras autoridades reguladoras.
O engenheiro-chefe dos programas A330 e A350 da Airbus, Matthias Ierovante, estima que são necessárias em média duas horas para a retirada de todos os assentos de classe econômica e a instalação dos pallets —um sistema simples, segundo ele, para que fosse viável a companhias dos mais variados países.
Além de flexível, a solução é consideravelmente mais barata em relação à aquisição de um avião cargueiro. Para efeito de comparação, um A330 em versão totalmente cargueira tem o preço de tabela de US$ 241 milhões (R$ 1,3 bilhão) —os valores costumam variar de acordo com o tamanho do pedido.
Lardet afirmou que a medida foi uma resposta às companhias, que viram sua receita afundar com a drástica redução de voos de passageiros pelo mundo e ao mesmo tempo sem ter condições de atender à demanda pelo transporte de carga, especialmente de equipamentos médicos.
Antes da pandemia, cerca de 50% do transporte de carga global era feito por aeronaves de passageiros, em voos regulares, no porão dos aviões.
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