A antropóloga Debora Diniz, professora da UnB (Universidade de Brasília) e atualmente pesquisadora visitante da Universidade Brown, em Rhode Island, nos Estados Unidos, é a convidada desta semana do Ilustríssima Conversa.
Diniz, uma das mais premiadas pesquisadoras brasileiras nas áreas de gênero e direitos reprodutivos, defende que o aborto deve ser tratado como um problema de saúde pública.
Em sua avaliação, uma das tarefas do feminismo é transformar as perguntas que cercam esse tema: em vez de questionar quando a vida humana começa, ela diz, é preciso, em uma democracia laica, se perguntar por que mulheres podem ser presas por abortar.
Depois de defender a descriminalização do aborto em uma audiência pública no Supremo Tribunal Federal, em 2018, Diniz passou a receber ameaças de morte e teve que deixar o Brasil.
Neste episódio, a antropóloga diz que o aborto desperta a fúria em uma sociedade patriarcal porque controlar a reprodução das mulheres permite controlar a reprodução social como um todo e aponta que é preciso desafiar o vocabulário político que separa pautas identitárias –gênero, raça e sexualidade, por exemplo– de lutas por justiça social.
Diniz acaba de lançar "Esperança Feminista" (Record), escrito em coautoria com Ivone Gebara, doutora em filosofia e em ciências religiosas, freira, feminista e defensora do direito ao aborto. Na obra, as autoras apresentam 12 verbos que, para elas, revelam caminhos para uma política feminista.
Quem é que inventou que discutir pobreza é uma contraposição a discutir gênero e raça? As questões de justiça sempre foram –e sempre serão– desde o corpo que é vivido e que experimenta as desigualdades. Quem fez essa separação, que atravessa diferentes espectros do pensamento, foi o próprio patriarcado, o próprio racismo, separando "as políticas que são fragmentadoras", as de raça e as de gênero, das "políticas que são agregadoras", as lutas por igualdade
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O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.
Já participaram do Ilustríssima Conversa Deivison Faustino, que desenvolve pesquisas sobre a obra de Frantz Fanon, Fernando Morais, biógrafo de Lula, Sergio Miceli, sociólogo que tratou de Drummond e do modernismo, Daniela Arbex, jornalista que investigou a tragédia de Brumadinho, Tatiana Roque, pesquisadora que discute as relações entre mudanças climáticas e política, Margareth Dalcolmo, que falou sobre a variante ômicron e a perspectiva de tratamento precoce real da Covid-19, Marcelo Semer, autor de livro sobre o Judiciário e a política no Brasil, Eliane Brum, que alertou sobre a necessidade de preservar a Amazônia no contexto atual de crise climática, Renan Quinalha, para quem a LGBTfobia de Bolsonaro atualiza moralismo da ditadura "hétero-militar", Simone Duarte, que defendeu que o 11 de Setembro nunca terminou no Afeganistão, Natalia Viana, que discutiu a politização das Forças Armadas, Camila Rocha, pesquisadora da nova direita brasileira, entre outros convidados.
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