Trump, os nerds do 4chan e a nova direita dos Estados Unidos
RESUMO Autor explica como o 4chan, um site de nerds, tornou-se a vanguarda da extrema direita nos EUA. Argumenta que jovens desempregados e sem namoradas votam em Trump porque ele encarna a ideologia da desesperan�a e que a esquerda deve enxerg�-los como sintoma de um problema maior, que s� ela pode resolver.
Dale Beran | ||
Por volta de 2005, um link estranho come�ou a aparecer nos relat�rios de origem de audi�ncia de minha antiga webcomic.
Eu n�o entendia aquele site. Era um f�rum de discuss�o, mas tinha um sistema de navega��o obscuro. De modo contraintuitivo, era preciso clicar em "responder" para ler um t�pico. Al�m disso, o conte�do era uma bizarrice sem sentido.
Caso voc� n�o tenha adivinhado, o site era o 4chan.org. Era um subproduto de um f�rum de discuss�o que eu j� conhecia, o Something Awful, uma comunidade on-line com, � �poca, algumas centenas de nerds que gostavam de hist�rias em quadrinhos, videogames e, bem, coisas de nerd.
Diferentemente de f�runs semelhantes, o Something Awful pendia para piadas pesadas. Eu tinha uma conta no site, que usava de vez em quando para escrever sobre meus quadrinhos.
O 4chan tinha sido criado por Christopher Poole, um usu�rio de 15 anos do Something Awful.
Hoje em dia, o 4chan est� no notici�rio quase semanalmente.
No in�cio de fevereiro, houve protestos em Berkeley (Calif�rnia) contra palestra do apoiador mais destacado do 4chan, Milo Yiannopoulos [tido como porta-voz do movimento alt-right, direita alternativa].
Uma semana antes, o neonazista Richard Spencer estava prestes a explicar o significado de seu broche do Pepe the Frog (o sapo Pepe), inspirado no 4chan, quando um manifestante antifascista deu um soco na sua cara.
Em dezembro, o 4chan decidiu travar guerra contra oficinas de "fa�a voc� mesmo" [como FabLabs e TechShops] e contra os "liberal safe spaces" [espa�os em que os frequentadores pro�bem express�es discriminat�rias].
Como foi que chegamos a isso? O que exatamente � o 4chan? E como um site sobre animes se tornou a vanguarda da extrema direita, envolvida com movimentos fascistas, intrigas internacionais e a iconografia de Donald Trump? Como interpretar tudo isso?
No in�cio, o 4chan se reunia uma vez por ano em apenas um lugar: na Otakon, conven��o de f�s de animes em Baltimore, perto de Washington. Como jovem nerd na Baltimore dos anos 1990, trombei com a Otakon mais ou menos do mesmo jeito que, mais tarde, trombaria com o 4chan: no come�o.
Tendo testemunhado o crescimento do 4chan, que passou de um grupo de adolescentes que caberia em uma sala a uma coaliz�o mundial de extremistas de direita, sinto-me na obriga��o de dar alguma explica��o sobre o fen�meno.
O ANON
A princ�pio, n�o prestei muita aten��o no 4chan. Mas, por volta de 2008, quis fazer uma reportagem sobre o site. Sua base de usu�rios tinha aumentado muito, e era �bvio que logo se tornaria amplamente conhecido (para consterna��o de seus milh�es de usu�rios, que faziam de tudo para mant�-lo secreto).
O segredo do sucesso do 4chan (e o elemento que o distinguia de seu progenitor, o Something Awful) era o formato do f�rum de discuss�o japon�s que Poole adaptara para uso em ingl�s.
As pessoas se divertiam demais, as discuss�es se tornavam ef�meras, cresciam loucamente em segundos e desapareciam minutos mais tarde, empurradas para o esquecimento por novos t�picos, e assim por diante, sem parar, 24 horas por dia, sete dias por semana.
O que mais agradava era n�o precisar criar uma conta. O programa exibia um nome padr�o para os autores de postagens que n�o criavam uma conta –ou seja, todos.
Em milh�es e milh�es de postagens, o nome do autor era simplesmente "Anonymous" (an�nimo). Os usu�rios come�aram a chamar uns aos outros de Anonymous: "Oi, � o Anon falando aqui".
E assim o Anonymous nasceu.
O 4chan com frequ�ncia � apresentado como respons�vel por alguns dos primeiros memes mais populares, como o "rickrolling" [pegadinha na qual a pessoa acha que, clicando num link, vai ver algo de seu interesse, mas acaba assistindo ao clipe de "Never Gonna Give You Up", de Rick Astley].
Dizer isso, por�m, � dizer pouco. O 4chan inventou o meme tal como o usamos hoje.
Termos como "win" (vit�ria), "epic" (�pico, incr�vel) e "fail" (deu errado) foram criados ou popularizados ali. O pr�prio m�todo de intercalar gifs e imagens com di�logos em aplicativos de mensagens � muito 4chaniano.
Em outras palavras, o site marcou profundamente nossos comportamentos e nossas intera��es.
Em 2008, escrevi ao jovem fundador do 4chan para pedir uma entrevista. Ele n�o respondeu.
Ent�o vi que o 4chan ia se reunir n�o em Baltimore, mas a poucas quadras de meu apartamento em Nova York –na verdade, em muitas cidades mundo afora. Seus membros planejavam manifesta��es contra a Igreja da Cientologia.
O que levou esse grupo de nerds fanfarr�es que se reuniam numa conven��o sobre animes a protestar contra a cientologia � uma pergunta interessante.
VALORES
Para responder a ela, precisamos nos debru�ar um pouco mais sobre o sistema de valores do 4chan.
Para quem conhece o site, mesmo que de passagem, soa estranho dizer que tenha um sistema de valores. E, de fato, o site fez de tudo para ser niilista, para odiar, para negar, para dar de ombros e tratar tudo como brincadeira, como costumam fazer os adolescentes. � claro que isso era imposs�vel.
A busca pela aleatoriedade, como um teste de Rorschach, pintou um retrato exato de quem eles eram, sendo os espa�os em branco preenchidos por sua identidade, seus interesses, seus gostos.
O resultado era que o 4chan tinha uma cultura t�o complexa quanto a de qualquer sociedade feita de milh�es de pessoas, an�nimas ou n�o. Havia coisas que a comunidade amava, coisas que odiava, maneiras de ser e de agir que ganhavam a aprova��o ou a desaprova��o do grupo.
O site codificou seu sistema de valores em uma s�rie de regras. Como tudo o que ele fazia, as regras foram constru�das uma a uma a partir de elementos da cultura pop. A regra n� 1 nasceu da regra n� 1 do "Clube da Luta" [filme de 1999 dirigido por David Fincher]: "N�o falar sobre o 4chan".
Todas as regras tinham um qu� de "O Senhor das Moscas" [livro de William Golding, de 1954], ou seja, era muito evidente que tinham sido criadas por uma sociedade an�rquica e agressiva de adolescentes –ou, pelo menos, homens com mentes de garotos–, meninos-homens particularmente solit�rios, sem vida sexual, que, de acordo com suas pr�prias piadas, moravam no por�o da casa de seus pais (Christopher Poole viveu no por�o da casa dos pais at� bem depois de o site fazer sucesso).
Eles eram obcecados pela cultura japonesa e, naturalmente, j� existia no Jap�o um termo para descrever pessoas como eles, "hikikomori", que significa "atra�do para seu interior, ou ser confinado" –adolescentes ou adultos que se retiravam da sociedade para viver em mundos de fantasia feitos de animes, videogames e, hoje, internet.
Vale observar aqui os temas de "Clube da Luta", filme sobre homens que recobram sua virilidade por meio de atos extremos depois de terem sido aviltados pela cultura corporativa moderna.
Tamb�m como adolescentes, os usu�rios do 4chan eram profundamente sens�veis e se protegiam. Disfar�avam sua pr�pria sensibilidade (ou seja, o medo de ficarem sozinhos para sempre) atr�s de uma insensibilidade extrema.
As regras, como tudo no site, sempre eram, em parte, brincadeira. Tudo tinha que ser feito com pelo menos um pouco de ironia.
Era uma via de fuga, uma maneira de nunca ser obrigado a admitir para os pares que se estava de fato exprimindo algo de cora��o –em outras palavras, um meio de ocultar a pr�pria vulnerabilidade.
N�o importa o que o usu�rio dissesse ou fizesse, sempre poderia acrescentar que tinha sido de zoeira, "for the lulz" [variante plural de lol, que indica risadas, como kkk].
O padr�o aceito era um tipo de bandeira de livre express�o libert�ria, em que meninos-homens isolados afirmavam seu direito de fazer ou dizer o que quer que fosse, desprezando sentimentos alheios.
Isso, de modo geral, significava postar pornografia, su�sticas, xingamentos raciais e conte�dos que se revelavam perniciosos para outras pessoas.
Antes de sua birra com a cientologia, o 4chan reunira seus membros para promover o que chamavam de "raid" [ataque surpresa]. Os membros do site inundavam salas de bate-papo ou redes on-line por nenhum motivo espec�fico, a n�o ser zoar durante seu tempo livre quase ilimitado ("for the lulz").
Nos ataques, eles seguiam a regra n� 1 e ocultavam a exist�ncia do 4chan. O protesto contra a cientologia foi em boa medida um "raid". Eles criaram v�deos nos quais fingiam que Anonymous era uma organiza��o sigilosa e poderosa, semelhante � Hydra dos gibis da Marvel.
Como na �poca ningu�m sabia o que era o Anonymous, os rapazes do 4chan podiam fazer de conta que eram qualquer coisa.
CIENTOLOGIA
Isso significa que o protesto continha algo s�rio. A parte que n�o era brincadeira foi um experimento sobre o poder pol�tico. O que eles poderiam fazer usando seu contingente? Poderiam destruir a cientologia? Se n�o, qu�o longe poderiam ir?
A manh� do protesto foi um s�bado de frio brutal. Eu e um amigo pegamos o metr�, sonolentos, e andamos duas esta��es at� a Times Square. T�nhamos a vaga impress�o de que algu�m estava nos "trollando" (zoando).
Ent�o viramos a esquina da rua 46 e, para nosso espanto, centenas de pessoas gritavam diante do pr�dio da Igreja da Cientologia. An�nimas. Todas. Todas usavam m�scaras, a maioria m�scaras de Guy Fawkes, inspiradas na adapta��o para o cinema que as irm�s Wachowski fizeram de uma hist�ria em quadrinhos ["V de Vingan�a", de Alan Moore].
Para usar uma express�o dos quadrinhos, essa foi a "primeira apari��o" da m�scara na vida real.
Entrevistei um cientologista perplexo entre as colunas de seu templo. Sua express�o era de espanto e choque. "S�o terroristas", insistiu, sem fazer ideia de quem eram aqueles jovens –usu�rios de um f�rum de discuss�o.
Quando o protesto terminou, um nerd vestido de Neo, personagem do filme "Matrix" (1999), num longo casaco preto, gritou: "De volta aos por�es das casas de nossos pais". Todos gargalharam.
O que chamou minha aten��o foi que o 4chan n�o dava a m�nima para a cientologia. A disputa tinha a ver com o acesso do 4chan ao "lulz" (� zoeira) na internet.
A Igreja da Cientologia tinha retirado do ar um v�deo engra�ado em que Tom Cruise fazia um discurso longo sem p� nem cabe�a sobre a religi�o.
O 4chan achou que a remo��o prejudicou seu direito irrestrito de postar (e conservar) qualquer coisa na internet. Havia um elemento moral em seu protesto, mas era, na melhor das hip�teses, tangencial.
O 4chan apenas queria o direito de fazer o que bem entendesse. Sempre que grandes sistemas organizados –como empresas, governos ou a cientologia– atrapalhavam esse seu "direito", o site se opunha a eles.
O Anonymous atacou grandes empresas como PayPal e American Express n�o por serem grandes empresas, mas porque tinham congelado os bens de Julian Assange, um defensor da liberdade de distribuir informa��o na internet.
No final de 2011, o 4chan estava exposto. Depois disso, o grupo de certo modo se fragmentou; qualquer pessoa podia hastear a bandeira do Anonymous.
Hackers que se autodenominavam "anonymous" lutaram por agendas diferentes, algumas anticorporativas, outras verdadeiramente nobres, como ajudar a condenar os estupradores de Steubenville [caso de 2012 em que uma garota foi violentada e filmada por colegas de escola].
Mas hacking filantr�pico e anticorporativo n�o estava no cerne do que o 4chan fazia. O site come�ou e sempre girou em torno dos "lulz", de usar o computador para divers�o, para passar o tempo.
O 4chan ent�o se espalhou por uma rede de sites e canais de IRC [para bate-papo e troca de arquivos], um dos quais era o 4chan.org.
N�o havia uma pessoa que representasse o Anonymous. Mas o grupo ainda era unido por uma cultura comum, um conjunto de valores comuns; ainda era mal definido nas bordas, mas era s�lido em seu n�cleo. E o que era esse n�cleo duro que o definia? A mesma coisa que sempre tinha sido.
Ainda se tratava de um grupo de "hikikomori", composto principalmente de homens jovens recolhidos no mundo virtual. Era a� que se davam todas, ou quase todas, as suas intera��es, sociais ou n�o. O mundo real, acima do por�o da casa de suas m�es, era o lugar onde eles n�o davam certo –talvez um lugar que eles n�o entendiam.
Claro que essa descri��o n�o se aplicava a todos, mas � maioria. At� havia hackers que usavam seu conhecimento no mundo virtual para fazer a diferen�a no mundo real, mas o cerne da cultura n�o tinha mudado. Era uma cultura que celebrava o fracasso. E isso ficou muito claro com a grande miss�o que o 4chan come�ou em seguida.
GAMERGATE
� dif�cil recordar o que deslanchou o GamerGate sexista no universo dos gamers] porque, como boa parte do conte�do do 4chan, tratava-se de algo sem sentido � primeira vista. Ainda assim, houve um in�cio.
Em 2014, um rapaz rejeitado afirmou que tinha sido tra�do por sua ex-namorada. Em uma postagem de blog incoerente e constrangedora, tentou provar para a internet a suposta infidelidade. Por mero acaso, o alvo de seu texto, sua ex, era uma mulher desenvolvedora de videogames.
O 4chan e outros homens de mentalidade semelhante � dos 4chanianos, que se sentiam injusti�ados pelas mulheres, levaram adiante aquele grito de guerra.
N�o se sabe bem como, o esfor�o evoluiu de um interesse sinistro pela vida sexual de uma mulher em particular para uma cr�tica geral aos videogames.
Os gamergaters acreditavam que os "SJWs", ou "Social Justice Warriors" [guerreiros da justi�a social, termo pejorativo para os defensores do politicamente correto], estavam acrescentando elementos indesejados a seus videogames. A saber, elementos que promoviam a igualdade de g�neros.
Estranhamente, achavam que isso acontecia n�o porque os criadores de videogames e a imprensa especializada tivessem interesse em criar e resenhar jogos que tratassem desses temas, mas porque supostamente haveria uma conspira��o arquitetada por ativistas para modificar os videogames.
De novo, � preciso entender esse grupo como pessoas que fracassaram no mundo real e se refugiaram no mundo virtual. S�o homens sem emprego, sem perspectivas na vida e, por extens�o (como eles declamavam), sem namoradas.
O �nico lugar onde se sentem eficientes � o mundo seguro e perfeitamente cultivado dos games em que entram. Em consequ�ncia de seu fracasso, o conceito distante e abstrato de mulheres de carne e osso provoca neles sentimentos de humilha��o e rejei��o.
E, no �nico espa�o em que eles conseguiam fugir dessa realidade, no mundo dos videogames, as mulheres (na vis�o deles) queriam afirmar sua presen�a e seu poder.
Se parece dif�cil de acreditar, veja o exemplo de Milo Yiannopoulos, ex-"editor de Tecnologia" do Breitbart News, cuja palestra agendada em Berkeley desencadeou grandes protestos e tumulto.
Yiannopoulos ganhou destaque gra�as ao GamerGate. Ele n�o foi editor de "Tecnologia" por comparar as arquiteturas de chips de placas de v�deo concorrentes. O "tec", nesse caso, � c�digo para indicar que seu p�blico � composto de uma popula��o imensa de garotos pat�ticos que se recolheram nas comunidades na internet.
CONTRA AS MULHERES
A grande imprensa �s vezes o descreve como "troll" para captar sua liga��o vaga com o 4chan. Esse termo tamb�m � inexato. Yiannopoulos � 4chan em toda sua extens�o. Afinal, o que unia esses rapazes era seu fracasso e sua impot�ncia, (na vis�o deles) literalmente encarnados nas mulheres.
Os "argumentos" confusos de Yiannopoulos contra o feminismo nem s�o propriamente argumentos, e sim discursos para a torcida, um jeito de fazer esses homens "desempoderados" se sentirem "empoderados" pelo descarte do s�mbolo de seu fracasso: a mulher.
Como homossexual declarado, ele argumenta que os homens n�o precisam se interessar por mulheres; que eles podem e devem se afastar em massa do sexo feminino. Por exemplo, em um conjunto longo e incoerente de afirma��es sobre o feminismo, ele diz:
"A ascens�o do feminismo coincide fatalmente com a ascens�o dos videogames, da pornografia na internet e, em algum momento pr�ximo, dos rob�s sexuais. Com todas essas op��es, e diante dos perigos crescentes dos relacionamentos na vida real, os homens est�o simplesmente se afastando".
Dale Beran | ||
Yiannopoulos inverteu a ordem dos fatos para seu p�blico sentir-se bem. Os homens que se recolheram aos videogames e � pornografia digital agora podiam caracterizar sua fuga como uma escolha consciente, a rejei��o das mulheres em nome de algo mais.
Dito de outro modo, isso justificava um estilo de vida que antes, em seu �ntimo, eles sentiam como motivo de vergonha.
O GamerGate, enfim, era um "raid" que tinha import�ncia, que n�o era simples zoeira. Essa era uma quest�o (al�m do "deixe-me fazer o que eu quiser na internet") que fazia sentido para a maioria dos usu�rios do 4chan.
Os Anons iam tirar as SJWs (ou seja, as mulheres empoderadas) dos "safe spaces" deles –os videogames–, o lugar onde eles se refugiavam, mergulhando em fantasias nas quais eles assumiam o controle (ou seja, fantasias em que eles rebaixavam as mulheres).
Seus esfor�os fracassaram, n�o tanto por falta de tentativa (se bem que por isso tamb�m), mas porque a pr�pria campanha era fantasiosa.
O GamerGate foi marcado pela falta de contato com a realidade dos que travaram a campanha, que n�o interagiam muito com a vida real, apenas com o mundo virtual escapista dos videogames, f�runs de discuss�o e animes.
A campanha foi conduzida como o videogame que n�o era. Foram redigidas "listas de alvos", e seus inimigos (em sua maioria, mulheres que eles queriam assediar), rotulados de "warriors" (guerreiros).
Os usu�rios do 4chan fizeram de conta que uma enorme quantidade de cliques de mouse e a��es virtuais de alguma maneira se traduziria em recompensa concreta aparecendo em suas telas de computador, como acontece, digamos, no jogo "World of Warcraft".
Os "gamergaters" pensavam que seu trabalho on-line traria � tona uma conspira��o concreta, um conluio entre criadores de games para fomentar a agenda das "guerreiras da justi�a social".
O mundo real, por�m, n�o se comporta como um videogame. O mundo real tem tons de cinza. Ele decepciona. O que se faz e o que se recebe como recompensa se embaralham. � mais complicado que o espa�o seguro de um videogame, desenvolvido cuidadosamente para acomodar os jogadores e fazer com que se sintam –bem, o exato oposto de como eles se sentem no mundo real– eficientes.
Era quase como se todos esses jovens descontentes estivessem � espera de uma figura que, n�o tendo realizado nada na vida, fazia de conta que tinha realizado tudo; algu�m que, usando as ferramentas da fantasia, podia transformar sua derrota (no jarg�o do 4chan, "fail") em uma vit�ria ("win").
TRUMP
No livro "Fact�tum", de [Charles] Bukowski [publicado em 1975], o personagem principal, Hank Chinaski, termina num emprego que n�o � melhor que os anteriores, a n�o ser por um aspecto importante: o expediente acaba a tempo de ele e um colega, Manny, correrem para apostar em cavalos.
Logo os demais trabalhadores ficam sabendo do esquema e pedem a Hank que fa�a apostas para eles. A princ�pio, Hank se recusa. Ele n�o teria tempo para isso. Mas Manny tem um plano diferente.
"A gente n�o faz a aposta para eles, a gente fica com o dinheiro deles", diz a Hank.
"Mas e se eles vencerem?"
"Eles n�o v�o vencer. Eles sempre escolhem o cavalo errado."
Em pouco tempo, Hank e Manny est�o ricos, n�o por trabalhar por US$ 1,25 por hora ou por fazer apostas vencedoras, mas por pegar o dinheiro dos colegas e n�o apost�-lo.
Donald Trump, � claro, acumulou fortuna de forma parecida, com cassinos, cursos por correspond�ncia e concursos, arrancando dinheiro de trabalhadores que sonham virar milion�rios, vendendo o brilho e o glamour do sucesso a pessoas que, na linguagem de Trump, "n�o t�m vencido".
Como se tivessem vencido no passado m�tico que ele inventou, como se fossem vencer de novo no futuro, j� que o cerne de suas promessas � "voc�s v�o vencer tanto que v�o se cansar de vencer".
Em outras palavras, se queremos entender os partid�rios de Trump, devemos enxerg�-los como perdedores –pessoas que nunca apostam no cavalo certo.
Trump � o exemplo m�ximo disso, o homem obcecado pelos "perdedores" e que, tudo levava a crer, entraria para a hist�ria como um dos maiores perdedores de todos os tempos –at� que ele venceu.
Nesse sentido, � mais f�cil compreender a gera��o mais velha de apoiadores de Trump, o segmento pelo qual a imprensa mais se interessa, a chamada "classe trabalhadora branca esquecida", porque ela se enquadra no esquema de um eleitorado aos estilo dos anos 1950.
Aos "baby boomers" [gera��o nascida depois da Segunda Guerra Mundial] foram feitas promessas de pens�es e prosperidade, mas eles nunca receberam mais que as promessas. A narrativa � simples. Alguma coisa foi prometida aos trabalhadores, mas algu�m (os pol�ticos? A economia? O sistema?) nunca cumpriu o que prometeu.
Mas essa vers�o ignora um aspecto importante. N�o � que a promessa nunca tenha sido cumprida. A verdadeira hist�ria n�o � que o cavalo deles jamais ganhou, mas que sua aposta nunca foi feita.
Estamos acostumados a ver todos os pol�ticos brandindo o mesmo retrato desbotado de 65 anos atr�s sempre que voltam seu olhar para o eleitorado americano.
Mas, se colocarmos de lado essa velha fotografia, qual � a cara real do eleitorado americano? Ap�s d�cadas de decl�nio, como mudou aquela imagem de um pequeno empres�rio dos anos 1950 que tem sua casa pr�pria nos sub�rbios?
Para as gera��es mais jovens, que nunca tiveram os mesmos empregos, mas apenas a mitologia dos empregos, essa parte da narrativa � clara. A Am�rica, e talvez a pr�pria exist�ncia, � uma cascata de promessas e an�ncios vazios.
Assim, esses partid�rios de Trump t�m uma ideologia diferente. N�o um pensamento de "quando meu cavalo vai ganhar", mas um trollador e autodepreciativo "sei que meu cavalo nunca vai ganhar".
Os eleitores mais jovens de Trump sabem que entregam o dinheiro a algu�m que nunca vai fazer as apostas deles, porque, afinal, nunca houve alternativa.
Nesse sentido, o comportamento incompetente, err�tico e rid�culo de Trump � o pilar em que se apoiam seus partid�rios mais jovens.
Essa ideia –desesperan�a total e desdenhosa– � encarnada numa imagem mais do que em qualquer outra, em um personagem que ficou famoso e virou her�i de milh�es de pessoas, a voz de uma gera��o. Falo de Pepe the Frog.
SAPO
Quando a campanha de Hillary Clinton "explicou" que Trump usou o sapo Pepe como s�mbolo de �dio, parecia ser apenas mais uma bizarrice do desfile de horrores que foi a elei��o de 2016.
Como tantos outros memes, Pepe nasceu nos f�runs "aleat�rios" do 4chan por volta de 2007, tendo sido tirado de uma webcomic de Matt Furie para virar uma macro [imagem gerada por c�digo].
Por que ele foi escolhido? Sabemos que as a��es do 4chan n�o s�o sem sentido, aleat�rias ou vazias simplesmente por serem "trotes".
Visto com as lentes das pessoas que primeiro postaram o Pepe on-line, ele faz muito sentido. As p�ginas de quadrinhos das quais o sapo foi tirado mostram-no sendo flagrado fazendo xixi com as cal�as totalmente abaixadas e a bunda de fora. Surpreendentemente, ele n�o sente vergonha disso.
"� uma sensa��o boa, cara", ele diz a seu colega de quarto.
Esse habitante do p�ntano, grotesco, carrancudo, de olhos sonolentos, fora de forma e fazendo xixi com as cal�as abaixadas porque "� uma sensa��o boa" � uma ideologia –uma que afirma sem pudores sua pr�pria condi��o pat�tica.
Pepe simboliza a pessoa que abra�a a condi��o de perdedor, que a reconhece e a aceita. � uma cultura de desesperan�a, de saber que "o sistema � manipulado". Mas, em vez de combater tudo isso, a resposta � fugir. Saber-se preso nessa circunst�ncia � raz�o para festejar.
Para esses rapazes, votar em Trump n�o � uma solu��o, � uma pegadinha vingativa.
Hoje j� sabemos que Trump � engra�ado. Mesmo para n�s esquerdistas, que ficamos horrorizados a cada passo dele, Trump � hil�rio.
Rick Wilking/Reuters | ||
Candidatos � Presid�ncia dos EUA, Hillary Clinton (Democrata) e Donald Trump (Republicano), durante debate em Nevada |
Algu�m que � t�o autoconfiante se revelar escandalosamente incompetente em tudo que faz � –de um ponto de vista objetivo– ouro puro para a com�dia. Algu�m que acusa seus inimigos das falhas que ele pr�prio encarna naquele exato momento � material c�mico que vale ouro.
Mas, como a esquerda percebeu ap�s a elei��o, chamar a aten��o para a piada que � Trump n�o ajudava. Na realidade, sua natureza burlesca n�o parece ser uma desvantagem; pelo contr�rio, para seus apoiadores, � um trunfo.
Como a ideologia de Trump, o sistema de valores do 4chan � obcecado pela competi��o masculina (e a subsequente humilha��o quando a competi��o � perdida). Veja os termos que o 4chan inventou e que andam t�o populares entre alunos de escola prim�ria em todo lugar: "fail" e "win", "machos alfa" e "beta cucks" (cornos maricas).
Esse sistema � definido por sua inoc�ncia infantil, ou seja, pela inexperi�ncia do inventor com qualquer esp�cie de relacionamento amoroso na vida real. E, como Trump, esses homens ostentam suas inseguran�as de modo muito vis�vel, lan�ando esses insultos contra todo mundo em explos�es de raiva.
LABIRINTO
Trump, o perdedor, o "outsider", o incompetente, a piada pat�tica, encarna essa dualidade. Trump representa tanto o alfa quanto o beta.
Ele � uma pessoa bem-sucedida que, como a esquerda nota com frequ�ncia, � tamb�m o oposto: um perdedor grotesco, orgulhoso do status de "outsider", mas tamb�m sens�vel a isso, disposto a partir para o ataque � menor provoca��o, obcecado por si mesmo, ego�sta, negligente e t�o inseguro que sente necessidade de insultar mulheres.
Em outras palavras, parafraseando Truman Capote [no livro "Bonequinha de Luxo"], ele � algu�m com o nariz apertado t�o forte contra o vidro que parece rid�culo. Por essa raz�o (por saber que n�o tem subst�ncia), ele precisa constantemente reafirmar seu pr�prio ego.
Ou, como disse [o documentarista] Errol Morris, citando [o escritor Jorge Luis] Borges, ele � "um labirinto sem centro".
O que a esquerda n�o entende, entretanto, � que nada disso � um problema para os partid�rios de Trump. Pelo contr�rio, � a raz�o pela qual o apoiam.
Os eleitores de Trump votaram no vigarista, no labirinto sem centro, porque labirinto sem centro � como eles se sentem. Um labirinto sem centro � a descri��o perfeita do por�o da casa da m�e deles, com um terminal de computador a partir do qual mergulham numa sequ�ncia intermin�vel de mundos de fantasia escapista.
Os comportamentos bizarros, inconstantes, incompetentes, embara�osos, rid�culos de Trump, que a esquerda (naturalmente) enxerga como pontos fracos, s�o, para seus partid�rios, pontos fortes.
Em outras palavras, Trump � 4chan. Trump � Pepe. Trump � abra�ar a condi��o de perdedor. � o perdedor que ganhou, o sapinho pat�tico com corpo grande e forte.
Os empreendimentos de Trump representam essa fantasia: a esperan�a de que o homem trabalhador, contrariando as probabilidades, um dia vai enriquecer.
Trump tamb�m representa a consci�ncia de que isso tudo � uma mentira, uma engana��o muito mais velha do que voc�, uma fantasia na qual podemos habitar, embora, como um videogame, ela nunca v� se tornar realidade.
Trump encarna a aposta que, na verdade, nunca foi feita. Por isso, a esquerda deveria parar de esperar que os seguidores de Trump se frustrem quando ele deixar de cumprir suas promessas. Apoi�-lo � reconhecer o vazio da promessa.
Em outras palavras, podemos acrescentar uma terceira categoria �s duas que fazem parte da vis�o cl�ssica que se tem dos partid�rios de Trump:
1) Pessoas mais velhas que acreditam, ingenuamente, que Trump vai fazer a Am�rica ser grande outra vez, ou seja, lev�-la de volta ao ideal dos anos 1950 evocado tanto por Trump quanto por Hillary.
2) O 1% que sabe que essa promessa � vazia, mas tamb�m sabe que ela vai beneficiar seus interesses econ�micos no curto prazo.
3) Os membros mais jovens dos 99%, como os Anon, que tamb�m sabem que a promessa � vazia, mas apoiam Trump como express�o desafiadora de desesperan�a.
G�NERO
No ensaio "A Tale of Two Hipsters" (um conto de dois hipsters), mencionei o livro "The Hearts of Men" (os cora��es dos homens), de Barbara Ehrenreich, cr�tica feminista que discute como os pap�is de g�nero amarram e controlam os homens.
Ehrenreich descreve a nova posi��o inventada para os homens na Am�rica hipercapitalista do p�s-guerra, na d�cada de 1950. O sal�rio do homem e seu apartamento de solteiro vinculavam seu potencial de renda a seu papel como sedutor de mulheres.
Essa vis�o veio substituir uma ideologia anterior, mais conservadora, na qual o potencial de rendimentos do homem significava que ele tinha condi��es de sustentar mulher e filhos. Ehrenreich disse que esses dois esquemas ainda s�o as ideias que controlam o comportamento dos homens nos EUA.
Como ela aponta, apenas os hipsters conseguiram quebrar e destruir esse esquema.
Recorde os temas centrais do GamerGate: as mulheres representam o fracasso "beta" do Anon no capitalismo. O Anon n�o alcan�ou nem um, nem outro desses ideais: n�o � playboy com seu pr�prio apartamento de solteiro, nem � assalariado com mulher e filhos.
Mas foi essa dist�ncia entre expectativa ideol�gica e realidade cruel que o criou. O Anon habita um lugar que � o extremo oposto do apartamento de solteiro: o por�o da casa de sua m�e.
Agora podemos entender por que pouco tempo atr�s o 4chan declarou guerra a artistas e seus "safe spaces", procurando fechar locais de m�sica e artes em todo o pa�s.
Os artistas s�o pessoas jovens que vivem � margem da economia, tamb�m imersos numa fantasia rom�ntica. A diferen�a principal � que os artistas aprenderam formas diferentes de lidar com o problema. Em vez de residir nos por�es das casas de suas m�es, criaram maneiras de viver juntos em galp�es, pagando pouco.
Contrastando o 4chan com seu inimigo autoproclamado, seus antagonistas na contracultura, podemos ver que, embora eles sejam bastante semelhantes em termos demogr�ficos, diferem na quest�o espinhosa da namorada.
Os autodenominados machos "beta" do 4chan est�o encurralados nessa ideologia, odiando suas contrapartes, cuja diferen�a crucial � uma disposi��o, como a dos beatniks do passado, para rejeitar a "divis�o bin�ria de g�neros" e viver como bem entendem.
Em vez de enxergar nisso uma raz�o para desprezar ainda mais os Anons e sua misoginia, a esquerda deveria tomar os Anons/deplor�veis como um fracasso seu, uma deforma��o tremenda dos argumentos da pr�pria esquerda, que teve como resultado alienar o grupo de pessoas que mais poderia ser ajudado por suas ideias, sen�o o que mais poderia ser convencido.
Para os deplor�veis campanha, Hillary usou esse termo para se referir aos eleitores de Trump], cuja queixa central � de fragilidade masculina, orgulho e fracasso, negar sua identidade de homem � negar sua queixa. � um grupo que se define por sua falta de poder, por estar encurralado na derrota.
Para aceitar o ponto de vista da esquerda, teriam que admitir que o problema central est� em suas cabe�as. Ou seja, o ponto de vista da esquerda de que a diferen�a sexual � uma ilus�o � exatamente o que n�o querem ouvir. Eles n�o querem ouvir que se encurralaram nos por�es das casas de suas m�es.
A esquerda faz mais do que simplesmente declarar que o ponto de vista contr�rio est� errado: a ideia radical de o sexo/g�nero ser uma ilus�o nega a exist�ncia do ponto de vista dos deplor�veis. Para a esquerda, uma queixa derivada da condi��o de ser homem � vazia e se situa fora do �mbito do que ela reconhece como sendo a verdade.
A ironia � que a ideia radical de a diferen�a sexual ser ilus�o visa resolver o problema dos deplor�veis. Ela foi criada para libertar os oprimidos pelo conceito de diferen�a sexual, desfazendo-o como mera nuvem de puras ideias.
Para esses homens destitu�dos de poder, � como se a esquerda lidasse com o problema deles � la Orwell: "Seu problema n�o existe! Problema resolvido!".
Aqui, a no��o da diferen�a sexual enquanto ilus�o n�o est� cumprindo a tarefa para a qual foi criada. Ironicamente, ela acaba convencendo homens alienados de que o sexo/g�nero os marcou como uma esp�cie singular de "outsiders"/fracassados, que n�o podem ser aceitos nem sequer nas coaliz�es multiculturais que se definem pela capacidade de aceita��o.
Desse modo, o �dio virulento do 4chan aos "safe spaces" em que g�neros s�o fluidos, embora n�o seja justificado, pelo menos faz algum sentido perverso, um sentido envolto em orgulho masculino ferido.
Hannah Arendt, em seu livro "As Origens do Totalitarismo", pontua que o resultado inevit�vel de uma sociedade erguida em torno do ac�mulo intermin�vel de riqueza da classe m�dia � um homem reduzido "� condi��o de pe�a insignificante na m�quina de acumular poder, livre para consolar-se, se quiser, com pensamentos sublimes a respeito do destino final dessa m�quina, constru�da de forma a ser capaz de devorar o mundo, se simplesmente seguir a lei que lhe � inerente".
Essa imagem do homem como pe�a impotente no imenso rolo compressor da sociedade que avan�a, gira e estra�alha todos que se p�em no caminho n�o � nova.
Como observaram tanto Bernie Sanders como o fil�sofo Slavoj Zizek depois de Sanders perder as prim�rias, esquerda e direita s�o, em certo sentido, ideias ultrapassadas.
A nova divis�o na pol�tica � entre aqueles que s�o favor�veis � hegemonia global atual e os que s�o contra. Como os her�is de Hollywood, esquerda e direita v�m competindo para se tornarem esse novo partido radical contr�rio ao "status quo".
Por ora, a direita vem vencendo na Europa e nos EUA, deixando antever, como Arendt previu, que a impot�ncia gerada por sistemas burgueses de explora��o capitalista pode, de novo, implodir em totalitarismo de extrema direita.
Ocorre que a mensagem antifeminista da direita oferece um al�vio tempor�rio ("voc� est� agindo de modo poderoso, retirando-se para os videogames e a internet"), mas, a longo prazo, causa mais insatisfa��o, como quando se co�a o lugar de uma picada de mosquito. A �nica solu��o que a direita tem a oferecer � "continuem a se isolar".
Igualmente, Trump e a ang�stia cruel e zombadora que representa n�o s�o solu��o genu�na para a impot�ncia do eleitor. S�o apenas a solu��o mais pr�xima e f�cil.
Um adulto n�o emudece e fica em choque quando uma crian�a tem um ataque de raiva. Tampouco vemos essas explos�es emocionais como destitu�das de sentido.
A esquerda n�o deve ficar paralisada e em choque diante dos deplor�veis. Deve enxerg�-los como sintoma de um problema maior, que s� ela pode resolver.
DALE BERAN, 36, escritor americano, � autor de hist�rias em quadrinhos. O texto aqui publicado foi originalmente veiculado na plataforma Medium.
CLARA ALLAIN � tradutora.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade