“Tá acabando, tá acabando”, grita um homem na fila que se forma ao lado das bombas de combustível de um posto de gasolina próximo à UnB (Universidade de Brasília), em Brasília.
A cena seria comum ao 5º dia da greve dos caminhoneiros no país, não fosse um fato: ali, a fila não é de carros, mas de pedestres.
Em meio à escassez de combustível, o proprietário Rodolfo Moreira decidiu passar a vender o pouco que ainda restava no posto em galões e garrafas, de até no máximo 5 litros por pessoa.
“Estamos fazendo isso para ajudar a população, porque a maioria está sem combustível para chegar em casa”, diz. “Isso não é rotineiro, mas as pessoas não têm como voltar para casa.”
Desde quinta-feira (24), a maioria dos postos de Brasília está sem combustível.
A alegria de encontrar um posto aberto, porém, durou pouco. “Bem na minha vez. Que maravilha”, disse um homem ao ver que o combustível tinha acabado. Antes dele, o último a conseguir “abastecer” encheu uma garrafa de 2 litros –mas só pela metade.
Para Juliana Santos, a medida de vender o combustível em galões foi "solidária". "Mas seria melhor se estipulassem um valor de cada um, porque comprar o galão e ter que tirar depois dá mais trabalho. Mas pelo menos vou voltar para casa”, diz.
FILA SEM FIM
Os poucos postos com combustível na cidade continuaram com fila nesta sexta-feira (25). E põe fila nisso. No posto Jarjour, na Asa Sul, a fila ia da quadra 210 até a altura da quadra 202 –cerca de 5 km ao todo.
Ainda assim, a maioria das bombas já tinha o aviso: “Com greve de caminhoneiros: sem gasolina e sem álcool”.
Na fila desde 7h50 da manhã, o servidor público Rui Marques, 32, conseguiu chegar perto das bombas só às 13h40, após quase seis horas de espera.
“Cheguei no limite da reserva [de combustível] do carro. Nem fui trabalhar hoje para poder ficar na fila”, conta.
Já o farmacêutico Guilherme Gabriel, 31, também na fila, fazia as contas para ver se conseguiria chegar a tempo de abastecer. À sua frente, havia ainda cerca de 20 carros –e olha que era um dos primeiros. Enquanto isso, funcionários avisavam que a gasolina já estava quase no fim.
“Estou desde 8h aqui. E ainda tem risco de não chegar a tempo”, diz. “Entendo o direito de greve como legítimo, mas o governo pressionado como está, em época de eleição, pode tomar uma medida pior para as gerações futuras”, afirma, referindo-se ao acordo feito pelo governo que prevê custos de R$ 5 bilhões para garantir que os preços do diesel sejam mensais e não diários até o fim do ano.
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