Esquema em frigor�ficos abastecia PP e PMDB, diz Pol�cia Federal
Bruno Santos/Folhapress | ||
Preso n�o identificado na Opera��o Carne Fraca chega escoltado por agentes na sede da PF em SP |
As propinas pagas a fiscais do Minist�rio da Agricultura para afrouxar a fiscaliza��o em frigor�ficos abasteceram o PMDB e o PP, segundo a Pol�cia Federal, que deflagrou a Opera��o "Carne Fraca" nesta sexta (17).
"Uma parte dos valores era revertida para esses partidos", disse o delegado Maur�cio Moscardi Grillo.
A PF n�o sabe, por�m, os motivos que levaram os fiscais a repartir parte dos valores que recebiam –se por indica��es pol�ticas ou outras raz�es. Tamb�m n�o foram identificados quem eram os pol�ticos beneficiados.
Um dos citados na investiga��o foi o atual ministro da Justi�a, Osmar Serraglio (PMDB-PR), que na �poca era deputado federal. Ele aparece em grampo interceptado pela opera��o conversando com o suposto l�der do esquema criminoso, chamando-o de "grande chefe". A PF, por�m, n�o encontrou ind�cios de ilegalidade na conduta do ministro, que n�o � investigado.
Nas intercepta��es telef�nicas, tamb�m foram citados outros parlamentares do PMDB do Paran� -como o deputado federal S�rgio Souza (PMDB-PR), que integra a Frente Parlamentar Agropecu�ria; o deputado Jo�o Arruda (PMDB-PR), cujo assessor foi interceptado chamando um fiscal rigoroso de "capeta"; e o deputado estadual Stephanes Junior (PMDB-PR), filho do ex-ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, cujo assessor tamb�m mant�m conversas com um dos fiscais investigados.
S�rgio Souza, em especial, demonstrou ter "influ�ncia pol�tica", segundo o juiz Marcos Josegrei da Silva, para manter o l�der do esquema, o fiscal Daniel Gon�alves Filho, como superintendente do Minist�rio da Agricultura no Paran�. O investigado recorre a um de seus assessores, Ronaldo Trolha, para tentar se manter no cargo, depois que � afastado por um processo administrativo.
Um antigo fiscal agropecu�rio tamb�m menciona, em outra liga��o, que Souza "recebeu muito dinheiro do suspenso a�", em refer�ncia a Gon�alves Filho.
O juiz, por�m, entendeu que "n�o h� nada de irregular ou ilegal" nem ind�cios de ilicitudes nos fatos, e que h� muita "especula��o" em torno do papel dos parlamentares -que n�o foram investigados. O deputado nega irregularidades e diz que o assessor mencionado pela PF j� n�o trabalha em seu gabinete.
O chefe da inspe��o do Minist�rio da Agricultura em Goi�s, Dinis Louren�o da Silva, tamb�m � um dos que pede dinheiro para campanhas pol�ticas de seus "padrinhos", segundo conversas de executivos da BRF. Um dos pedidos � de R$ 300 mil -o frigor�fico se recusa a pagar.
Segundo os executivos, Silva � mantido no cargo pela bancada do PDT, mas n�o h� men��o a nomes.
O fiscal � o principal respons�vel pela libera��o da planta da BRF em Mineiros (GO), cujas carnes foram barradas com sinais de salmonella na It�lia.
MODUS OPERANDI
Os fiscais recebiam os valores, muitas vezes, dentro de isopores, por transfer�ncias banc�rias em nome de terceiros ou at� como picanhas e outras carnes nobres.
A reportagem entrou em contato com os partidos, mas n�o obteve resposta.
Alguns dos principais frigor�ficos do pa�s est�o na mira da Opera��o Carne Fraca, da Pol�cia Federal, como BRF, dona das marcas Sadia e Perdig�o, e JBS, dona das marcas Seara e Big Frango. No total, cerca de 30 empresas est�o na mira da opera��o, incluindo fornecedoras dos grandes frigor�ficos.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
A Justi�a Federal do Paran� determinou o bloqueio de R$ 1 bilh�o das investigadas.
O objetivo da opera��o � desarticular uma suposta organiza��o criminosa liderada por fiscais agropecu�rios do Minist�rio da Agricultura, que, com o pagamento de propina, facilitavam a produ��o de produtos adulterados, emitindo certificados sanit�rios sem fiscaliza��o.
A investiga��o revelou at� mesmo o uso de carnes podres, maquiadas com �cido asc�rbico, por alguns frigor�ficos, e a re-embalagem de produtos vencidos.
MAIOR OPERA��O
Segundo a PF, essa � a maior opera��o j� realizada na hist�ria da institui��o. Foram mobilizados 1.100 policiais em seis Estados (Paran�, S�o Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goi�s) e no Distrito Federal.
Em nota, a Pol�cia Federal afirma que detectou em quase dois anos de investiga��o que as superintend�ncias regionais do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento dos Estados do Paran�, Minas Gerais e Goi�s atuavam para proteger empresas, prejudicado o interesse p�blico.
O esquema, ainda segundo os investigadores, funcionava por meio de agentes p�blicos que se utilizavam do poder de fiscaliza��o para cobrar propina e, em contrapartida, facilitar a produ��o de alimentos adulterados, emitindo certificados sanit�rios sem qualquer fiscaliza��o.
Dentre as ilegalidades praticadas pela suposta quadrilha est� a remo��o de agentes p�blicos com desvio de finalidade para atender interesses dos grupos empresariais.
O nome "Carne Fraca" da opera��o faz alus�o � conhecida express�o popular em sintonia com a pr�pria qualidade dos alimentos fornecidos ao consumidor por grandes grupos corporativos do ramo aliment�cio.
A express�o popular tamb�m mostra "a fragilidade moral de agentes p�blicos federais que deveriam zelar e fiscalizar a qualidade dos alimentos fornecidos a sociedade".
OUTRO LADO
A JBS, por meio de sua assessoria, afirma em nota que a empresa "e suas subsidi�rias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulat�rias em rela��o � produ��o e a comercializa��o de alimentos no pa�s e no exterior e apoia as a��es que visam punir o descumprimento de tais normas".
"A Companhia repudia veementemente qualquer ado��o de pr�ticas relacionadas � adultera��o de produtos –seja na produ��o e/ou comercializa��o– e se mant�m � disposi��o das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos", diz a nota.
A BRF diz, por meio de comunicado, que est� colaborando com as autoridades. Ela afirma n�o compactuar com pr�ticas il�citas e que seus produtos e a comercializa��o deles seguem "rigorosos processos e controles"
"A BRF assegura a qualidade e a seguran�a de seus produtos e garante que n�o h� nenhum risco para seus consumidores", afirma a empresa.
Em nota, o ministro da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento, Blairo Maggi, afirma que determinou o afastamento imediato de todos os envolvidos e a instaura��o de procedimentos administrativos. "Todo apoio ser� dado � PF nas apura��es. Minha determina��o � toler�ncia zero com atos irregulares no MAPA", diz.
Ele afirma que suspendeu uma licen�a de dez dias que tiraria da pasta diante da deflagra��o da opera��o e que, neste momento, "toda a aten��o � necess�ria para separarmos o joio do trigo". "Muitas a��es j� foram implementadas para corrigir distor��es e combater a corrup��o e os desvios de conduta e novas medidas ser�o tomadas".
A Associa��o Brasileira de Prote�na Animal (ABPA) afirmou que todos os produtos exportados pelo pa�s s�o fiscalizados por t�cnicos nacionais e estrangeiros. "O Brasil � reconhecido internacionalmente pela qualidade e status sanit�rio de seus produtos, que s�o auditados n�o apenas pelos �rg�os brasileiros como tamb�m por t�cnicos sanit�rios dos mais de 160 pa�ses para os quais exporta", diz em nota.
A entidade ainda afirma que eventuais falhas s�o exce��es. "S�o quest�es pontuais, que n�o refletem todo o trabalho desenvolvido pelas empresas brasileiras durante d�cadas de pesquisas e investimentos, para ofertar produtos de alta qualidade."
O grupo Argus tamb�m divulgou comunicado em que nega irregularidades, diz obedecer "rigorosamente" as observa��es sanit�rias e de qualidade do Minist�rio da Agricultura e que se solidariza com a a��o da PF, "entendendo que a mesma (opera��o) trar� benef�cios significativos ao setor, atrav�s de uma competitividade justa e adequada entre seus players".
O frigor�fico Souza Ramos, do grupo Central de Carnes Paranaense Ltda, diz que "colaborou no que foi poss�vel" e que vai continuar colaborando com a Pol�cia Federal. A empresa afirma seguir as exig�ncias de qualidade.
Por meio de nota, o grupo disse ainda ser importante "que se desvincule a ideia de que todas as empresas investigadas pela pol�cia, de fato adulterem e/ou burlem a lei, e sim fazem parte da investiga��o pois necessitam dos servi�os do MAPA".
A Princ�pio Alimentos Ltda disse que foi chamada pela Pol�cia Federal como testemunha e que n�o tinha mais anda a declarar. A Sub Royal Comercio De Alimentos tamb�m disse que n�o vai se manifestar.
A reportagem entrou em contato e aguarda resposta das empresas Medeiros, Emerick & Advogados Associados, o frigor�fico Rainha da Paz, Unifrango Agroindustrial S/A, Frigomax - Frigorifico E Comercio De Carnes Ltda, Bio-Tee Sul Am. Industria De Produtos Qu�micos E Op. Ltda e Primor Beef Jjz Alimentos S.A,
Peccin, Dagranja Industrial, Sidnei Donizeti Bottazzari ME, Fortesolo Servicos Integrados Ltda, Fratelli E.H. Constantino, Pavin Fertil Industria E Transporte Ltda, Primocal ind. E com. De fertilizantes ltda, Frigor�fico 3D e Frango a Gosto, Santa Ana Comercio De Alimentos LTDA, Dalchem Gest�o Empresarial LTDA, F�nix Fertilizantes LTDA, Multicarnes Representacoes Comerciais Ltda, Doggato Cl�nica Veterin�ria LTDA, Mc Artacho Cia Ltda, Smartmeal Comercio de Alimentos LTDA e Unidos Com�rcio De Alimentos Ltda n�o foram localizados.
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EMPRESAS INVESTIGADAS
1. Santa Ana Comercio De Alimentos LTDA
2. Dalchem Gest�o Empresarial LTDA
3. F�nix Fertilizantes LTDA,
4. Multicarnes Representacoes Comerciais Ltda
5. Unifrango Agroindustrial S/A, Mc Artacho Cia Ltda
6. Frigomax - Frigorifico E Comercio De Carnes Ltda
7. Smartmeal Comercio de Alimentos LTDA
8. Sub Royal Comercio De Alimentos
9. Unidos Com�rcio De Alimentos Ltda
10. Bio-Tee Sul Am. Ind. De Prod. Qu�m. E Op. Ltda, Primor Beef
11. Jjz Alimentos S.A
12. Peccin Agro Industrial Ltda
13. Uru Pfp-produtos Frigorificados Peccin Ltda
14. Frigor�fico Souza Ramos LTDA
15. Big Frango Ind�stria E Com. De Alimentos Ltda
16. Principio-Alimentos Ltda Me
17. Frigor�fico Rainha da Paz
18. Frango a Gosto
19. Frigor�fico 3D
20. Jaguafrangos Industria E Com. De Alimentos Ltda
21. Pavin Fertil Industria E Transporte Ltda
22. Primocal ind. E com. De fertilizantes ltda
23. Fortesolo Servicos Integrados Ltda
24. Fratelli E.H. Constantino
25. Sidnei Donizeti Bottazzari ME
26. Medeiros, Emerick & Advogados Associados
27. Seara Alimentos LTDA
28. Dagranja Agroindustrial LTDA
29. Frigor�fico Argus LTDA
30. BRF - BRASIL FOODS
31. JBS S/A
32. Doggato Cl�nica Veterin�ria LTDA ME
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PRIS�ES PREVENTIVAS DECRETADAS
- 13 fiscais agropecu�rios, incluindo Daniel Gon�alves Filho, apontado como l�der do esquema, al�m de um ex-assessor parlamentar
- Gil Bueno de Magalh�es, superintendente do Minist�rio da Agricultura no Paran�
- Fabio Zanon Sim�o, assessor parlamentar do Minist�rio da Agricultura
- Roney Nogueira Dos Santos, gerente de Rela��es Institucionais da BRF; Andr� Luis Baldissera, diretor da BRF para o Centro-Oeste
- Flavio Evers Cassou, funcion�rio da Seara
- Idair Antonio Piccin, Nair Klein Piccin e Norm�lio Peccin Filho, s�cios do Peccin; Jos� Eduardo Nogalli Giannetti, funcion�rio do frigor�fico
- Nilson Alves Ribeiro, s�cio do Frigobeto Frigor�ficos, e seu pai e s�cio, Nilson Alves Ribeiro
- Paulo Rog�rio Sposito - dono do frigor�fico Larissa
PRIS�ES TEMPOR�RIAS DECRETADAS
- Alice Mitico Nojiri Gon�alves, mulher do fiscal apontado como l�der do esquema, e Rafael Nojiri Gon�alves, filho do casal
- 6 fiscais agropecu�rios, um funcion�rio da Codapar (Companhia de Desenvolvimento Agropecu�rio do Paran�) e um funcion�rio do Minist�rio da Agricultura em Londrina
- A s�cia de um frigor�fico n�o identificado
RAIO-X DAS EMPRESAS
JBS
Receita l�quida (2016)
R$170,3 bilh�es
Lucro l�quido (2016)
R$ 626,4 milh�es
Principais marcas
Seara, Swift, Friboi, Doriana
BRF
Receita l�quida (2016)
R$ 33,7 bilh�es
Preju�zo l�quido (2016)
R$ 372,4 milh�es
Principais marcas
Sadia, Perdig�o, Qualy
Livraria da Folha
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Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
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Atualizado em 16/07/2024 | Fonte: CMA | ||
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