Ind�stria da moda aposta na uni�o de artes�os e estilistas de olho no futuro
O Brasil ampliou as possibilidades da economia criativa na produ��o de moda por meio da colabora��o. Colabora��o entre grifes e associa��es de artes�os, entre organismos governamentais e cooperativas do agroneg�cio, entre comunidades e estilistas, entre empresas consolidadas e start-ups.
"Essas conex�es s�o uma alternativa ao pensamento colonizado, no qual marcas copiam modelos da 'gringa', uniformizando processos. Ainda h� esse pensamento em grandes empresas, mas tamb�m h� vontade de inovar. � esta a hora de investir em novos conceitos", diz o consultor Andr� Carvalhal.
Em parceria com a grife Reserva, do empres�rio Rony Meisler, ele criou a Ahlma, linha cujas pe�as s�o desenvolvidas a muitas m�os, em colabora��o com criadores selecionados na internet. Tudo ecologicamente correto, do produto � decora��o da loja, no Leblon, zona sul do Rio.
"H� um movimento de pequenas marcas independentes que j� nascem dentro de uma l�gica sustent�vel. Hoje, a procura por produtos vinculados a essa ideologia � muito maior do que disponibilidade de pe�as no mercado", afirma ele.
Em outro projeto do carioca Carvalhal, o espa�o de coworking Malha, tamb�m no Rio, profissionais de diversas marcas, em vez de competir, criam lado a lado e trocam experi�ncias, organizados em cont�ineres.
Por meio de uma iniciativa do Instituto C&A, dez dessas marcas recebem mentoria para um projeto de incuba��o que, depois, entrar� nas araras da rede varejista.
O instituto, bra�o social da C&A, tamb�m apoiar� projeto da empres�ria Francisca Vieira, dona da grife Natural Cotton Color na Para�ba, ber�o do algod�o colorido.
A ideia � estruturar a expans�o da �rea de plantio do algod�o, feito por pequenos agricultores de assentamentos. No Margarida Alves, o mais desenvolvido das dezenas do semi�rido paraibano, a colheita neste ano deve render mais de dez toneladas de pluma. Comprado a R$ 14 o quilo, o algod�o garante o sustento das fam�lias e de marcas como a de Vieira.
A Natural Cotton Color afirma que est� conquistando o mercado internacional. Na feira francesa Maison d'Execptions, em fevereiro, representantes do grupo de marcas de luxo LVMH e das grifes Prada e Chanel passaram no estande da marca para avaliar a compra de tipologias de tecidos org�nicos produzidos pela empres�ria.
Vieira, uma das dez mulheres do programa Woman and Trade, da ONU, j� levou as rendas de Monteiro, no interior do Estado da Para�ba, para lojas do Jap�o, onde uma jaqueta feita pelas rendeiras � vendida a US$ 4.000 (cerca de R$ 12 mil).
"Os artes�os foram explorados pela moda durante muitos anos. Mas a ind�stria est� t�o cansada do que � produzido hoje que o trabalho artesanal passa a ser muito valorizado. S� para a produ��o das rendas, artes�s chegaram a ganhar R$ 500 por m�s cada uma. At� pouco tempo, isso seria imposs�vel", afirma a empres�ria.
Ao lado de estilistas como Raquell Guimar�es, da Dois�lles -cujo tric� do tipo exporta��o � feito por detentos de pres�dios em Minas Gerais-, Flavia Aranha e Juliana Gevaerd, Vieira agora funda as bases da primeira Associa��o Brasileira de Moda Sustent�vel, ligada � Abit (Associa��o Brasileira da Ind�stria T�xtil e de Confec��o).
A espinha dorsal da economia criativa no caso da moda brasileira � o trabalho feminino. Costureiras, artes�s, rendeiras: n�o existiria nenhum modelo consistente de produ��o sem essa m�o de obra especializada.
"A m�o de obra deveria estar sempre em primeiro plano na cria��o de moda. Precisamos mostrar aos artes�os que seu trabalho tem valor n�o apenas em seu local de origem mas tamb�m fora dele. E que o mercado mundial compra e admira as individualidades de um povo. Esse � o maior ativo da economia criativa", diz Renato Imbroisi, um dos primeiros designers a entender o potencial da economia criativa e do trabalho da mulher nesse setor.
H� 32 anos ele resgata cadeias locais de artesanato em comunidades do Brasil profundo, em parceria com governos estaduais e o Sebrae, que, nos anos 1990, estabeleceu modelos para mostrar os meandros da costura brasileira -"quando o termo economia criativa nem existia", lembra Imbroisi.
Em uma iniciativa mais recente, mulheres da ONG Cardume de M�es, de Tabo�o da Serra, na Grande S�o Paulo, deram forma ao projeto Trama Afetiva, idealizado pelo consultor Jackson Ara�jo e apoiado pela Funda��o Hermann Hering.
As costureiras de Tabo�o confeccionaram de mochilas a roupas desenvolvidas por designers selecionados em um concurso, com curadoria do estilista Alexandre Herchcovitch e do arquiteto Marcelo Rosenbaum.
MANTRAS DA EVOLU��O
Cooperativismo, abertura dos custos de produ��o aos que participam do processo de confec��o e "upcycling" (transforma��o do lixo t�xtil em produtos de maior valor) s�o os mantras da evolu��o da economia criativa. "O futuro da moda � o de grandes ind�strias aprendendo com pequenos, e n�o a canibaliza��o do sistema que ainda existe", diz Ara�jo.
Transformar o sistema tem a ver com a intera��o entre marcas e o entorno onde est�o instaladas. Foi o que percebeu Alexandra Fructoso, dona da Maison Alexandrine. Algumas das pe�as da cole��o do pernambucano Dinho Batista, expostas no casar�o do Jardim Europa, em S�o Paulo, s�o confeccionadas por mulheres com mais de 60 anos da sinagoga que a empres�ria frequenta.
"Tentei fechar uma parceria com comunidades do Nordeste, que t�m expertise no tipo de tress� usado na cole��o, mas a log�stica seria complicada. Vi que n�o precisaria ir longe, porque em qualquer lugar existem pessoas dispostas a aprender um of�cio. N�o � assistencialismo, � intelig�ncia de mercado", diz Fructoso.
Na primeira cole��o de Batista, que estreou neste ano na S�o Paulo Fashion Week, a base das pe�as foi o tress� de cetim e gorgor�o confeccionado manualmente. O material chamou a aten��o da empresa de decora��o Artefacto, que lan�ou uma linha de almofadas com o material criado pelo estilista e confeccionado pelas mulheres da comunidade judaica.
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 06/08/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | -0,46% | 125.270 | (18h30) |
Dolar Com. | -1,19% | R$ 5,6710 | (09h47) |
Euro | 0,00% | R$ 6,3163 | (09h31) |